O que pode sair de bom de uma coisa dessas? Nada. Nem os jornalistas nem
Bolsonaro estão dando a mínima para o interesse do público, adverte J.
R. Guzzo em sua coluna no portal Metrópoles. E eu concluo: mídia e Bolsonaro perdem com isso:
O presidente Jair Bolsonaro
está sendo acusado, com som e fúria, de ofender com expressões vulgares
e palavreado de baixo nível um grupo de jornalistas que o entrevistavam
– ou melhor, conduziam um interrogatório sobre suas intermináveis
polêmicas, que vão do filho-senador ao infinito.
Não é a primeira vez. Não deve ser a última, pelo alinhamento geral
dos planetas. Pode uma coisa dessas? Não pode. É simples, se você
começar pela verdade – e ficar nela. A primeira verdade é a seguinte: a mídia brasileira
em peso, dos donos de veículos à maioria dos jornalistas que trabalham
neles, detesta o presidente. O resultado mais óbvio disso, como até uma
criança de dez anos pode ver, é que tratam o homem muito mal.
A segunda verdade é que Bolsonaro não pode reagir à essa situação do
jeito que reage. Não pode e pronto. Ele é o presidente do raio da
República Federativa do Brasil. E quem está nessa função tem de se
comportar como um homem capaz de segurar os nervos, ficar frio e usar
mais a cabeça do que o fígado.
O presidente Bolsonaro, como já lhe disseram, ou alguém deveria ter
tido, não pode continuar se enrolando com os jornalistas desse jeito. Há
uma solução extremamente simples e eficaz para resolver a história de
uma vez por todas: Bolsonaro não deve mais, até o fim do seu governo,
falar com jornalistas nessas situações de arquibancada de futebol, com a torcida do time adversário de um lado e ele, o presidente da República, sozinho de outro.
O que pode sair de bom de uma coisa dessas? Nada. Nem os jornalistas
nem Bolsonaro estão dando a mínima para o interesse do público, que é
ser informado. Os primeiros não estão lá cumprindo “o dever de
informar”, etc. – estão lá para fazer o presidente dizer alguma
barbaridade que possa virar manchete. O segundo está lá para “ser
autêntico” e fazer feliz a sua plateia de devotos. O resto –
“imparcialidade profissional” de um lado, e “falar as verdades” de outro
– é pura hipocrisia.
Se parasse de se meter nessas entrevistas deliberadamente caóticas, o
presidente resolveria metade dos seus problemas com a imprensa. Ele
pode, perfeitamente, receber os jornalistas para entrevistas
organizadas, a intervalos regulares e marcados no calendário, com todo
mundo sentado, uma pergunta por vez, regras para os dois lados – e tudo o
mais que é conhecido no resto do mundo, há décadas, para colocar ordem
na comunicação entre autoridade pública e imprensa.
É simples, não é? Por isso mesmo ninguém pensa em fazer nada disso.
Os jornalistas querem um ambiente de gritaria que vai render alguma
paulada em Bolsonaro. Ele, por sua vez, quer a mesma coisa, para manter
alto o moral da sua tropa. Se um não quer, dois não fazem, diz o
provérbio. No caso, os dois não querem.
É um cálculo duplamente equivocado. A mídia não ganha público.
Bolsonaro não ganha nenhum novo adepto além dos que já tem. Está apenas
falando aos convertidos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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