O fascismo, na sua conotação moderna, é tudo aquilo que rasgue a minha
fantasia progressista, desmascare o meu humanismo de butique e me impeça
de ganhar a vida fingindo salvar o mundo de um inimigo imaginário.
Coluna de Guilherme Fiuza, publicada pela Gazeta do Povo:
A escalada fascista é um sucesso e está em cartaz num discurso febril
perto de você. Mas você não sabia direito o que era fascismo e nós
explicamos aqui: fascismo, na sua conotação moderna, é tudo aquilo que
rasgue a minha fantasia progressista, desmascare o meu humanismo de
butique e me impeça de ganhar a vida fingindo salvar o mundo de um
inimigo imaginário – e eu aceito débito, crédito, dinheiro público e
privado, mas prefiro público, que não é de ninguém.
Agora que você já entendeu o que é fascismo, vamos explicar o que é
democracia. Existem várias formas de democracia – e a seguir
apresentaremos algumas delas:
Democracia é roubar o Brasil e ir fazer palestra na USP para intelectuais de cabresto;
Democracia é usar o filho como laranja para receber 132 milhões de
reais de empresa de telefonia (você não leu 132 mil, ok?) e investir no
seu sítio que não é seu – para depois se deliciar lendo pesquisas
arranjadas que dizem que você merece estar solto, porque afinal você é
um bom ladrão;
Democracia é fingir fazer jornalismo e passar um ano inteiro
escondendo indicadores de recuperação econômica – inclusive queda
consistente da inflação – para depois transformar o preço da carne em
tragédia nacional;
Democracia é se fantasiar de analista político para ficar panfletando
a favor do mais demagogo e sectário trabalhismo inglês, espalhando que
ele é a salvação contra o obscurantismo xenófobo protofascista – que por
sua vez só ganha eleição com manipulação de redes sociais;
Democracia é dizer que toda eleição vencida por candidato que
atrapalha sua narrativa hipócrita foi fraudada em conluio com a Rússia e
as tias do WhatsApp;
Democracia é produzir fake news em veículos tradicionais fingindo combater fake news em redes sociais;
Democracia é defender uma agenda liberal e jogar pedra em quem está
implantando exatamente essa agenda no país porque só serve se for feita
por você, pelo seu partido ou pela sua ONG, de forma que você possa se
beneficiar pessoalmente daquilo que você diz que é interesse público;
Democracia é tentar transformar o catastrofismo envernizado de uma
adolescente em coisa séria – para investir nessa vida boa de ficar
dizendo que Trump é belzebu e acusando todo mundo de tudo sem precisar
propor nada, muito menos trabalhar por alguém;
Democracia é ver um governo trabalhando duro – com resultados
consistentes – para libertar o povo do flagelo daqueles que sequestraram
o Estado e a liberdade e ficar perguntando pelo AI-5;
Democracia é sabotar a construção do presente evocando a boçalidade
do passado para viver eternamente como vítima profissional e herói de
coisa alguma;
Democracia é atacar sistematicamente o grande contingente de pessoas
comuns que se manifestam nas redes sociais em apoio às reformas
governamentais acusando-as de serem robôs;
Democracia é fraudar a representação da classe dos advogados, se
juntando aos que atropelaram a lei, para conspirar contra os que
flagraram e puniram a delinquência dos seus parceiros de politicagem;
Democracia é ser porta-voz de empreiteiro ladrão espalhando suas lamúrias por aí para ver se cola;
Democracia é fazer militância dentro do tribunal de contas censurando
e perseguindo de forma fútil os principais ministros do governo contra o
qual você quer panfletar, porque os seus padrinhos foram parar na
jaula.
Se após esse resumo ainda não estiver claro para você o que é
fascismo e o que é democracia, não se desespere: sintonize agora um
desses canais onde Gilmar Mendes era vilão e passou a herói no exato
momento em que deu o golpe na prisão em segunda instância, declarando
guerra a Sergio Moro. Ali você vai entender tudo sobre democratismo e
fascia – ou vice-versa.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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