Podemos discutir como se chegou ao predomínio da esquerda no corpo
docente das instituições de ensino superior, e como esse predomínio se
mantém; o que não se pode fazer é negar que o desequilíbrio existe.
Editorial da Gazeta do Povo:
Pessoas de punho erguido pedem “Lula livre” e cantam a Internacional,
hino ligado ao movimento comunista e que, por duas décadas, foi o hino
extraoficial da União Soviética. A cena foi presenciada não em algum ato
de desagravo a condenados no mensalão ou no petrolão, muito menos em
alguma manifestação diante do prédio da Polícia Federal em Curitiba,
onde o ex-presidente está preso por corrupção. Os protagonistas de tal
cena eram professores universitários, reunidos em Belém (PA) no fim de
janeiro e início de fevereiro para o congresso anual do sindicato que os
representa nacionalmente, a Associação Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior (Andes-SN).
Antes mesmo do evento, no fim de 2018, já circulava um documento em
que a entidade ataca o governo de Jair Bolsonaro, classificado como
“protofascista e entreguista e de extrema-direita”, e defendia uma série
de pautas da esquerda, como o combate às reformas de ajuste fiscal,
especialmente a da Previdência, e às privatizações. A libertação de Lula
também está na pauta, além da “campanha urgente contra a direita,
através da proliferação dos comitês de luta contra o golpe e contra os
fascistas”, mostrando que os docentes ainda não superaram o impeachment
de Dilma Rousseff, que levou a uma série de “cursos sobre o golpe” em
universidades federais. Naquela ocasião, ficou evidente que o objetivo
de tais cursos e disciplinas não era estudar os acontecimentos de 2016,
mas impor um determinado ponto de vista sobre a cassação de Dilma.
Até que ponto as cenas do congresso dos professores em Belém, assim
como o teor do documento que já havia sido divulgado em dezembro, são
representativas do estado geral da docência universitária? Por um lado, o
evento reúne delegados que foram escolhidos pelos seus pares. Quem pede
“Lula livre” em Belém foi eleito por outros que certamente pensam o
mesmo. Mas também sabemos que, felizmente, nem todos os professores
universitários compartilham do amor dos delegados do congresso da Andes
pelos regimes de esquerda, que tanta miséria trouxeram onde quer que
tenham sido implantados. É perfeitamente possível que parte
significativa dos docentes que divergem da esquerda acabe nem
participando da vida sindical; uma decisão legítima, mas que tem o lado
negativo de deixar a militância política reinar livre, sem contestação,
nesses ambientes.
No entanto, há outro aspecto que permite supor que há um
desequilíbrio patente dentro da docência: as vinculações políticas,
partidárias e ideológicas de um sem-número de reitores. A Gazeta do Povo
lembrou que 17 reitores e vice-reitores assinaram carta de apoio a
Fernando Haddad na eleição de 2018; há reitores filiados a partidos
políticos de esquerda e extrema-esquerda, como o PSol – o caso mais
célebre é o do reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Roberto
Leher, que aparelhou sua equipe com militantes da legenda.
O único meio de se chegar ao comando de uma universidade pública é
aparecer em uma lista tríplice, resultado de eleições promovidas dentro
da comunidade acadêmica, em que, pelo menos em tese, o maior peso (70%) é
concedido aos professores – regra, aliás, que faz muito sentido, dada a
importância do corpo docente na prestação do que é a razão de ser da
universidade. Tradicionalmente, o mais votado acaba escolhido para o
cargo. Ora, se os professores, em um pleito no qual também os não
esquerdistas têm interesse em votar, colocam no primeiro lugar das
listas tríplices candidatos com esse perfil, pode-se concluir que o
eleito é um reflexo bastante fiel da maioria dos eleitores.
Podemos discutir como se chegou a esse predomínio da esquerda no
ambiente docente universitário brasileiro. É possível que tenha havido
uma confluência involuntária de pessoas com os mesmos pontos de vista;
há a tese de que a universidade foi a “válvula de escape” oferecida pela
ditadura militar à esquerda, para desidratar o terrorismo armado contra
o regime; pode até mesmo ter havido, em algum grau, um movimento
articulado, segundo os preceitos do marxista italiano Antonio Gramsci.
Podemos, ainda, discutir como esse predomínio se perpetua – e existe a
chance de a dinâmica atual dos concursos públicos colaborar para esse
cenário. O que não podemos, de forma alguma, é negar o fato sociológico
de que existe, sim, uma desproporção absurda no ambiente universitário
em favor da esquerda.
Esse tipo de homogeneização político-ideológica nas universidades é
prejudicial para a própria instituição e uma negação de sua essência,
que é a construção do conhecimento por meio do debate de ideias. A
captura ideológica da universidade, por qualquer grupo, é um desserviço à
educação; ela priva o estudante do contato com muitas das ideias que
ajudaram a forjar o mundo e dificulta-lhe o direito de pensar por conta
própria. Por isso, é preciso, como primeiro passo, que a sociedade
reconheça que o problema existe e que ele merece atenção. Só assim será
possível encontrar meios de restaurar a pluralidade no ensino superior,
com soluções vindas da própria sociedade que respeitem plenamente a
liberdade de cátedra, a autonomia universitária e o direito de defender
as ideias das quais discordamos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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