Os maiores partidos do Brasil estão fora dos comandos da Câmara e do
Senado simultaneamente pela primeira vez em mais de 30 anos, desde a
redemocratização do país. Reportagem da Gazeta do Povo:
As vitórias de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) nas
disputas pelos comandos da Câmara e do Senado não indicaram apenas o
avanço do DEM, que passou de partido “quase extinto” durante os governos
petistas a manda-chuva no Congresso Nacional. Os triunfos confirmam a
perda de protagonismo dos três maiores partidos do Brasil – MDB, PSDB e
PT – no Congresso. As legendas, que historicamente deram as cartas na
política nacional desde a redemocratização, foram relegadas a um segundo
plano – condição que, possivelmente, terão que aguentar por um bom
tempo.
A situação é inédita. Nunca houve, no Brasil pós-1985, um momento em
que nem Câmara e nem Senado estiveram sob o comando dos “três grandes”. O
tombo é ainda maior porque, na Câmara, os partidos não obtiveram nenhum
cargo sequer na mesa diretora – a eles, restaram apenas suplências. No
Senado, o PSDB ficou com a primeira vice-presidência, com Antonio
Anastasia (MG), e o MDB, com a segunda-secretaria, ocupada por Eduardo
Gomes (TO). O PT, novamente, foi reduzido a uma suplência.
O panorama no Congresso reflete o resultado das urnas. As eleições de
outubro materializaram o desejo de mudança por parte dos brasileiros, o
que se viu principalmente com o PSL. O partido do presidente Jair
Bolsonaro, que era insignificante na política até o ano passado, passou a
ser um gigante no Congresso Nacional – e ocupando espaços que, entre
outros, pertenciam aos “três grandes”.
O total de deputados federais eleitos por cada um dos partidos traduz
o quadro. O PT, embora tenha formado a maior bancada, elegeu 12
deputados a menos do que em 2014 (56 a 68). O MDB recuou de 66 para 34
parlamentares. Já o PSDB foi de 54 para 29 – patamar que deixou o
partido com uma bancada menor do que as de legendas como PR e PRB,
historicamente inferiores aos tucanos.
Na eleição presidencial, PSDB e MDB foram meros figurantes, com as
candidaturas, respectivamente, de Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles. O
PT foi ao segundo turno, com Fernando Haddad, mas teve sua pior
votação, em termos proporcionais, na história da fase decisiva das
disputas presidenciais.
Um entre vários
Ex-senador e presidente do PSDB entre 2001 e 2003, José Aníbal (SP)
afirmou que o partido, hoje, está numa faixa “pouco confortável” dentro
do jogo político do Congresso Nacional. “Na Câmara, há os dois
principais partidos, PT e PSL, e depois um grupo de uma série de
partidos com cerca de 30 deputados. É onde estamos hoje. Uma condição
pouco confortável”, declarou.
Segundo ele, o partido precisa passar “por um processo de
revitalização”. O diálogo com novas lideranças, para o ex-senador, é
“questão de sobrevivência”.
O partido tem visto o declínio de suas principais lideranças
históricas. José Serra (SP), candidato a presidente por duas ocasiões,
exerce atualmente um discreto mandato como senador e já não se posiciona
mais como referência nacional do partido. Geraldo Alckmin (SP)
fracassou na empreitada presidencial e tem futuro político incerto.
E o presidenciável tucano que mais passou perto de ocupar o Palácio
do Planalto recentemente, Aécio Neves (MG), caiu em desgraça após
acusações de corrupção e teve que voltar a se posicionar como um
deputado federal de baixo clero. O principal vitorioso do partido na
eleição de 2018 foi o governador de São Paulo, João Doria – mas seu
triunfo se deu com uma espécie de desprezo às tradições do partido, o
que se viu com a entusiasmada adesão dele ao projeto de Jair Bolsonaro,
batizada de “bolsodoria”.
“Nossas propostas eram boas. O PSDB é um partido reformista, e eu
espero que demonstre isso de forma muito eloquente agora, em que se vai
começar a discutir reformas. Mas perdemos muito o discurso na questão
ética, na questão de uma autocrítica. A sociedade não quer apenas que
você reconheça que errou, quer que você reconheça e aja dando sentido ao
erro que você admitiu: punindo, evoluindo, mostrando que o compromisso é
sobretudo com a cidadania”, apontou Aníbal.
Gigante excluído
Já a saída do MDB do comando das duas casas do Congresso se deu de
forma tumultuada. No Senado, o partido tinha Renan Calheiros (AL) como
favorito e acabou por protagonizar brigas que prejudicaram ainda mais a
imagem da legenda – primeiro a disputa interna entre Renan e Simone
Tebet (MS), e depois o mais do que controverso processo de votação para a
presidência da Casa, com suas idas, vindas, adiamento em um dia e a
final vitória de Davi Alcolumbre.
Na Câmara, o partido apostou em Fábio Ramalho (MG), que ocupava a
vice-presidência da Casa e buscava a vitória tendo como principal trunfo
o bom relacionamento com os demais parlamentares – relacionamento
turbinado pelas festas e quitutes que se tornaram a sua marca
registrada.
O deputado Rogério Peninha Mendonça (SC) minimiza o fato de o MDB
estar excluído da Mesa Diretora da Câmara. O parlamentar acredita que o
partido será contemplado com comissões de expressão dentro da Casa e
“poderá fazer um trabalho ainda mais significativo do que se estivesse
com alguma vice-presidência ou secretaria”.
O futuro da legenda, no entanto, preocupa Peninha. Ele também defende
que a sigla passe por uma renovação. “Se o MDB continuar sendo
comandado por [Romero] Jucá, Renan e Eunício, a tendência é realmente
complicada. Nós precisamos ter nomes novos, nomes respeitados pela
comunidade que possam dar uma boa visibilidade ao partido, e não uma
visibilidade negativa”, declarou.
Peninha é autor de um projeto de lei que revoga o Estatuto do
Desarmamento, uma das propostas mais caras ao presidente Jair Bolsonaro.
Esquerda combalida
O PT, embora tenha perdido em 2018 sua primeira eleição presidencial
em vinte anos e tenha visto a consagração de seu principal adversário
político, não foi tão diminuído quanto PSDB e MDB. O partido conseguiu
fazer a maior bancada da Câmara e busca se consolidar como a principal
frente de oposição a Jair Bolsonaro.
A meta dos petistas é a de unificar – ou, no mínimo, minimizar as
diferenças – a esquerda nacional. Na eleição para a presidência da
Câmara, o partido se aliou ao PSOL, que nasceu de uma dissidência sua e
sempre se posicionou como “oposição à esquerda” dos governos petistas.
“Nós queremos ampliar esse bloco [de esquerda] da melhor maneira
possível. Estamos preparados para o enfrentamento. Não apenas o
enfrentamento dos que querem retirar direitos, mas no combate à bancada
fundamentalista”, disse a deputada federal Erika Kokay (PT-DF).
A meta do partido, no entanto, esbarra em questões práticas. O
processo de eleição para presidente da Câmara gerou uma grande fissura
entre o bloco encabeçado por PT e PSOL e um outro grupo representado por
PCdoB e PDT, que apoiaram a reeleição de Rodrigo Maia. As mobilizações
dos campos motivaram declarações inflamadas de todos os lados, e vieram
até mesmo da ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), que em 2018 foi
candidata a vice-presidente na chapa do PT.
A deputada Kokay disse que o episódio não retirou do PT a meta de
contar com PDT e PCdoB na oposição a Bolsonaro. A parlamentar, no
entanto, criticou as declarações recentes do ex-presidenciável Ciro
Gomes (PDT), que lançou mão da frase “o Lula tá preso, babaca!”,
introduzida por seu irmão Cid ainda na corrida eleitoral do ano passado e
que desagradou petistas.
“Essas declarações indicam que o ex-candidato Ciro não está entendendo os riscos que corremos”, afirmou.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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