Artigo de Og Leme, um dos fundadores do Instituto Liberal do Rio de Janeiro:
Sim, o liberalismo é uma utopia no mesmo sentido em que o norte da
bússola é uma utopia ou o cristianismo é uma utopia. O caminhante que,
confiante em sua bússola bem calibrada, desejar viajar em direção norte,
pode estar tranquilo: esse será o seu rumo.
Isso não significa, entretanto, que esse caminhante chegará algum dia
a um lugar chamado norte. Significa apenas – o que não é pouco! – rumo
correto, mas não certeza de destino final que, no caso, equivaleria à
volta ao Éden, que afinal tornaria tudo monótono e insípido demais.
O liberalismo não promete o Paraíso, uma sociedade perfeita, cheia de
benefícios e isenta de custos. Promete, isto sim, a melhor alternativa
de que é capaz a imperfeita ação humana. E ainda não houve ação humana
capaz de oferecer algo melhor.
O Prêmio Nobel James Buchanan tem a resposta: “Socialism is dead, but
Leviathã lives on”. “O socialismo morreu, mas o Leviatã continua vivo”.
Isto é, a experiência real do socialismo foi um grande fracasso, mas o
seu espírito continua vivo, manifestando-se com a mutabilidade dos
vírus, ora na pretendida defesa do meio ambiente, ora com a inspiração
mercantilista dos que buscam proteger “o nosso” contra “o deles” ou como
distributivistas que, na realidade, não passam de assaltantes dispostos
a tirar de algumas pessoas para dar a outras.
Buchanan está coberto de razão: o socialismo real se afogou em sua
própria insensatez. Mas, lamentavelmente, continua viva a insana ideia
de que as “falhas de mercado” devem ser substituídas pelos iluminados
“acertos do governo”. Constitui excesso de arrogância intelectual e
cegueira histórica pretender melhores decisões do que os milhões de
agentes econômicos privados que estão permanentemente a realizar trocas
entre si no seio do mercado.
O futuro da humanidade depende da nossa capacidade de acreditarmos
que as falhas de mercado custam muitíssimo menos do que os “acertos” do
governo.
Nota: Artigo retirado do livro de crônicas Og Leme, um liberal, editado pelo Instituto Liberal em 2011.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário