MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

1968, de Zuenir Ventura a João Moreira Salles, um ano que não termina nunca


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Documentário relembra a agitação de 1968
Pedro do Coutto
O ano de 1968 foi marcado por fortes impactos políticos, os quais, ao longo do tempo, ingressaram na história do Brasil e também na história universal. 1968, em nosso país, registrou a morte do estudante Edson Luís no restaurante do Calabouço, além de uma evolução de poucos precedentes em regimes ditatoriais do passado. Em dezembro de 68, o Presidente Costa e Silva assinava o Ato Institucional nº 5, no Palácio das Laranjeiras, no Rio, acolhendo com seu gesto a frase do ministro Jarbas Passarinho, destacada na reunião ministerial, que aconselhava o General a mandar às favas todos os escrúpulos da consciência.  Essa frase, na realidade, tornou-se o epitáfio da ditadura militar.
Sobre 1968, o jornalista Zuenir Ventura escreveu uma obra eterna condenando da ditadura exaltando a liberdade: “1968, o ano que não acabou”.  A meu ver, o livro será eternizado na memória brasileira e na literatura de obras de não ficção.
EDSON LUÍS – Em 1968, também em protesto contra a morte de Edson Luís, desencadeou-se a passeata e o comício dos 100 000, da Avenida Rio Branco ao espaço que separa o Teatro Municipal e o Palácio Pedro Ernesto. Os líderes eram Vladimir Palmeira, Franklin Martins e o marinheiro e estudante de Direito Elinor Brito. Na névoa do tempo, Vladimir elegeu-se deputado federal e depois desistiu da política.  Franklin Martins tornou-se ministro da Comunicação do primeiro governo Lula. De Elinor Brito não tenho notícias.
Também em 1968, enquanto os protestos se acumulavam no Brasil e a repressão aumentava, em Paris, governo De Gaulle, os estudantes da Sorbone foram às ruas defender e, ao mesmo tempo, exigir reformas para que se combatesse as desigualdades sociais. Aí entra o filme de João Moreira Salles, “No Intenso Agora”, em exibição em cinemas do Rio. O filme, à medida que os dias passam, vai se tornando um documento excepcional de uma era em que, num primeiro lance, estudantes e operários da Renault uniram-se numa série maciça de protestos pelas ruas de Paris.
UM DOCUMENTO – Várias etapas do movimento, projetadas em sequência, tornam o filme também um documento histórico também importante. Aliás, triplamente importante: primeiro a manifestação conjunta de estudantes bastante cultos e operários; segundo, o recuo dos operários diante do aumento salarial que lhes foi oferecido e destinado pelo poder gaullista. Uma lição que levanta a certeza de que o interesse econômico suplanta a emoção ideológica.
Na emoção ideológica não faltou a presença de Jean Paul Sartre dialogando com o líder do movimento Cohn Bendit sobre questões existenciais envolvendo o poder e as ruas francesas. A tomada de Paris terminaria assinalando a derrota dos estudantes. Mas também a de De Gaulle que, em 1969, renunciaria à presidência após ter derrotado nas urnas um plebiscito sobre uma reforma do ensino.
EM PRAGA – Enquanto isso, na antiga Checoslováquia, desencadeava-se a invasão de tropas soviéticas contrárias à abertura democrática do primeiro ministro Dubcek. A reforma comunista que ficou no sonho passou à história como a primavera de Praga.
Foram episódios que explodiram as esperanças de uma alvorada de reformas. A esperança sempre terá um lugar de raro destaque na história. Sem ela a vida humana perde sentido.
Já que estamos falando de história, em seu tradicional espaço no O Globo e Folha de São Paulo, edições deste domingo, Elio Gaspari informa que o historiador americano R. S. Rose vai lançar uma biografia de Filinto Muller, o odiado Chefe de Polícia da ditadura Vargas, mais tarde Senador pelo PSD de Mato Grosso. Sobre Filinto Muller, existe o livro escrito por David Nasser, “Falta Alguém em Nuremberg”, tribunal que julgou e condenou criminosos de guerra do nazismo.
FILINTO MULLER – Vale acentuar uma informação para corrigir um equívoco que constantemente é relatado a respeito da presença política do Chefe de Polícia no Estado Novo. Ele não caiu com Vargas em 29 de outubro de 45.
Foi demitido três anos antes, em 42, no episódio da passeata da UNE defendendo o ingresso do Brasil na Guerra  contra Hitler e Mussolini, o eixo nazifacista. Submarinos alemães tinham afundado vários navios brasileiros. O Presidente da UNE era Helio de Almeida, mais tarde ministro dos Transportes do governo João Goulart. Helio de Almeida pediu autorização a Filinto Muller para a passeata. Filinto negou. Hélio de Almeida decidiu recorrer ao ministro da Justiça, a quem Filinto Muller era subordinado.
LEITÃO DA CUNHA – Ao chegar ao edifício da Rua México deparou-se com o jovem diplomata Vasco Leitão da Cunha, que acabava de assumir o Ministério porque Getúlio Vargas havia demitido o jurista Francisco Campos. Era o sinal de que Vargas finalmente se decidia pelo alinhamento com Roosevelt e Churchil. Vasco Leitão da Cunha autorizou a passeata.
Filinto Muller foi entregar sua demissão a Vargas no Palácio do Catete. Era março de 42. Vargas aceitou imediatamente a demissão de Filinto.
A história não esqueceu Filinto Muller. Aliás, não esquece nenhum personagem de todas as épocas.
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