A Revolução Bolchevique
só deve ser lembrada para que nunca mais aconteça semelhante desgraça.
Editorial do Estadão, cheio de dedos em relação aos esquerdistas, órfãos
do monstro:
Não há o que celebrar
no centenário da chamada Revolução Bolchevique, de 25 de outubro. Em
nome da igualdade entre os homens, a população da Rússia se tornou
escrava dos desígnios de um partido que se dizia portador da verdade e
da história, e essa impostura se espalhou, nas sete décadas seguintes,
para vários outros países do mundo. O único legado realmente importante
desse movimento, além dos milhões de mortos que causou e da destruição
econômica que proporcionou, é a preciosa lição segundo a qual é possível
aniquilar a democracia apenas com boas intenções.
A sobrevida que a
ideologia bolchevique parece manter mesmo depois de inapelavelmente
derrotada em 1989, com a queda do Muro de Berlim e a posterior
dissolução da União Soviética, pode ser explicada justamente pelo fato
de que toca o coração da juventude a pretensão de acabar com as
injustiças do mundo como um ato de vontade. A crescente desigualdade
social e econômica e o atraso crônico de muitos países em que vigoram
formas degeneradas de capitalismo só ajudam a alimentar esse devaneio,
dando ares de alternativa viável ao que não passa de uma utopia
violenta.
Essa utopia foi tão
bem urdida que, mesmo com a distância de um século, ainda há quem
acredite na mistificação, criada pela propaganda do Partido Comunista da
União Soviética e reproduzida obedientemente por seus pares mundo
afora, segundo a qual o povo, em fervor revolucionário, foi o grande
protagonista dos acontecimentos de outubro de 1917. Em primeiro lugar, o
que se poderia chamar de revolução ocorrera não em outubro de 1917
(novembro, pelo calendário russo), mas em fevereiro daquele ano, quando o
czarismo deu lugar a uma república que se pretendia democrática. Em
outubro, os bolcheviques deram um golpe, derrubaram o governo provisório
e assumiram o poder. Nem de longe essa facção marginal do movimento
socialista poderia dizer que atuava em nome dos proletários russos.
Aliás, quando os bolcheviques dissolveram à força a Assembleia
Constituinte que os contrariava, o povo saiu às ruas para protestar e
acabou esmagado pela repressão que seria a marca do regime que apenas se
iniciava.
Antes de ser o
condimento de uma época de grandes antagonismos, a brutalidade era a
essência mesma do bolchevismo, sob a liderança de Lenin. E assim tinha
de ser, se o que se almejava era acelerar a história – pretensão de
qualquer movimento totalitário. Se Marx, profeta da revolução, havia
dito que o comunismo era a consequência natural das contradições do
capitalismo, então cabia à vanguarda revolucionária impedir de toda
maneira que esse processo fosse obstado pelos “inimigos do povo” –
expressão oficializada em novembro de 1917 pelo novo regime.
Assim, o “motor da
História”, conforme Lenin, era a violência das massas. O ambiente era
propício. A Rússia saíra economicamente exaurida da 1.ª Guerra Mundial,
situação que ampliou as rivalidades, dissolveu a autoridade do Estado e
gerou o clima de guerra civil que afinal eclodiria logo após o golpe. O
alvo da ira popular, especialmente entre os soldados de origem
camponesa, não era mais o alemão, mas o russo rico que explorava os mais
pobres.
Lenin entendeu que
ali estava a chave para o sucesso do novo regime, ao escrever que “a
essência do trabalho bolchevique” era “visar à transformação da guerra
imperialista em uma guerra de classes, em uma guerra civil”, de modo a
“purificar a terra russa de todos os insetos nocivos”. Estava
estabelecida, como política de governo, a cultura da violência política –
os gulags, as execuções em massa, as deportações, os julgamentos
falsos, tudo isso passou a ser justificado em nome do triunfo da
revolução contra o “inimigo”, que está em todo lugar e pode ser qualquer
um.
Assim, é importante
aproveitar essa efeméride para reiterar o verdadeiro espírito da
Revolução Bolchevique, que de nenhuma maneira pode ser confundido com os
legítimos ideais da esquerda democrática, cuja contribuição para a
construção da cidadania e para a inclusão social é inegável. A
propaganda comunista pretendeu consolidar a ideia de que sua revolução
era um desdobramento inevitável da história, mas felizmente hoje há cada
vez menos gente disposta a defender essa fraude.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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