Quando escrevi este
post, em março de 2006, o MST destruía laboratórios de empresas e
universidades. De lá pra cá, nada mudou. O exército de Stédile continua
tão destrutivo quanto sempre - e seu dirigente jamais foi preso pela
violência cometida contra propriedades e pessoas. Marcuse é um dos pais
do chamado "marxismo ocidental", de onde vem o que, hoje, denominam
"marxismo cultural", atualizado com a doutrina politicamente correta.
Segue o texto:
Em tempos de devastação
de laboratórios de pesquisa científica, como o encabeçado pela
organização internacional Via Campesina, à qual pertence o MST, convém
lembrar um certo filósofo de linhagem frankfurtiana que, nos anos 60/70,
inflamava os campi universitários franceses e norte-americanos exatamente contra a ciência e a técnica, que denominava “burguesas”.
O nome dele é Herbert
Marcuse (1898-1979). Fugiu para os EUA na ascensão do nazismo na
Alemanha, assim como outros membros da chamada Escola de Frankfurt
(entre eles Adorno e Horkheimer, que escreveram um texto contra a
“Indústria Cultural” muito apreciado em certas áreas de conhecimento).
Sua obra mais famosa, O homem unidimensional, foi aqui traduzida como A ideologia da sociedade industrial e arruinou algumas cabeças.
Pois bem, Mr. Marcuse,
inimigo do capitalismo e hegeliano furioso na juventude, já na época
condenava também o socialismo (URSS) precisamente por submeter-se ao
“aparato tecnológico”, à “racionalidade científica e tecnológica.” Com
isso, ensinava ele, havia “continuidade na revolução”. Cito um trecho:
No capitalismo
avançado, a racionalidade técnica está personificada, a despeito de seu
uso irracional, no aparato produtor. Isso não se aplica apenas às
fábricas mecanizadas, ferramentas e exploração de recursos, mas também à
maneira de trabalhar como adaptação ao processo mecânico e manuseio do
mesmo, conforme programado pela ‘gerência científica’. Nem a
nacionalização nem a socialização alteram por si essa personalização
física da racionalidade tecnológica; pelo contrário, esta permanece uma
condição prévia para o desenvolvimento socialista de todas as forças
produtivas.”
Em poucas palavras,
Marcuse queria uma ciência e uma técnica novas. Os soviéticos erraram
justamente por não destruir o “aparato tecnológico” e não iniciar uma
“nova ciência”, uma “nova técnica”, com a “Grande Recusa” do mundo
existente, expressão do “domínio burguês”. Pistas? Ele nunca forneceu.
É de se supor que, ao
destruírem centros de pesquisa científica, os neoluditas retardatários
da Via Campesina e do MST estejam abrindo caminho, aqui no Bananão, para
esse mundo novo sonhado pelo velho Marcuse. Afinal, ele considerava o
Lumpemproletariado - isto é, “o substrato dos párias e estranhos, dos
explorados e perseguidos de outras raças e de outras cores, os
desempregados e os não-empregáveis” – o legítimo portador da Grande
Recusa. A oposição nele encarnada “é revolucionária, ainda que sua
consciência não o seja”, pois ela “atinge o sistema de fora para dentro,
não sendo, portanto, desviada pelo sistema”.
Os explorados,
profetizava o filósofo, violam as regras do jogo e, ao fazê-lo, “revelam
as regras de um jogo trapaceado.” A força deles “está por trás de toda
manifestação política para as vítimas da lei e da ordem. O fato de eles
começarem a recusar a jogar o jogo pode ser o fato que marca o começo do
fim de um período.”
Portanto, se ele estiver certo, salve-se quem puder. O mundo novo é a volta ao obscurantismo.
OBS.: analiso a Escola de Frankfurt e o chamado “marxismo ocidental” na terceira parte de meu livro O declínio do marxismo e a herança hegeliana, Florianópolis, Ed. UFSC, 1999.
(A foto de Marcuse, que obteve cidadania norte-americana em 1940, está disponível no site oficial Herbert Marcuse Official Homepage).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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