MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Os herdeiros de Marcuse



Quando escrevi este post, em março de 2006, o MST destruía laboratórios de empresas e universidades. De lá pra cá, nada mudou. O exército de Stédile continua tão destrutivo quanto sempre - e seu dirigente jamais foi preso pela violência cometida contra propriedades e pessoas. Marcuse é um dos pais do chamado "marxismo ocidental", de onde vem o que, hoje, denominam "marxismo cultural", atualizado com a doutrina politicamente correta. Segue o texto: 


Em tempos de devastação de laboratórios de pesquisa científica, como o encabeçado pela organização internacional Via Campesina, à qual pertence o MST, convém lembrar um certo filósofo de linhagem frankfurtiana que, nos anos 60/70, inflamava os campi universitários franceses e norte-americanos exatamente contra a ciência e a técnica, que denominava “burguesas”.

O nome dele é Herbert Marcuse (1898-1979). Fugiu para os EUA na ascensão do nazismo na Alemanha, assim como outros membros da chamada Escola de Frankfurt (entre eles Adorno e Horkheimer, que escreveram um texto contra a “Indústria Cultural” muito apreciado em certas áreas de conhecimento). Sua obra mais famosa, O homem unidimensional, foi aqui traduzida como A ideologia da sociedade industrial e arruinou algumas cabeças.

Pois bem, Mr. Marcuse, inimigo do capitalismo e hegeliano furioso na juventude, já na época condenava também o socialismo (URSS) precisamente por submeter-se ao “aparato tecnológico”, à “racionalidade científica e tecnológica.” Com isso, ensinava ele, havia “continuidade na revolução”. Cito um trecho:

No capitalismo avançado, a racionalidade técnica está personificada, a despeito de seu uso irracional, no aparato produtor. Isso não se aplica apenas às fábricas mecanizadas, ferramentas e exploração de recursos, mas também à maneira de trabalhar como adaptação ao processo mecânico e manuseio do mesmo, conforme programado pela ‘gerência científica’. Nem a nacionalização nem a socialização alteram por si essa personalização física da racionalidade tecnológica; pelo contrário, esta permanece uma condição prévia para o desenvolvimento socialista de todas as forças produtivas.”

Em poucas palavras, Marcuse queria uma ciência e uma técnica novas. Os soviéticos erraram justamente por não destruir o “aparato tecnológico” e não iniciar uma “nova ciência”, uma “nova técnica”, com a “Grande Recusa” do mundo existente, expressão do “domínio burguês”. Pistas? Ele nunca forneceu.

É de se supor que, ao destruírem centros de pesquisa científica, os neoluditas retardatários da Via Campesina e do MST estejam abrindo caminho, aqui no Bananão, para esse mundo novo sonhado pelo velho Marcuse. Afinal, ele considerava o Lumpemproletariado - isto é, “o substrato dos párias e estranhos, dos explorados e perseguidos de outras raças e de outras cores, os desempregados e os não-empregáveis” – o legítimo portador da Grande Recusa. A oposição nele encarnada “é revolucionária, ainda que sua consciência não o seja”, pois ela “atinge o sistema de fora para dentro, não sendo, portanto, desviada pelo sistema”.

Os explorados, profetizava o filósofo, violam as regras do jogo e, ao fazê-lo, “revelam as regras de um jogo trapaceado.” A força deles “está por trás de toda manifestação política para as vítimas da lei e da ordem. O fato de eles começarem a recusar a jogar o jogo pode ser o fato que marca o começo do fim de um período.”

Portanto, se ele estiver certo, salve-se quem puder. O mundo novo é a volta ao obscurantismo.

OBS.: analiso a Escola de Frankfurt e o chamado “marxismo ocidental” na terceira parte de meu livro O declínio do marxismo e a herança hegeliana, Florianópolis, Ed. UFSC, 1999.

(A foto de Marcuse, que obteve cidadania norte-americana em 1940, está disponível no site oficial Herbert Marcuse Official Homepage).
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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