Coluna do jornalista Carlos Brickmann, publicada em vários jornais do país e surrupiada aqui via Chumbo Gordo:
Um sábio político
mineiro, Magalhães Pinto, dizia que política é como nuvem: você olha,
está de um jeito, olha de novo, está de outro. Ladroeira também. Há
surpresas todos os dias; e nunca é para mostrar que alguém foi
injustamente acusado de ser ladrão. Pior é que nem sempre é só ladrão.
Comecemos pelo
Ministério Público, o implacável (flexível só no caso da JBS): o
procurador da República Marcello Miller, braço direito de Janot, deixou a
Procuradoria e nos dias seguintes trabalhava com os advogados de
Joesley Batista. Já é estranho; mas surgiu uma gravação em que ele
analisa a defesa quando ainda deveria estar no ataque, na Procuradoria.
Vamos para Joesley.
Há fortes suspeitas de que sua delação premiada tenha sido sob medida:
esqueceu alguns crimes e valorizou outros. Caso sua delação seja falha,
perde os privilégios que obteve e pode ser julgado, como réu confesso,
pelas bandalheiras que revelou ter patrocinado.
Que gravação é essa
que surgiu de repente? Provavelmente foi feita por engano. Mas ficaria
enrustida se a Polícia Federal não tivesse obtido o áudio por outras
fontes. Só foi entregue, então, para que Joesley pudesse dizer que não
havia escondido nada. Mas mesmo assim é dinamite.
E a Polícia Federal
descobriu, no flat de um amigo de Geddel Vieira Lima, quatro caixas e
oito malas de dinheiro que aparentemente são dele.
Até escrever sobre essas coisas faz mal. Há ladrões em cada canto.
Verdade
Cada nova revelação transforma a ladroeira antiga em dinheiro de troco.
O cenário
Caso as falhas na
delação levem ao fim dos fabulosos privilégios dos Batista, ou de pelo
menos parte deles, que acontece com os denunciados? Há duas correntes:
uma, seguindo a Teoria da Árvore Envenenada (cujos frutos são
imprestáveis), suspenderia todas as ações iniciadas com base nas
denúncias; outra (à qual Janot se filia), acha que os maus delatores
podem ser punidos sem que suas revelações se percam. A imprensa tem
noticiado, erradamente, que esta ala defende o uso das provas trazidas
pela delação. Mas não há provas: há denúncias que devem ser verificadas e
confirmadas.
Por que, Janot?
Por que o Ministério
Público deixou a Polícia Federal fora do caso Joesley? Sem a Federal, a
investigação foi falha – tanto que de repente surge um áudio de quatro
horas que tira tudo do lugar. Por que Janot não iniciou processo contra o
presidente Michel Temer, quando sugeriu que poderia estar envolvido com
Joesley e Marcello Miller – e insinuou que o perdão aos irmãos Batista
foi generoso demais? Por que aceitou, sem reação, que Gilmar Mendes o
chamasse de desqualificado? Por que aceitou premiar a delação de
Joesley, quando a lei diz que chefe de quadrilha não pode ser
beneficiado? Joesley admitiu ter subornado 1.820 políticos, mais
procuradores, ministros e juízes Só pode ser chefe, jamais subalterno.
Cavalheiro, gentleman
Frase de Joesley, na
tal gravação, em conversa com seu diretor Ricardo Saud, referindo-se a
uma senhora que participava das negociações entre o grupo e o MP: “Já
falei para o Francisco (de Assis Silva, diretor jurídico da JBS), você
tem até domingo para comer a (nome da senhora). Se não, eu é que vou
comer. Francisco, é trabalho! Vou te dar até domingo que vem. Ou eu é
que vou fazer o serviço. Um de nós tem de botar ela na cama”.
Geddel vai às compras
Quando Antônio Carlos
Magalhães era presidente do Senado, mandou preparar um vídeo, “Geddel
vai às compras”, mostrando o crescimento dos bens do deputado. Mais
tarde, ACM se referiu a Geddel como “agatunado”. ACM era autoritário,
muito controvertido, mas conhecia tudo de política.
Geddel é acusado de
desviar R$ 20 bilhões do FI-FGTS – dinheiro de assalariados, que o
Governo usava para emprestar a empresas que criassem empregos. Tirar do
FI-FGTS é atingir a poupança popular dos dois lados.
Titular absoluto
O presidente Itamar
Franco chamava Geddel de “carrapato de gabinete”. Ele, efetivamente,
está sempre num bom gabinete: foi ministro de Lula e Temer, e
vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa com Dilma.
Mãe Dinah? Não, Gilmar
O ministro Gilmar
Mendes, do STF, acertou a primeira previsão: de que o MP poderia ter
problemas quando alguns de seus membros enfrentassem “uma montanha de
dinheiro”. Cita dois problemas: Ângelo Vieira (que foi preso) e Marcello
Miller. Agora, em suas palavras, faz mais duas “previsões oraculares”:
haverá inconsistências em outras delações, como as de Delcídio do Amaral
e de Sérgio Machado (da Transpetro); e Janot vai terminar como
Protógenes Queiroz – que, por ilegalidades cometidas na Operação
Satiagraha, foi condenado pela Justiça e escapou para a Suíça.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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