Partidos tradicionais
continuam desesperados com o avanço da Lava-Jato. E, claro, também com a
ascensão do empresário João Dória, "cuja
principal virtude é definir muito bem o seu lado: pelas reformas, pelas
privatizações, pela redução do Estado, contra Lula e o PT". Artigo de
Carlos Alberto Sardenberg (jornal O Globo):
O deputado Beto
Albuquerque, vice-presidente do PSB, saiu-se com esta preciosidade: as
reformas propostas pelo governo Temer são “devastadoras para partidos
que querem ter candidatos a presidente em 2018”.
Repararam? Não é que
as reformas sejam boas ou ruins para a estabilidade e o desenvolvimento
do país. Isso não interessa. Só interessa saber se as reformas ajudam ou
atrapalham o futuro candidato presidencial do PSB. E como há muitos
grupos de pressão contra a reforma, o PSB, embora sendo parte do governo
Temer, tendo ministério e cargos, declarou-se contra as propostas de
Temer. E não renunciou a nenhum de seus postos no governo.
Não pode haver demonstração mais explícita de fisiologismo — essa praga que trouxe a política brasileira ao ponto que está hoje.
Impressiona mais
ainda que políticos tão experientes não tenham percebido que essa
postura é de uma estupidez monumental. Ou, talvez, tudo isso indique que
estão desesperados.
Dito de outro modo: manobras como essa do PSB não têm chance de prosperar.
Primeiro, porque o
presidente Temer, que é do meio, sabe como lidar com esse pessoal. Por
exemplo: no começo do debate, o presidente despachou ministros e
economistas para convencer parlamentares sobre a necessidade das
reformas. Nestes dias, não mandou ninguém para argumentar com o PSB.
Simplesmente mandou dizer que o partido perderia cargos e sinecuras.
Foi o suficiente para
que boa parte dos deputados socialistas — socialistas! — voltasse para o
lado das reformas. Fizeram contas: manipular verbas e serviços do
governo pode gerar mais votos do que se manifestar contras as reformas.
Funcionou porque a
alternativa do PSB, uma vez demitido do governo, era cair na oposição
tipo “Fora Temer”, fora tudo, que sabidamente já está ocupada.
Ou seja, o PSB, aqui
usado como exemplo, porque vários outros partidos e políticos pensam da
mesma forma, entendeu que poderia se colocar da seguinte maneira: jogar
para a torcida organizada e votar contra as reformas, mas continuar no
ministério e nos demais cargos, oferecendo verbas, serviços e obras para
sua clientela. Achava que podia ganhar dos dois lados.
Perderam a noção.
Se as reformas
trabalhista e previdenciária, nessa ordem, não forem aprovadas, o
governo Temer acabou. Sem a modernização das relações trabalhistas, o
Brasil continuará sendo um dos países mais caros do mundo para quem quer
investir e ganhar dinheiro honestamente. Logo, não haverá retomada
consistente. Sem a reforma da Previdência, o setor público vai quebrar —
sim, pensem no Rio de Janeiro.
É verdade que o
governo federal tem mais instrumentos que os estaduais. Sem a economia
propiciada pela reforma da Previdência, Temer pode tentar, no desespero,
um forte aumento de impostos. Para isso, a turma da fisiologia estará
pronta. Esse pessoal adora mandar a conta para os contribuintes.
Mas as ruas impedirão esse aumento de impostos. O pessoal está farto desses políticos e desses impostos.
Sem dinheiro extra,
as contas públicas naufragam e afundam junto o país. Isso quer dizer o
seguinte: a dívida pública sobe de maneira explosiva; o governo só
consegue se financiar pagando juros de agiota; logo, o BC tem que voltar
a subir a taxa básica, aumentando os custos de financiamento de pessoas
e empresas; a economia desacelera por falta de investimentos e consumo;
não há geração de empregos; o governo arrecada ainda menos impostos; a
despesa continua aumentando porque não foram votadas as reformas.
Quebrado.
Mesmo que se consiga
um aumento geral de impostos, não vai adiantar. Pessoas e empresas não
vão pagar, porque ficarão diante da alternativa: pagar ao governo e
quebrar ou não pagar e tentar sobreviver.
A economia também não pode andar nesse ambiente.
Não, isto não é
terrorismo. É apenas a descrição do que já aconteceu em tantos países,
inclusive o Brasil, que cometeram os mesmos equívocos.
Mesmo, portanto, que o
PSB e outros conseguissem votar contra as reformas e permanecer no
governo, não adiantaria nada. A crise política e econômica — na
sequência da Lava-Jato — levaria ao limite o desprezo da população pelos
políticos e pela política partidária. Seriam todos eliminados, como
ocorreu na Itália, por exemplo.
Na verdade, essa
devastação pode ocorrer mesmo que o governo Temer consiga votar as
reformas. Os efeitos da Lava-Jato permanecerão no cenário.
Daí o desespero dos velhos políticos. Faz sentido.
Mas está claro que a
única chance deles, ainda que remota, é votar as reformas e colocar o
país numa marcha de recuperação econômica e social. Num ambiente mais
calmo, com algum crescimento, algum emprego, quem sabe o eleitor seja
mais tolerante.
Tomara que não.
E outra coisa. O nome
em ascensão é João Doria, cuja principal virtude é definir muito bem o
seu lado: pelas reformas, pelas privatizações, pela redução do Estado,
contra Lula e o PT.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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