Merval Pereira afirma,
em artigo publicado no Globo, que a greve se resumiu a parar o trânsito,
forçando a população a "aderir" involuntariamente. De resto, fica
provado que não há futuro para Lula e seu partido:
A greve de ontem, que
antes de ser “geral” foi mais um imenso protesto de sindicatos e
associações de classe, pode ter sido um sucesso do ponto de vista
classista, mas não houve indicações de adesão popular às causas
prioritárias do movimento, contra as reformas trabalhista e
previdenciária.
Não resta dúvida de
que a greve foi muito bem organizada, já que teve caráter nacional com o
mesmo modo de atuação: o segredo é bloquear os transportes. E para
fazer isso com eficiência, basta meia dúzia de militantes para fechar
avenidas e estradas. A dispersão organizada é melhor que a concentração
grandiosa em poucos pontos, e a Policia ainda ajudou ao não atuar
preventivamente para impedir os bloqueios.
Paralisar a vida
normal do país pode ter sido, no entanto, um tiro no pé, especialmente
devido aos atos de vandalismo. Ter que usar piquetes e violência para
impedir a ida ao trabalho e a circulação normal do transporte público, é
prova de fraqueza do movimento; é prova de que não tem adesão popular. A
ajuda dos black blocs só reforça essa sensação.
Não houve uma greve
espontânea, do povo revoltado que resolveu protestar, e sim de
sindicatos e de corporações que estão perdendo regalias nas reformas,
principalmente o fim da contribuição sindical obrigatória. Tenho a
impressão de que essa greve não vai influenciar as votações no
Congresso, e pode ter sido uma evidência de que os temas, embora
impopulares, não estão mobilizando a população tanto quanto as
corporações sindicais sinalizam.
Em todo lugar do
mundo reformas como a da Previdência ou a trabalhista provocam protestos
e greves, e somente um governo como o de Temer, que não tem objetivos
eleitorais após o término do mandato, pode se arriscar a concretizá-las.
Ao contrário, a base
parlamentar que o apóia no Congresso depende do voto popular para
manter-se na política, mas por uma dessas circunstâncias muito
características da política brasileira, eles dependem mais do sucesso
das reformas.
Caso não as aprovem,
principalmente a da Previdência, não há futuro para o governo Temer e,
conseqüentemente, também para eles. Já fizeram parte da base aliada dos
governos Lula e Dilma por razões nada republicanas, mas os abandonaram
para voltar a suas origens políticas.
É uma base liberal-
conservadora que não tem lugar em um projeto de governos esquerdista
depois que foi revelado o esquema de corrupção que sustentou essa
estranha simbiose.
Com algumas exceções
regionais, como é o caso de Renan Calheiros em decadência eleitoral em
Alagoas, a maioria dessa base parlamentar está mais bem acomodada num
governo conservador como o de Temer do que numa aliança com partidos de
esquerda que se sustenta à custa do puro fisiologismo.
A melhor aposta para
essa grande massa parlamentar é na melhoria da economia com um projeto
liberal, mesmo por que a alternativa da “nova matriz econômica” já deu
com os burros n’água.
Além do mais, há
outros fatores importantes nessa equação, um deles sempre presente é a
Operação Lava Jato. Na próxima semana haverá o novo depoimento do
ex-diretor da Petrobras indicado pelo PT Renato Duque, que se manteve
calado por quase três anos preso. Outro que em breve fará a delação
premiada é o ex-ministro Antonio Palloci, homem forte de Lula e Dilma.
Não há futuro
brilhante para o PT ou Lula, ou pelo menos jogar com essas cartas parece
mais arriscado do que manter a atual posição governista. Tudo isso, no
entanto, não torna fácil a aprovação de uma emenda constitucional que
exige pelo menos 308 votos em duas votações na Câmara e outras duas no
Senado, também com quorum qualificado.
O mais provável é que
o relatório sobre a reforma da Previdência seja apresentado na Comissão
de Constituição e Justiça no dia 8 de maio, e a partir daí o governo
avaliará qual o melhor momento para colocar o projeto em votação no
plenário.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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