O avanço da chikungunya em Minas pode estar num estágio ainda mais preocupante do que aponta levantamento recente. Segundo dados do Ministério da Saúde compilados de 1º de janeiro a 27 de março deste ano, o Estado só perde para o Ceará no número de casos suspeitos da doença.
O maior destaque é Governador Valadares, no Leste mineiro, que lidera o ranking nacional de notificações e apresenta registros cada vez mais preocupantes. As várias estatísticas divergem. No levantamento federal, a cidade tinha 3.074 casos até 27 de março. Já nos dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), eram 6.444 casos até a última segunda-feira. Agora, segundo a prefeitura local, já passa de 7 mil o número de pessoas possivelmente infectadas em Valadares.
O quadro levou a Secretaria Municipal de Saúde a abrir um Centro de Atendimento em Arboviroses (dengue, zika e chikungunya) que, nas últimas semanas, chegou a realizar uma média de 180 acolhimentos por dia.
Dados no Ministério da Saúde, compilados de 1º de janeiro a 27 de março, apontam 4.852 casos prováveis de chikungunya em Minas; o Estado perde apenas para o Ceará (8.250) em notificações; dentre as 20 cidades brasileiras com maior presença da doença, três são mineiras: Governador Valadares, Teófilo Otoni e Conselheiro Pena
A preocupação não para por aí. Segundo a pasta, o Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) apontou um resultado de 9,7% em janeiro e uma leve queda para 8,5% em março. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as faixas de segurança para risco de epidemia devem ser abaixo de 3%.
Para atender aos casos agudos e crônicos da doença, o município recorreu até mesmo a terapias orientais. Segundo a prefeitura, serão oferecidas à população práticas corporais chinesas que possuem alto potencial de resposta nas dores e deformidade articular, bem comuns nos quadros de chikungunya.
Sazonalidade
Ainda não há uma explicação clara para a explosão da doença no Leste do Estado. Porém, a SES diz que a situação pode estar ligada a fatores sazonais, já que a maior concentração de casos se dá de janeiro a abril.
“Apesar de sua sazonalidade, é preciso reforçar que são vários os fatores que influenciam para uma maior concentração no número de casos, como índice de chuvas, temperatura, população suscetível ao sorotipo do vírus circulante, desastres naturais, envolvimento variável da população de cada região na rotina de vistoria de suas casas, irregularidade no abastecimento de água, além de vários outros imensuráveis”, afirmou o órgão em nota.
Questionada sobre uma eventual relação entre o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, e o aumento das notificações de chikungunya em Valadares, a SES disse que “não poderia confirmar a informação”.
Evidências
Para o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Dengue, Zika e Chikungunya, Mauro Martins Teixeira, ainda não há explicações científicas para o salto no número de casos da doença na cidade do Leste de Minas.
“Esse surto, com certeza, não está ligado a questões climáticas. É uma doença que tem a ver com água parada e controle do lixo urbano. Em BH existem as mesmas condições de lá. O mosquito também está aqui e há pessoas suscetíveis ao vírus. Não há também evidência científica que faça ligação com o desastre de Mariana”, observa Teixeira, professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG.