O cenário é desalentador, escreve Percival Puggina. Há uma rebelião em curso: a dos escroques da República - escroques, diga-se, que os maus eleitores lá colocaram:
A um ano
e meio das eleições nacionais de 2018, o cenário é desalentador. Está
em curso a rebelião dos escroques da República. Em fileira cerrada,
ombro a ombro, bandoleiros da oposição e do governo avançam contra as
leis penais e eleitorais, qual gatos a livrar e lamber o próprio pelo.
As listas de Janot estão recheadas de nomes fortes para disputar vagas
no entrevero político do ano que vem. E só um intenso trabalho de
resistência às mudanças legislativas, de conscientização e informação
poderá prevenir os grandes riscos de que, por escabrosos meios, se
reproduzam os mandatos da Orcrim. Ao mesmo tempo, é paradoxal: se
entrevistado, o mesmo eleitorado que tenderá a reeleger os quadrilheiros
manifestará seu descontentamento com a representação política do país.
A cada
pleito, parecem brotar do ventre da terra, para se emaranharem nos
altares do poder, personagens cada vez mais interesseiros, mais
medíocres, menos honestos, menos comprometidos com o bem comum. Há quem
conclua, dessa observação, que a política seja exatamente a lavoura onde
se cultivam tais produtos e da qual nada melhor se haverá de colher.
Convido o
leitor para uma sincera análise dessa realidade. Quantos eleitores
trocam seus votos por dinheiro, rancho, jogos de camiseta, brindes,
favores concedidos, ou promessas feitas às respectivas instituições e
associações? Quantos votam por preferências clubísticas e esportivas?
Quantos se deixam sensibilizar por atitudes assistenciais como
distribuição de cadeiras de rodas, óculos, remédios e caixões de
defunto? Quantos são conduzidos pela publicidade ou pela presença na
“telinha” e nos microfones? Quantos votam contra algo ou alguém,
transformando a eleição num ato de ódio ou protesto? Quantos votam
catando do chão um “santinho” qualquer ou em alguém que lhe seja
indicado na boca da urna? Quantos votam porque o candidato é defensor
vigoroso de sua corporação? Quantos votam porque o candidato é vizinho,
amigo da família, manda cartões de Natal, conseguiu ou diz que vai
conseguir emprego ou bolsa qualquer? Ora, eleitores displicentes,
interesseiros e venais elegem, simetricamente, políticos omissos,
mercenários e corruptos.
Pelo
viés oposto, pondere comigo: quantos eleitores têm como exigências a
serem simultaneamente cobradas a formação moral e intelectual do
candidato, a imagem que construiu com sua história pessoal, seus
valores, sua dedicação ao bem comum, sua capacidade de influenciar e
liderar outros, suas idéias e propostas para o município, o estado e o
país?
Pois é,
pois é. Faltam-nos estadistas porque nos sobram votantes com péssimos
critérios. No produto dos escrutínios eleitorais, a quantidade de bons
políticos eleitos será, sempre e sempre, diretamente proporcional ao
número de bons eleitores.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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