O senador Renan Calheiros, ao querer aprovar, velozmente, o projeto voltado para punir magistrados e integrantes do Ministério Público por abuso de autoridade, provocou a indignação das ruas e arrastou, pelo redemoinho que se formou, o presidente Michel Temer e todo o governo. Envolveu igualmente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A reportagem de Simone Iglesias, Maria Lima, Bárbara Nascimento e Manuel Ventura, O Globo desta terça-feira, revela bem a dimensão do impacto.
No mesmo dia, em entrevista a Jorge Bastos Moreno, o secretário Moreira Franco deu sequência concreta à questão no campo político, ao afirmar que aprovar o abuso de autoridade constitui uma agressão à voz das ruas. A ministra Carmen Lúcia, presidente do Supremo, matéria de Evandro Éboli, partiu com vigor em defesa da democracia, assinalando que qualquer outra opção levaria à guerra. Isso tudo de um lado. De outro, o presidente da República defendeu a permanência de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda, e, ao mesmo tempo, foi cancelada exposição sobre economia para qual estava convidado Arminio Fraga, indicado pelo PSDB para o Ministério do Planejamento.
PIOR MOMENTO – Como num labirinto de espelhos, o momento não poderia ser pior para Michel Temer. Tentando alucinadamente escapar do processo e dos 11 inquéritos que existem contra ele no STF, Renan Calheiros conduziu o Palácio do Planalto a uma crise múltipla movida por diversas contradições e sobretudo vacilações e impulsionada pela forte e legítima reação popular.
Afinal de contas, quem poderá afirmar-se a favor do mar de corrupção que inundou o Brasil? Ninguém.
A liminar do ministro Marco Aurélio Mello, ao afastar Renan Calheiros da presidência do Congresso, sinalizou ser essa a vontade da grande maioria da Corte, deixada claro a partir da decisão da semana passada ao torná-lo réu em um dos processos existentes contra ele. Só Michel Temer não percebeu que situar-se ao lado do parlamentar por Alagoas seria um desastre. Tanto assim que não houve condições de verbalizar seu apoio, prefere permanecer no silêncio, quando o povo desejava ouvir a viva voz do presidente do país.
VACILANDO – Temer errou por omissão. Vacilou e não enfrentou o problema como o momento exigia. Moreira Franco assumiu a tarefa difícil na entrevista a Jorge Bastos Moreno. Mas as complicações tornaram-se convergentes. Não se trata apenas da emenda constitucional que limita o avanço dos gastos públicos, condicionando-os à inflação do IBGE presidido por Paulo Rabelo de Castro. Surge também em instante impróprio a reforma da Previdência Social.
O Planalto iniciou uma campanha publicitária nas redes de televisão. Incompleta. Não focaliza em momento algum a sonegação e os sonegadores. Fala em conter despesas, mas esquece a elevação da receita. Destaca o aumento da vida média dos brasileiros. Porém não se refere em momento algum ao crescimento do desemprego, quando sabem muito bem que o INSS arrecada sobre a folha de salários, tanto dos empregados quanto dos empregadores. A campanha é boa para a agência ou agências que as produzem e veiculam.
A atmosfera atual é fortemente adversa ao governo Michel Temer. Seu destino encontra-se sob risco. Precisa reencontrar o eixo de gravidade. Esta a questão essencial.
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