O achatamento da renda dos brasileiros, provocado pela crise econômica, agrava uma situação já dramática e faz aumentar o número de pessoas em estado de extrema pobreza no país. Dados do IBGE mostram que, se em 2014 este grupo representava 7,9% da população, em 2015, o percentual passou para 9,2%. O cenário poderá piorar ainda mais nos próximos anos com a política fiscal adotada pelo governo Temer, apontam especialistas.
De acordo com o levantamento divulgado ontem pela instituição, 17,8% da população ganhava até meio salário em 2015 e outros 30,3% ficavam na faixa de renda entre meio e um salário. Em síntese, 57,3% dos brasileiros ganham até um salário mínimo que, no ano passado, estava em R$ 788. O rendimento médio no país caiu 7,16% neste período, passando de R$ 1.368 para R$ 1.270. Esse é o menor valor desde 2011.
“Vivemos o reflexo do aumento do desemprego conjugado com a queda na renda. A pobreza é agravada porque quem sofre mais na crise são os trabalhadores menos qualificados e de baixa renda”, explica o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen.
Futuro
Especialistas defendem que o desmonte no Bolsa Família, aliado aos efeitos da PEC 55 – que limita os gastos do poder público pelos próximos 20 anos – no salário mínimo poderá empurrar os mais pobres para a miséria. Desde que o peemedebista assumiu a Presidência, 1,123 milhão de cadastros do programa assistencial foram cancelados ou bloqueados (dado de 7 de novembro de 2016).
“O governo propõe fazer o contrário do que seria certo neste momento recessivo. Com mais pessoas sofrendo as consequências da crise, é preciso que haja um aumento do assistencialismo”, observa a coordenadora do Centro de Capacitação e Pesquisa em Projetos Sociais da UFMG, Danielle Cireno Fernandes.
A socióloga explica que, mais do que um programa assistencial, o Bolsa Família ajuda a girar a economia, com a inclusão de brasileiros no universo do consumo. Dessa forma, há um fomento às vendas e, consequentemente, geração de empregos no comércio e na indústria.
Para Pedro Paulo Pettersen, “a PEC dos Gastos vai afetar diretamente a baixa renda porque, se o salário mínimo não subir na mesma proporção que subia antes, haverá agravamento da desigualdade social”.
“Acho que o governo tem um grande problema para resolver. De um lado, precisa mesmo cortar gastos. De outro, precisa fazer de uma forma que não afete o salário mínimo para que os mais pobres não sofram”
Mauro Rochlin
Professor de economia Fundação Getúlio Vargas

Realidade
Os números do IBGE reforçam o que já sofrem, na prática, brasileiros como José Félix da Silva, de 65 anos. A aposentadoria que ele recebe, de R$ 880, mal dá para o básico. “Pelo menos fome não passo, mas está cada dia mais difícil sobreviver. Um pacote de açúcar está custando R$ 12. Essa crise pegou a gente de jeito”, diz ele, que criou 15 filhos trabalhando como pedreiro.
Moradora da ocupação Rosa Leão, na divisa de BH e Santa Luzia, a dona de casa Liergy de Oliveira Silva, de 21 anos, sonha em ter o básico. “O que eu queria mesmo era asfalto na rua e piso no chão da minha casa”, conta. O marido dela está desempregado. “O Bolsa Família seria a salvação, mas a gente não consegue porque mora na ocupação”, lamenta.

Aumenta a população brasileira na extrema pobreza, e cenário pode piorar