O barco de Caronte é dos petralhas. |
Para começar, "coxinhas"
não defendem corruptos, enquanto os petralhas são símbolo do maior
escândalo de corrupção da história brasileira. Vejam, aliás, o que os
petralhas - com a cumplicidade da imprensa brasileira - fizeram no
exterior para denegrir o juiz Sérgio Moro. Percival Puggina acertou em cheio:
A mensagem me veio em
e-mail sobre o momento político e incluía esta convocação à unidade
nacional: "Coxinhas e petralhas, uni-vos!". O absurdo propósito tem dois
pressupostos:
1º) A denúncia da
Odebrecht, que acaba de vazar, abalou o governo Temer tanto quanto
estava abalado o governo Dilma por acasião do impeachment.
2º) Coxinhas e petralhas, estariam, agora, no mesmo barco, unidos por simétricos infortúnios.
Se é verdade que a
denúncia do ex-diretor da Odebrecht Claudio Melo Filho fez um enorme
estrago nos mais altos escalões dos partidos que se uniram pelo
impeachment de Dilma Rousseff, é absolutamente falso traçar qualquer
analogia entre a conduta pré ou pós impeachment de coxinhas e petralhas.
Enquanto estes cumpriam missão partidária, aclamando bandidos como
"heróis do povo brasileiro", fazendo uso de violência e depredações, os
coxinhas, em momento algum, emitiram som ou gesto em defesa de qualquer
corrupto, independentemente do partido a que fosse filiado. Justice for
all! Toda tentativa de apresentar os dois grupos como faces distintas de
uma mesma moeda é falsa como seria a moeda que o expressasse.
A melhor evidência do
que afirmo me veio pela edição de ZH desta segunda-feira, 12 de
dezembro, no relato de um leitor transcrito pelo jornalista Tulio Milman
em seu "Informe Especial", à página 2. O autor teve o privilégio de
comparecer à palestra proferida pelo juiz Sérgio Moro ao público que
lotou um auditório da Universidade de Heidelberg. Esclarece o autor que
palestrantes estrangeiros costumam atrair umas poucas dezenas de
interessados. Para o evento com presença do juiz brasileiro, porém, foi
necessário um auditório com capacidade para centenas de pessoas e muitas
ficaram de pé.
Interrompo
momentaneamente as referências ao relato do leitor de ZH para registrar
algo que estou pesquisando enquanto escrevo. Antecedendo o evento,
diversas personalidades enviaram mensagens à Universidade de Heidelberg
alertando para suposta falta de credibilidade do magistrado que estaria
empenhado em destruir o PT e proteger PMDB e PSDB. A KGB petralha
estivera em ação internacional.
A Rede Brasil Atual, por exemplo, se encarregou de divulgar isso,
no dia 9, afirmando que "Moro vai encontrar ambiente hostil na
Alemanha", pois intelectuais brasileiros estavam advertindo a
Universidade sobre as reais intenções de seu convidado. Eis, um
parágrafo que, de certo modo resume, em péssima redação, o espírito
petralha da matéria:
"Já houve uma série
de protestos em forma de documentos encaminhados aos anfitriões do
encontro, professores, alertando sobre quem eles estavam convidando".
"(...) claro, um alerta em termos, eles sabem quem é Moro, mas cartas
foram escritas alertando que o juiz não é um paladino contra a
corrupção, e sim um paladino contra um partido".
A imprensa
brasileira, reportando o evento, destacou a presença de manifestantes
portando cartazes com acusações de parcialidade ao magistrado da 13ª
Vara da Justiça Federal de Curitiba. O leitor de ZH, contudo - voltando a
ele - informa que eram uns poucos, cuja idade evidenciava não serem
membros do corpo discente da instituição anfitriã. E sublinha que mais
da metade do auditório aplaudira Sérgio Moro em pé, ao final de sua
consistente e firme apresentação.
Toda a trama
mentirosa contida nas matérias da sexta-feira se desfez no sábado. A
delação da Odebrecht, a "delação do fim do mundo", foi cuidadosamente
articulada na Lava Jato, sob as vistas do correto magistrado de
Curitiba. Em outubro, ele já advertira para as turbulências que dela adviriam. E de fato, a primeira a se tornar conhecida acertou em cheio aqueles a quem os petralhas diziam estar sob proteção do juiz.
Então, por obséquio:
coxinhas não são defensores de corruptos nem estão articulados com
qualquer projeto estilo KGB para destruir a reputação do principal e
mais eficaz combatente contra a corrupção em nosso país. Coxinhas não
embarcam com petralhas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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