Celso Arnaldo comenta a patética entrevista de Dilma a uma repórter da Folhona (via Augusto Nunes):
A mesma Natuza Nery
que noticiou hoje o nascimento de Agatha Rousseff e seu misterioso
dilmês ─ a linguagem assassina serial de ideias e raciocínios ─ revelou
ao mundo, em maio de 2013, a transformação da presidenta na comandanta
Dilma, quando a bordo do AeroLula. Numa matéria apoteótica publicada na
Folha em maio de 2013, Natuza revelou que a presidenta comandava o
Airbus da Presidência por meio de seus vastos conhecimentos de mapas
aeronáuticos. Segundo a jornalista, como Dilma detesta turbulências, ela
orientava o comandante da aeronave presidencial, um brigadeiro, a voar
em céu de…brigadeiro. Mudava rotas e altitudes para não deslocar um
milímetro do seu laquê. “Ela detesta quando o avião presidencial sacode
em pleno ar”, escreveu então a repórter, num simulacro do idioma de sua
personagem, sem explicar se seria possível o Airbus sacudir em pleno
chão.
Pois bem, na matéria
de hoje, Natuza resgata a mistificação da mídia que, um dia, fez de
Dilma uma leitora voraz, uma scholar compenetrada, uma colecionadora de
arte que acondicionava sua pinacoteca virtual num pendrive ─ a primeira
“penacoteca” do mundo. Entrevistando a senhora em seu apartamento de
Porto Alegre, a jornalista tem acesso à vasta biblioteca da mulher que
criou um idioma só para si. A repórter se impressiona com duas estantes,
repletas de livros ─ e então ficamos sabendo que, além da mandioca,
Dilma continua saudando a literatura que finge conhecer. “Eu queria
muito escrever um romance policial. Gosto muito. Li muito” – disse a ex
que dizia que, quando criança, hesitava entre o Corpo de Bombeiros e o
Corpo de Baile do Theatro Municipal.
A propósito de que
Dilma escreveria, se soubesse escrever, um romance policial?
Evidentemente, Dilma nunca o escreverá ─ como jamais escreveu nada, além
de broncas iletradas em ministras cujo nome ela rebatizou a seu modo.
E, se até hoje leu alguma coisa, Dilma certamente não absorveu nadica de
nada ─ o que é raro num ser humano alfabetizado. A existência de uma
devoradora de livros semi-analfabeta seria um enigma para os detetives
Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Maigret tentarem desvendar juntos –
antes que a elementar Agatha Rousseff se torne concorrente deles.
Ainda do papo de
Natuza Nery com Dilma: além da incomensurável, da chocante, da crescente
pequenez existencial e mental da ex-presidente acidental, que da
conversa resulta numa dona de casa assustadoramente medíocre para quem
comandou o Palácio do Planalto, me chamou a atenção o trecho da matéria
em que ela diz ter desenvolvido LER nos punhos por andar de bicicleta.
Perdoem minha ignorância de não-ciclista (um dos únicos do país,
presumo): segurar o guidão imóvel dá lesão de esforço repetitivo? O
esforço repetitivo maior de um ciclista não é nas pernas? De qualquer
modo, não deixa de ser uma metáfora cruel do impeachment: Dilma caiu
pelas pedaladas assinadas com o punho.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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