Aos gritos de “Fora PT” e “Temer presidente”, parlamentares do PMDB confirmaram ontem o desembarque do governo federal em reunião que durou três minutos, liderada pelo vice-presidente do partido, Romero Jucá (PMDB-RR).
A saída corroi a fraca base da presidente Dilma Rousseff (PT), que não conta mais com os principais pilares para sustentar o governo: a economia, a maioria nas casas legislativas e a força política do ex-presidente Lula.
Com a decisão sacramentada pelo PMDB, ministros peemedebistas se preparam para deixar os ministérios. As pastas já começaram a ser ofertadas a outros aliados que ameaçam pular do barco, como PR, PP e PSD.
Lula foi nomeado ministro da Casa Civil na tentativa de intensificar a articulação política e reconstruir a aliança abalada, mas sua designação foi bloqueada na Justiça, após desdobramentos da operação “Lava Jato”.
“O PMDB se retira da base do governo da presidente Dilma Roussef e ninguém do partido está autorizado a exercer qualquer cargo no governo federal. A decisão está tomada”
Romero Jucá (PMDB-RR), senador
Nem mesmo o esforço de Lula para tentar barrar o rompimento do PMDB surtiu efeito. No governo, a estratégia agora é trabalhar no varejo.
Ou seja, procurar os deputados e negociar espaço no governo, sem passar pelo partido. Serão ouvidos parlamentares do PMDB e de outras legendas que estão prestes a sair da base.
Em moção aprovada na reunião de ontem pelos peemedebistas, por aclamação, ficou acertado que nenhum filiado poderá exercer cargos em nome da legenda. Além dos seis ministérios, o PMDB detém postos de segundo e terceiro escalão.
Saída do PMDB
Em três minutos, comando nacional do PMDB decidiu abandonar o governo; ministros peemedebistas devem entregar os cargos até o próximo dia 12
Dilma precisa de 172 votos para barrar o impeachment na Câmara. Sem o PMDB – que conta com 69 parlamentares –, tem 91 deputados fiéis (PT, PCdoB e PDT).
Os usuários Twitter pediram ontem a renúncia do vice-presidente Michel Temer. A hashtag #RenunciaTemer chegou a ocupar o primeiro lugar nos assuntos mais comentados da rede social no Brasil
Governo
Antes mesmo de oficializar a saída do partido da base, o vice-presidente Michel Temer começava a articular um eventual governo de transição, formando alianças com partidos como PSDB e PSB.
O vice-presidente se reuniu nesta semana com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.
O encontro ocorreu no Palácio do Jaburu, onde Temer tem mantido uma série de conversas com lideranças partidárias nos últimos dias.
O presidente do PSB afirmou que a conversa tratou da “atual crise econômica e política”.
“Ele falou sobre o desembarque do PMDB do governo e que quer discutir o futuro com todas as forças políticas, como o PSB, para estabelecer uma agenda para o país”, afirmou Siqueira.
O dólar à vista fechou em alta de 0,31%, cotado a R$ 3,6357. A oficialização da saída do PMDB da base aliada do governo Dilma Rousseff não gerou pressão de baixa na cotação
O PSB ainda não tomou uma posição oficial sobre o impeachment de Dilma. O presidente do partido acredita, no entanto, que se o processo for aprovado pelo plenário da Câmara, dificilmente o Senado irá reverter a decisão.
“Se um governo não tem condições de obter 172 votos para se manter, não há mais razão para existir”, disse Siqueira. Ele ressalta, porém, que a posição formal do PSB ainda será avaliada.
Para o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG), a atitude do presidente do PSB de se reunir com Temer foi precipitada. Segundo ele, não é momento de apoiar o vice-presidente num eventual governo de transição, já que ele fez parte de todo o governo Dilma Rousseff, que está em crise.
“Em caso de impeachment, Temer assumirá com todas as suspeitas, pois participou do governo durante todo este período de crise”, disse.