Região no entorno da foz tem nível mais elevado de arsênio, aponta laudo.
Estudo de órgão diz que contaminação ultrapassa limites de legislação.
Peixe na lama de mineração, no Rio Doce, em 12/11/15 (Foto: Leonardo Merçon/ Instituto Últimos Refúgios)
Os monitoramentos feitos pela Samarco ao longo do Rio Doce apontam que
há alterações na qualidade do pescado, com a contaminação por alguns
tipos de metais, como o arsênio. Mas a empresa garante que ela é
natural, já que a região no entorno da foz possui um nível mais elevado
deste tipo de metal. E mais, que eles não possuem nenhuma ligação com os
rejeitos oriundos do desastre.(Atualização: Nesta quarta-feira, a Samarco procurou a reportagem e negou que tenha dito que a contaminação dos peixes com metais é natural. Em resumo, disse que alguns elementos químicos encontrados próximo da Foz do Rio Doce existem em níveis elevados naturalmente, mas não que seja natural que os peixes sejam contaminados. Atualizado às 17h52).
Os laudos da mineradora apontam resultados diferentes de outro relatório, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), divulgado nesta segunda-feira. Nele pescado e camarões apresentam elevados níveis de contaminação por metais tóxicos. O roncador, por exemplo, chega a ter arsênio em níveis 140 vezes superior ao limite permitido.
Exames
Paulo Cezar de Siqueira Silva, gerente de engenharia de meio ambiente da Samarco, relata que foram analisados 1.600 organismos, em 2 meses. Os testes com pescado na região de Barra Seca, ao Norte da foz do Doce, apontaram níveis de arsênio quase 5 vezes acima do permitido.
Mas o mesmo não aconteceu com o pescado da foz, que apresentou níveis bem abaixo (0,3 mg/kg) do permitido (1). “O pescado da foz está sujeito a um impacto maior dos rejeitos do que os do ambiente marinho, onde a pluma (lama) já está mais diluída. Uma prova clara de que esta contaminação não teve influência dos rejeitos”, relata, lembrando ainda que, no caso de Barra Nova, o pescado está ainda mais distante da pluma.
Outro ponto, destaca Thiago Marchezi Doellinger, gerente responsável pela manutenção da água, é que os metais encontrados nos exames não têm nenhuma relação com a composição química dos rejeitos (lama). “A composição básica dos rejeitos é de cerca de 79% de óxido de silício (areia), 19% de ferro e o restante é óxido de alumínio”, disse.
Ele acrescenta que desde novembro de 2015 a água do Rio Doce vem sendo monitorada em 84 pontos do rio e 34 no mar. “Houve uma elevação da quantidade de metais na água, que já reduziram. Foi uma ressuspensão do que já existia no local”, diz, acrescentando que hoje os exames mostram que a qualidade da água é semelhante a padrões de 2010.
Lama ainda muda paisagem de Regência, em 05/01/16 (Foto: Carlos Palito/ TV Gazeta)
ICMBio: mais de mil amostrasMais de mil amostras foram coletadas pela equipe do ICMBio. Parte delas já foram analisadas pelo laboratório do professor Adalto Bianchini, do Instituto de Ciência Biológicas (ICB).
A conclusão dessas análises foi de que há contaminação do pescado, dos mariscos e da água na foz do Rio Doce, no seu entorno, afetando inclusive áreas de conservação e proteção ambiental.
Foram analisados quatro espécies de peixe, além do camarão, e todos apresentaram elevados níveis de contaminação por arsênio, cádmio e chumbo.
O camarão chega a ter 88 vezes o limite de arsênio (que é de 1) - mas foram encontradas espécies superando o limite em 115 vezes -, além de 5 vezes mais cádmio e 5 vezes mais chumbo do que a legislação estabelece.
O peroá, supera os limites de arsênio em 34 vezes e tem quase três vezes mais cádmio do que o permitido.
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