MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 19 de novembro de 2013

"Salvador me traz grande sorte", diz Milton Nascimento

Marcos Dias
A TARDE
  • Mariana Vianna | Divulgação
    Milton Nascimento se apresenta quinta e sexta em Salvador
Há dois anos, Milton Nascimento, autor de verdadeiros clássicos da música brasileira, como  Canção da América, Nos Bailes da Vida, Nada Será Como Antes e Raça,  tem rodado o mundo com a turnê Uma Travessia. Celebra 50 anos de carreira. Seduz todas as plateias.
Na quinta, 21, e sexta-feira, 22, desta semana, é a vez de o público baiano estar próximo de um artista que é um colosso em que se fundem força e delicadeza. Meio-século de integridade.
Como ele leva em conta vários fatores quando faz um show numa cidade, somado às memórias de quando já esteve na Bahia, é possível esperar variações do que foi registrado, em agosto, no DVD Uma Travessia.
"É impossível lembrar aqui todas as histórias que vivi em Salvador. Pois se trata de uma das cidades mais próximas nessa trajetória de quase 50 anos de carreira", diz o cantor. Mas revela que uma de suas melhores amigas mora aqui, e na cidade também conheceu Jorge Amado e Dorival Caymmi.
"Agora, um fato inesquecível foi quando ganhei o Grammy de Melhor Disco de World Music, em 1997. Pensei que jamais ganharia, pois a concorrência era grande, então decidi passar uns tempos em Salvador. Foi quando me ligaram dizendo do prêmio. Sendo assim, Salvador é uma cidade que me traz grande sorte".
Uma Travessia tem sido elogiado pela performance do cantor, os  novos arranjos e a emoção de vê-lo e ouvi-lo com amigos da vida inteira, como Wagner Tiso (que conheceu quando tinha 13 anos) e Lô Borges, do Clube da Esquina.
Em relação ao que está vivendo, sendo reverenciado por onde passa, Milton sabe de sua maior alegria: "A primeira coisa são os amigos que estão até hoje ao meu lado. Poucas coisas na minha vida são mais importantes que a amizade".
 
Fãs
Artistas tão distintos como Mercedes Sosa, Björk, Sarah Vaughan, Paul Simon, Caetano Veloso, Chico Buarque, entre muitos outros, são fãs absolutos das melodias e do canto de Milton. Talvez seja alma o que melhor o defina. Basta ouvir vocalises que ele faz em temas encantatórios como The Call ou Vidro e Corte.
Mas foi Elis Regina quem disse, certa vez, que se Deus cantasse teria a voz de Milton. Para ele (que teve músicas como Cais, Maria Maria e Trem Azul interpretadas por ela), se Deus cantasse teria a voz de Elis.
No panteão da música do mundo, Milton está no topo e suas canções muitas vezes apontam para a transcendência. Mas a religiosidade do artista, nascido no Rio de Janeiro e que mudou para Minas Gerais aos dois anos, deu-lhe mais do que a tradição cristã ocidental.
"Tem uma coisa que pouca gente sabe, mas além da religião católica, eu já fui batizado por várias vertentes, desde budista, passando por indígena, até candomblé. Então costumo dizer que sou de todas elas".
Apesar da amplidão quanto ao sagrado, é na dimensão mais concreta do real que ele se coloca. Músicas do show, como Promessas do Sol, Lágrimas do Sul, além do standard Coração de Estudante, são políticas em sentido forte. E oxigênio puro em tempos sombrios.
"Eu permaneci no Brasil durante os 20 anos de ditadura lutando ao lado dos estudantes. Durante todo esse tempo, fui ameaçado, perseguido, censurado, proibido de gravar, de fazer shows, de tudo. Minha luta aqui ajudou muita gente que estava no exterior. Em nenhum momento eu fiquei calado".
E ainda não fica, quando entende que as reivindicações dele, atualmente, são as mesmas que tem feito há décadas. "É necessário resolver a questão indígena, um dos maiores absurdos da história. Diminuir os direitos financeiros dos políticos, como ajuda-moradia, ajuda-alimentação, ajuda-passagem, exageros que só acontecem no Brasil".
E como há excesso de exageros e privilégios,  acrescenta: "Outra coisa imediata que poderia ser feita: proibir que governos gastem dinheiro com publicidade, essa verba tinha que ser investida diretamente nas carências mais urgentes da população".
A coerência do artista também o blinda de ressentimentos e valores alheios à liberdade. Mesmo  aderindo à postura da polêmica Associação Procure Saber quanto a biografias.
"Existem no mercado quatro livros que retratam minha vida. E entre os mais importantes estão Os Sonhos não Envelhecem, Coração Americano e A Música de Milton Nascimento. Então, só posso dizer uma coisa: quanto mais livros escreverem sobre minha carreira e, consequentemente, sobre minha vida, melhor ainda". Para a glória da música, é uma história que continua sendo escrita.

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