MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 2 de novembro de 2013

'Aqui somos todos iguais', diz coveiro de Manaus apaixonado pela profissão


Segundo coveiros, profissão ainda é vista com preconceito por populares.
Entre casos curiosos, viram morte de homem que agendou enterro sem morto.

Do G1 AM

Queiroz, de 52 anos, é coveiro há 13. Segundo ele, proissão permite ver a vida de forma diferente (Foto: Jamile Alves/G1 AM)Queiroz, de 52 anos, é coveiro há 13. Segundo ele, profissão permite ver a vida de forma diferente (Foto: Jamile Alves/G1 AM)
No sábado (2), centenas de pessoas visitam os cemitérios de Manaus em dedicação ao Dia dos Finados. Para o profissional que atua como coveiro, esta data não se resume a um único dia do ano. O G1 conversou com alguns desses profissionais que atuam no Cemitério São João Batista, o mais antigo da capital, localizado na Zona Centro-Sul de Manaus. Segundo eles, apesar de ainda serem vistos com grande preconceito pela sociedade, a profissão permite ver a vida através de uma nova percepção.

Manoel Queiroz, de 52 anos, é coveiro desde 2000. De acordo com ele, exercer a função fazia parte de um desejo antigo, trazido da época em que os avós atuavam como coveiros. Segundo ele, o preconceito sofrido por seu ofício não altera o amor que sente pela profissão. "Eu realmente gosto do que faço. Ser coveiro permite que a gente olhe a vida de outro jeito, pois aqui vivemos a realidade que poucas pessoas enxergam: a de que somos todos iguais no final da vida. Rico ou pobre, aqui nada disso importa. Me sinto importante por conseguir vivenciar isso", contou ao G1.
Queiroz, que afirmou já ter feito mais de 13 sepultamentos em um dia, ressaltou que a parte mais difícil de seu trabalho é a exumação dos corpos, feita após quatro anos do enterro. "O trabalho consiste em abrir o caixão, retirar os restos mortais e colocar em uma urna para desocupar o jazigo. Quando fazemos isso, só restam os ossos, as roupas e os cabelos de alguns. Essa parte é a menos agradável para mim, ainda estou me acostumando", relatou.

Em 13 anos com o 'pé na cova', Queiroz contou que já testemunhou acontecimentos curiosos no cemitério. "Há uns oito anos, um homem veio aqui para agilizar a documentação do sobrinho, que já estava em coma há bastante tempo. Ele chegou até a marcar a data do sepultamento, e tudo mais. Quando chegou o dia marcado, nós ficamos esperando, mas ninguém apareceu. Exatamente cinco dias depois, o estranho homem que havia agendado o sepultamento do sobrinho apareceu no cemitério já dentro do caixão. Estava morto e foi enterrado no lugar", afirmou.
Francisco Sidney, de 43 anos, afirmou que espanto de pessoas é comum ao questionar sobre profissã (Foto: Jamile Alves/G1 AM)Francisco Sidney, de 43 anos, afirmou que espanto de pessoas é comum ao questionar sobre profissão (Foto: Jamile Alves/G1 AM)
Já Francisco Sidney, de 43 anos, afirmou nunca ter presenciado histórias assombrosas pelo cemitério. Segundo ele, o pré-julgamento da profissão de coveiro é constante, mesmo após nove anos dedicados ao trabalho. "Tem muita gente que fica assombrada quando digo o que faço. Eu estava iniciando um relacionamento com uma moça, e durou até eu contar para ela onde eu trabalhava. Depois que ela soube que eu mexia com mortos, terminou comigo no mesmo instante. Assim como existem médicos e motoristas, existem os coveiros. Alguém precisa fazer esse tipo de serviço", relatou.

Apesar de cavar, prepararem as covas e abaixarem os caixões, os coveiros devem permanecer 'invisíveis' durante um enterro. Segundo Sidney, a frieza é essencial durante o trabalho. "A gente não pode se envolver emocionalmente com os familiares, além de nós já estarmos preparados para ver a dor dos outros todos os dias. Eu mesmo já precisei enterrar quatro pessoas da minha família. A frieza precisa ser companheira do trabalho. Difícil mesmo é quando envolve crianças. A morte delas não é justa, ainda me chateio bastante com isso", falou.

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