MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 22 de março de 2013

Austríaca mantém tradição e dá ovos coloridos de presente na Páscoa


Senhora de 85 anos mora no Recife e pinta ovos de diferentes tamanhos.
Na Europa, costume simboliza renascimento e chegada da primavera.

Priscila Miranda Do G1 PE

No Recife, austríaca mantém tradição de pintar ovos na Páscoa (Foto: Priscila Miranda / G1)Bernharda Anderson gosta de dar ovos pintados por ela para familiares e amigos (Foto: Priscila Miranda / G1)
Dar ovos de chocolate no domingo de Páscoa é algo mais do que comum no Brasil e movimenta bastante o comércio, que consegue lucrar bastante nessa época do ano com a venda dos doces. Mas voltar às origens e presentear pessoas queridas com ovos decorados, pintados de forma artesanal, é uma tradição que alguns imigrantes europeus não deixam de praticar durante o período da Semana Santa. Um exemplo é Bernharda Anderson, uma senhora de 85 anos nascida na antiga Tchecoslováquia e naturalizada austríaca, moradora do Recife há 10 anos.
O costume de decorar ovos não se perdeu com o tempo em que dona Bernharda mora no Brasil. Ela fez disso uma forma de celebrar suas tradições europeias e agradar familiares e amigos. “Aqui, as pessoas, os imigrantes, continuam com o hábito. Como as raças se misturam, sempre tem alguém que adota o costume. Minha nora, por exemplo, gosta de enfeitar o local de trabalho dela com ovos coloridos, tem uma árvore para pendurá-los", conta.
Shirla é amiga de Bernharda há mais de 40 anos e ganhou um ovo pintado (Foto: Priscila Miranda / G1)Shirla é amiga de Bernharda há mais de 40 anos e ganhou
um ovo pintado (Foto: Priscila Miranda / G1)
Amiga de Bernharda há mais de 40 anos, a boliviana Shirla Karls veio visitar a austríaca e aproveitou para trazer um ovo de avestruz da Colômbia para ela enfeitar. "Nos conhecemos na época em que Bernharda morou no Rio de Janeiro", diz Shirla, que é casada com um alemão, tem dois filhos brasileiros e mora uma parte do ano em Berlim e outra na capital fluminense.
A austríaca conta que a cultura dos ovos pintados é muito forte na Europa, principalmente na cidade em que ela morava, Salzburgo. "Lá em Salzburg, durante todo o ano tem ovos pintados. Isso já é um mercado. O turismo é muito grande e há lojas que aproveitam para vender algo que é um artesanato típico da Áustria", fala. Lá também existem os ovos de chocolate, mas o forte mesmo são os ovos de ave coloridos.
“Isso [os ovos coloridos] na Áustria é comum, não tem um nome específico. As lojas de floricultura, por exemplo, colocam arbustos cheio desses ovos pendurados. Na época em que eu morava lá, e ainda hoje é assim, se dava de presente."
Bernharda diz que, para as crianças, há várias brincadeiras com os ovos. “No domingo de Páscoa, normalmente os pais escondiam os ovos dos filhos nos jardins. A gente tinha que correr para procurar e só depois de achar é que a gente comia. Tinha uma brincadeira também de bater os ovos para tentar quebrar, e quem conseguia comia o ovo cozido do outro."
Os ovos coloridos podem ter desenhos temáticos de Páscoa, como personagens bíblicos e coelhos, ou são enfeitados com ilustrações de flores, animais e crianças. "Tinha gente que escrevia uma mensagem e dava de presente na Páscoa, era um costume", complementa a austríaca. Para tirar clara e gema, Bernharda faz um pequeno furo no fundo do ovo. "Não uso o ovo gelado. Faço um furinho, sopro e o líquido sai”, explica.
A arte de decorar os ovos e os dar de presente representa algo especial para os europeus. Bernharda fala desse simbolismo.“A Páscoa geralmente cai na primavera. Então, depois do inverno, quando a Áustria está toda coberta de neve, a vida se levanta outra vez, a natureza acorda. Tinha gente que levava para a igreja os ovos pintados para serem batizados. Então é uma data muito importante. Há países europeus, como a Rússia, em que a Páscoa é mais festejada que o Natal, quando há - 40° C de frio", afirma.
Ovos decorados por austríaca no Recife (Foto: Priscila Miranda / G1)Ovos decorados por Bernharda têm motivos florais e religiosos (Foto: Priscila Miranda / G1)
Imigração e vida no Brasil
Bernharda Anderson nasceu na antiga Tchecoslováquia em 1927 e se naturalizou austríaca. "Na Europa, você continua com a nacionalidade dos seus pais. Os meus eram austríacos, então, automaticamente, eu virei austríaca", explica Bernharda. Ela veio com a família para o Brasil em 1950, aos 23 anos, após o fim da Segunda Guerra Mundial. "Por causa da guerra, a gente não tinha muita oportunidade na Áustria. O país ainda estava ocupado por soldados russos, americanos e asiáticos. Havia muita violência e relatos de roubos e abusos sexuais", relembra a senhora.
Chegando ao país, ela e o marido se instalaram no Rio de Janeiro, onde tiveram um filho. Foi ele quem fez com que Bernharda conhecesse Pernambuco. "Meu filho se apaixonou por uma pernambucana, se casou com ela e os dois vieram morar aqui no Recife."
Para a senhora austríaca, a capital pernambucana era apenas um local para passear e reencontrar o filho e os netos, até que um acontecimento triste a fez se mudar para a cidade. "A neta mais nova dela morreu e depois o filho morreu de tristeza. Quando a neta faleceu, ela se mudou para cá para ficar perto do filho. Vendeu tudo no Rio e se mudou, para ajudar também a nora e os dois netos", relata a amiga Shirla.
Hoje, Bernharda já tem dois bisnetos, que ainda não tiveram a alegria de brincar com os ovos decorados pela "bisa" pela pouca idade. "O menino tem um ano e seis meses e a menina tem quatro anos. Ainda são muito pequenos para participarem da brincadeira", finaliza.

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