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Até aqui, só tivemos espuma ideológica, gritaria e conspiracionismo vulgar, o que gera apenas mais desacerto e confusão. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
No maior ato de rua promovido até aqui contra a política monetária,
as centrais sindicais e outros movimentos de esquerda acharam por bem
tacar fogo numa imagem de Roberto Campo Neto. A foto do presidente do
Banco Central estava colada a um papelão em formato de cavalo, em uma
alusão ao Cavalo de Troia. Empapada de líquido inflamável, um
manifestante se aproximou da imagem e acendeu um isqueiro, fazendo-a
arder na fogueira santa de amor progressista.
Os
fanáticos deliram achando que a decisão do BC de manter a taxa de juros
em 13,75% tem o propósito de inviabilizar o governo Lula, e que Campos
Neto atua mancomunado com Jair Bolsonaro. É inequívoco que o cerco
político promovido pelo Planalto, e coordenado a partir das críticas feitas pelo próprio Lula, vão criando um clima de ódio que, agora, se verifica nas ruas por meio da ação de militantes.
Qual
o significado implícito de queimar a imagem de uma pessoa? O que se
pretende com isso? Ninguém pode negar que há nessa ação uma simbologia, e
que levada ao extremo pode gerar ações objetivas eventualmente
criminosas. Ninguém no governo ou nas esquerdas condenou o que se viu na
Paulista. E isso serve como um apito de cachorro de que tal
comportamento é bem-vindo. Até que alguém ache por bem tocar fogo no
Campos Neto em pessoa.
A
decisão de manter o atual índice da Selic foi, como as demais, técnica.
Há fatores conjunturais relevantes, para além das teorias
conspiratórias de sindicalistas e quejandos. Ainda antes da reunião do
Comitê de Política Monetária (Copom), o Federal Reserve havia anunciado a
elevação dos juros americanos em 0,25%. É possível iniciar um ciclo de
baixa da taxa de juros no Brasil ignorante de que o ciclo de alta no
mundo desenvolvido ainda não acabou?
Há
evidências contundentes de que o aumento generalizado de preços nas
cadeias produtivas ainda não foi estancado. É só observar os núcleos de
inflação. Para além disso, o Brasil vivencia outros condicionantes
próprios que deveriam despertar atenção e serem devidamente combatidos. O
economista Aod Cunha, que já ocupou a Secretaria da Fazenda do Rio
Grande do Sul, aponta alguns: histórico de inflação alta, alto volume de
crédito direcionado, riscos legais, carga tributária, concentração
bancária, dentre outros.
O governo Lula também ainda não apresentou sua nova regra fiscal. Ficará para depois da viagem para a China – que acabou adiada.
Até aqui, só tivemos espuma ideológica, gritaria e conspiracionismo
vulgar, o que gera apenas mais desacerto e confusão. A continuidade da
Selic no atual patamar não foi para afrontar o governo, mas serviu para
reafirmar a independência funcional do Banco Central, que não se
permitiu dobrar ante a pressão política do lulopetismo, que agora parece
disposto até mesmo a intimidar com piras e fogueiras.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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