BLOG ORLANDO TAMBOSI
O governo Lula fracassa em mostrar resultados e deixa os brasileiros mais pessimistas com a economia. Duda Teixeira e Rodolfo Borges para a Crusoé:
Lula
iniciou afobado seu terceiro mandato. Logo na primeira semana do ano,
ele mandou Rui Costa, da Casa Civil, decidir com os demais ministros
quais ações deveriam ser priorizadas para serem apresentadas como
conquistas dos primeiros 100 dias de governo. A celebração dessa data —
uma invenção do presidente americano Franklin Delano Roosevelt que
aportou no Brasil com Fernando Henrique Cardoso — se revelaria uma
obsessão de Lula. Na semana passada, em outra reunião, o presidente
cobrou mais empenho de cada um dos seus ministros para divulgar os seus
feitos. Uma campanha com verbas públicas estampará a frase “O Brasil
voltou”. A retórica ufanista, contudo, tem poucas chances de convencer
os brasileiros que avaliam as ações do governo federal a partir do que
sentem na própria vida, seja no preço da picanha ou no medo de perder o
emprego.
Na
próxima segunda, 10, quando uma enxurrada de mensagens oficiais
surpreender os brasileiros, a empolgação governista deverá esbarrar no
desânimo da população. Segundo um levantamento do Datafolha feito na
semana passada, 51% dos brasileiros entendem que o presidente “fez pelo
país menos do que se esperava” nestes três meses. Além disso, 51%
acreditam que Lula não irá cumprir a maioria de suas promessas e 21%
acham que ele não irá cumprir nenhuma delas. Para quem achou que iria
começar causando uma boa impressão, os números desapontam.
Depois
de ganhar com apenas 50,90% o segundo turno do ano passado, Lula não
apenas falhou em persuadir os que não votaram nele, como perdeu a
confiança de muitos que só optaram por seu nome para impedir uma vitória
de Jair Bolsonaro. Em uma pesquisa feita pelo Instituto Paraná na
cidade de Porto Alegre, só 39% da população disse aprovar o governo — um
número bem abaixo dos 53% que votaram no candidato Lula em 2022.
“Muitos dos que optaram por Lula só porque não queriam Bolsonaro não
estão contentes hoje. O governo não conseguiu divulgar suas novas
medidas para a população, cujo grande sonho era ver uma melhora da
economia. Esse é um grande problema para o presidente Lula”, diz Murilo
Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas. “As pessoas tinham uma
expectativa muito grande de que o poder aquisitivo das famílias
melhoraria no seu governo. É a tal história da picanha que, apesar de
simbólica, também tem um fundo real.”
Na
campanha de 2022, Lula prometeu que o trabalhador voltaria a se
deliciar com um churrasco farto. “Nós vamos voltar a reunir a família no
domingo e nós vamos fazer um churrasquinho. E nós vamos comer uma fatia
de picanha com uma gordurinha passada na farinha e tomar uma p… de uma
cerveja gelada. O povo entra em delírio, porque é isso o que o povo
quer”, disse o então candidato em meados do ano passado. Justiça seja
feita, o preço desse corte de carne caiu 2% desde o início do ano. Mas a
redução não chega a ser um alívio, porque outros indicadores mostram
uma piora da situação geral. O desemprego voltou a subir, após onze
meses de queda. A inflação segue no mesmo patamar, mas ao custo de uma
elevada taxa de juros, que impede uma aceleração econômica. A aguardada
apresentação de um arcabouço fiscal, que por enquanto se limita a um
conjunto de slides, traz inseguranças sobre um aumento de impostos e vai
demandar mais negociação com o Congresso (leia reportagem de Rodrigo
Oliveira nesta edição).
Sem
entregar o principal, Lula se perde em ataques a diversos inimigos,
reais e imaginários. Seu maior alvo foi o ex-presidente Jair Bolsonaro, a
quem ele chamou de genocida, irresponsável, desumano, fascista,
miliciano e “coisa”. São ofensas que em nada melhoram a sua própria
avaliação. “O governo continua no palanque. Nós estamos vivendo uma
prorrogação do processo eleitoral. Mas o governo Bolsonaro já não existe
mais”, diz o escritor Augusto de Franco, colunista de Crusoé.
“Acontece que, na falta de projetos que causem o impacto que Lula e o
PT gostariam, eles estão tentando manter vivo o embate com o
bolsonarismo. Dá até a impressão que Bolsonaro é quem governa, e que o
PT é a oposição.” Outros ataques foram proferidos contra o senador
Sergio Moro, o ex-presidente Michel Temer, o diretor do Banco Central
Roberto Campos Neto e o “mercado”.
A
verborragia e a incompetência ainda podem afetar o desempenho no
Congresso. Este ano, espera-se que os parlamentares votem uma reforma
tributária e o arcabouço fiscal. Mas, como nada até agora foi enviado
para votação, a força de Lula ainda não foi testada. Com isso, paira
muita incerteza sobre o tamanho real da base de apoio do governo. O
líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), fala em 350 deputados aliados.
Mas lideranças de siglas governistas estimam que o total não passa muito
dos 200. Eles citam como exemplo o União Brasil. Apesar de a sigla ter
sido incluída na conta dos petistas por ter três ministérios, muitos dos
seus integrantes declaram-se independentes, ou mesmo de oposição. PSD e
MDB, que também ganharam pastas, também não têm como garantir adesão
total aos projetos petistas. Em março, essas duas siglas formaram um
superbloco com Podemos e Republicanos, o que torna mais imprevisível a
maneira como irão se posicionar no futuro. “Ao montar o gabinete, Lula
fez um loteamento inconsequente dos ministérios com a cabeça de 20 anos
atrás, mas isso não surtiu o efeito que queria. Ele não entendeu que o
Parlamento tem outra formação e os deputados e senadores são mais
independentes em relação aos partidos”, diz o vice-líder do PP, Evair de
Melo.
Entre
os poucos pontos positivos estará a retomada das ações ambientais e de
proteção aos yanomamis, depois de quatro anos de descaso no governo
Bolsonaro. No mais, o governo deve gastar tempo enaltecendo programas
que já existiam, como o Minha Casa Minha Vida, o Bolsa Família e o Mais
Médicos (leia artigo de Leonardo Barreto nesta edição da Crusoé).
Ações que se revelaram deficitárias ou insustentáveis, como
investimentos em refinarias e estaleiros navais, estão voltando à tona.
Até um retorno à falecida Unasul, uma plataforma criada pelo venezuelano
Hugo Chávez para projetar o seu poder na América Latina, está sendo
cogitado. Tudo não passa de notícia velha. Mesmo assim, o tom da voz
rouca de Lula deve ficar ainda fervoroso, com o anúncio de cifras em
reais para diversas áreas. Serão mais promessas, para uma população que
já não acredita nelas. O que os brasileiros querem é uma melhora no
padrão de vida, o tal churrasco com picanha com uma gordurinha passada
na farofa e a p… da cerveja gelada. Esse Brasil, ao contrário do
discurso oficial, ainda não voltou. Cem dias já se foram.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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