MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 24 de setembro de 2022

Nova geração de políticos pode livrar o país da polarização

 


Zema: casa alugada e dispensa de carros oficiais.

Candidatos a governador que lideram em vários Estados representam uma nova geração e já estão no trampolim para 2026. Duda Teixeira para a revista Crusoé:


Esta campanha presidencial tem sido marcada pela monotonia das pesquisas e pela violência dos ataques, verbais ou reais, dos candidatos e de seus seguidores. Mas, por sorte, essa não é a única disputa em andamento. Em outubro, os brasileiros também escolherão os governadores de 26 estados e do Distrito Federal. Pelos próximos quatro anos, seus eleitos terão acesso a orçamentos polpudos e controlarão pesadas máquinas administrativas, com milhares de servidores e capacidade de atingir diretamente os cidadãos. De seus gabinetes, eles colocarão em prática seus planos e testarão a recepção de suas ideias. Ganharão proeminência dentro dos seus partidos e a atenção de eleitores de outros estados, podendo até ambicionar objetivos mais elevados, como a Presidência da República, em 2026.

Essas disputas regionais estão ocorrendo, em boa parte, ao largo da histeria da campanha presidencial. Candidatos que não anunciaram apoio a Lula ou Bolsonaro lideram em cinco dos dez maiores colégios eleitorais do país. Fizeram isso para não alijar os eleitores do presidenciável que não apoiassem. Mas as eleições municipais de 2020 também mandaram um recado ao meio político. Nem lulistas nem bolsonaristas puderam comemorar naquele pleito, depois que as urnas foram apuradas. A maioria dos eleitos para as prefeituras teve perfil moderado e, especialmente, pragmático. Os candidatos a governador que podem vencer no primeiro turno ouviram o recado e evitaram mergulhar na polarização. Eles fazem parte de uma geração mais nova de políticos, com idade média de 47 anos. São, portanto, mais jovens que Bolsonaro, de 67 anos, e Lula, de 76 — o que alimenta a esperança de uma renovação de quadros mais adiante.

Com 65% das intenções de voto, o paraense Helder Barbalho (MDB) só não liquidará a fatura no primeiro turno se houver um cataclisma. O mineiro Romeu Zema (Novo) e o baiano ACM Neto (União) também têm grandes chances de vencer logo de cara as eleições no segundo e no quarto maiores colégios eleitorais do Brasil. A intenção de votos deles é de 53% e 54%, respectivamente. Os que estão como favoritos, mas ainda precisam assegurar uma vitória no segundo turno, são Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul, e Carlos Moisés (Republicanos), em Santa Catarina.

É da tradição democrática brasileira que nomes oriundos do Executivo se apresentem nas corridas presidenciais. Por estarem na linha de frente da política, tomando decisões e falando para as câmeras, eles têm mais chances de cativar o público. Em geral, são ministros ou governadores. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi ministro de Itamar Franco. Dilma Rousseff, de Lula. O único governador que venceu uma eleição nacional neste período democrático foi o alagoano Fernando Collor de Melo. Mas diversos dos que cogitaram a Presidência tiveram uma experiência anterior nos estados, como os paulistas Geraldo Alckmin e João Doria, o cearense Ciro Gomes, o mineiro Aécio Neves e o pernambucano Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo em 2018. Jair Bolsonaro, que emergiu do Legislativo, e Lula, que cresceu no movimento sindical, são exceções à regra. “A estrutura da federação faz com que o posto de governador seja estratégico para aqueles que pensam em ser presidente um dia”, diz o cientista político Bruno Silva, diretor de projetos do Movimento Voto Consciente. “À frente dos estados, eles conseguem imprimir uma marca própria e mostrar para a população qual é o modelo de gestão deles.”


Nos últimos quatro anos, os governadores ganharam ainda uma importância adicional, por causa dos atritos constantes com o presidente Jair Bolsonaro. No início da pandemia, quando ainda não havia vacina disponível, eles gastaram muito capital político para decretar medidas de restrição de circulação e obrigar o uso de máscaras. Depois, tiveram suas arrecadações prejudicadas com os cortes de ICMS sobre os combustíveis. Mais recentemente, estão lutando no Supremo Tribunal Federal contra o piso da enfermagem, que não têm condições de pagar. Entre os que tiveram de lidar com esses percalços e agora tentam a reeleição estão o mineiro Zema, o catarinense Carlos Moisés, o gaúcho Eduardo Leite e o paraense Hélder Barbalho.

Em todas essas quebras de braço com Brasília, os governadores foram acusados de levarem os comerciantes à falência, de cobrarem impostos excessivos ou de serem contra aumentos salariais. No entanto, eles demonstraram boa capacidade para se comunicar com a população, a ponto de aparecerem como favoritos nas pesquisas. Dos 19 governadores que concorrem à reeleição em 2022, apenas o paulista Rodrigo Garcia (PSDB) não lidera a disputa para reassumir o cargo. Além de pouco conhecido no estado, ele herdou o governo de João Doria, que se desgastou com os eleitores e acumulou rejeição durante o seu mandato.

O mineiro Romeu Zema, de 57 anos, é um dos que melhor conseguiu superar os obstáculos da pandemia. Empresário conhecido pelas lojas Zema, de sua família, ele foi eleito em 2018 após fazer duras críticas ao PT na campanha eleitoral. Aproveitou-se, portanto, da mesma onda antipetista que colocou Bolsonaro no Planalto. Mas sua alta aprovação atual, em torno de 54%, não é fruto de um alinhamento com o presidente, e sim de sua gestão. Zema assumiu após o governo ruinoso do petista Fernando Pimentel, que deixou o Estado afundado em dívidas, sem condições de repassar valores para as prefeituras ou de pagar o salário dos servidores públicos, que sofreram um calote do 13º no final de 2018.

Hoje a questão financeira está equacionada. Zema renegociou e pagou as dívidas. Com as contas equilibradas, o governo estadual voltou a enviar dinheiro para os prefeitos, os quais têm recebido de braços abertos o governador em suas constantes visitas ao interior. Não à toa, eles são uma de suas principais bases de apoio. De viés liberal, Zema reduziu a burocracia, e permitiu a abertura e o fechamento de empresas sem o envio de documentos físicos, tudo virtual. Seu discurso contra os privilégios foi amplamente aplaudido. Ele transformou o Palácio das Mangabeiras, a residência oficial, que virou um centro privado de exposições. Além de morar numa casa alugada, ele raramente usa carros ou aeronaves oficiais. “Zema também ganhou a confiança por ter um perfil popular e falar a linguagem do povo, percorrendo todo o estado”, diz o cientista político Christopher Mendonça, professor do Ibmec de Belo Horizonte. “Atualmente, ele está em primeiro lugar em todas as regiões de Minas.”


Na Bahia, ACM Neto, de 43 anos, tem uma agenda parecida com a de Zema, liberal, mas também se aproveita do carlismo, o movimento fundado por seu avô, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, o lendário Toninho Malvadeza. Seu jingle de campanha imita o mote familiar “ACM, meu amor”. É reconhecido por ter sido um bom prefeito de Salvador, onde alcançou uma aprovação de 75% investindo nas áreas mais pobres da cidade. Este ano, o político evitou nacionalizar a campanha. Ele não deu apoio a nenhum dos presidenciáveis e prometeu falar com qualquer um que vença a eleição nacional. Com isso, é capaz de angariar votos tanto de lulistas quanto de bolsonaristas.

O gaúcho Eduardo Leite é o mais novo do grupo. Tem 37 anos. No final de 2020, participou das prévias do PSDB, que deveriam escolher o candidato à presidência do partido. Num embate que deixou sequelas internas, foi derrotado por João Doria. Esse, por sua vez, não conseguiu manter-se na disputa, abandonou a política e abriu caminho para que os tucanos apoiassem a presidenciável do MDB, Simone Tebet. Leite retornou ao seu estado para buscar a reeleição — agora carregando o recall nacional de quem tentou se candidatar à Presidência.

Os jovens candidatos a governador já têm história para contar em cargos executivos e, portanto, podem advogar uma política mais pé no chão, baseada em realizações e propostas. Mais do isso, eles trazem ideias frescas. “O Brasil de hoje tem sido refém de políticos velhos que gostam de debater temas ultrapassados, como a ditadura militar, o comunismo, o fascismo, o estatismo e a liberdade religiosa”, diz o cientista político Magno Karl, diretor do Livres, um movimento político liberal. “Mas o Brasil tem desafios gigantescos. Chegou a hora de o país fazer uma virada geracional. As eleições de 2026 podem ser essa oportunidade.”
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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