Zema: casa alugada e dispensa de carros oficiais. |
Candidatos a governador que lideram em vários Estados representam uma nova geração e já estão no trampolim para 2026. Duda Teixeira para a revista Crusoé:
Esta
campanha presidencial tem sido marcada pela monotonia das pesquisas e
pela violência dos ataques, verbais ou reais, dos candidatos e de seus
seguidores. Mas, por sorte, essa não é a única disputa em andamento. Em
outubro, os brasileiros também escolherão os governadores de 26 estados e
do Distrito Federal. Pelos próximos quatro anos, seus eleitos terão
acesso a orçamentos polpudos e controlarão pesadas máquinas
administrativas, com milhares de servidores e capacidade de atingir
diretamente os cidadãos. De seus gabinetes, eles colocarão em prática
seus planos e testarão a recepção de suas ideias. Ganharão proeminência
dentro dos seus partidos e a atenção de eleitores de outros estados,
podendo até ambicionar objetivos mais elevados, como a Presidência da
República, em 2026.
Essas
disputas regionais estão ocorrendo, em boa parte, ao largo da histeria
da campanha presidencial. Candidatos que não anunciaram apoio a Lula ou
Bolsonaro lideram em cinco dos dez maiores colégios eleitorais do país.
Fizeram isso para não alijar os eleitores do presidenciável que não
apoiassem. Mas as eleições municipais de 2020 também mandaram um recado
ao meio político. Nem lulistas nem bolsonaristas puderam comemorar
naquele pleito, depois que as urnas foram apuradas. A maioria dos
eleitos para as prefeituras teve perfil moderado e, especialmente,
pragmático. Os candidatos a governador que podem vencer no primeiro
turno ouviram o recado e evitaram mergulhar na polarização. Eles fazem
parte de uma geração mais nova de políticos, com idade média de 47 anos.
São, portanto, mais jovens que Bolsonaro, de 67 anos, e Lula, de 76 — o
que alimenta a esperança de uma renovação de quadros mais adiante.
Com
65% das intenções de voto, o paraense Helder Barbalho (MDB) só não
liquidará a fatura no primeiro turno se houver um cataclisma. O mineiro
Romeu Zema (Novo) e o baiano ACM Neto (União) também têm grandes chances
de vencer logo de cara as eleições no segundo e no quarto maiores
colégios eleitorais do Brasil. A intenção de votos deles é de 53% e 54%,
respectivamente. Os que estão como favoritos, mas ainda precisam
assegurar uma vitória no segundo turno, são Eduardo Leite (PSDB), no Rio
Grande do Sul, e Carlos Moisés (Republicanos), em Santa Catarina.
É
da tradição democrática brasileira que nomes oriundos do Executivo se
apresentem nas corridas presidenciais. Por estarem na linha de frente da
política, tomando decisões e falando para as câmeras, eles têm mais
chances de cativar o público. Em geral, são ministros ou governadores. O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi ministro de Itamar Franco.
Dilma Rousseff, de Lula. O único governador que venceu uma eleição
nacional neste período democrático foi o alagoano Fernando Collor de
Melo. Mas diversos dos que cogitaram a Presidência tiveram uma
experiência anterior nos estados, como os paulistas Geraldo Alckmin e
João Doria, o cearense Ciro Gomes, o mineiro Aécio Neves e o
pernambucano Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo em 2018.
Jair Bolsonaro, que emergiu do Legislativo, e Lula, que cresceu no
movimento sindical, são exceções à regra. “A estrutura da federação faz
com que o posto de governador seja estratégico para aqueles que pensam
em ser presidente um dia”, diz o cientista político Bruno Silva, diretor
de projetos do Movimento Voto Consciente. “À frente dos estados, eles
conseguem imprimir uma marca própria e mostrar para a população qual é o
modelo de gestão deles.”
Nos
últimos quatro anos, os governadores ganharam ainda uma importância
adicional, por causa dos atritos constantes com o presidente Jair
Bolsonaro. No início da pandemia, quando ainda não havia vacina
disponível, eles gastaram muito capital político para decretar medidas
de restrição de circulação e obrigar o uso de máscaras. Depois, tiveram
suas arrecadações prejudicadas com os cortes de ICMS sobre os
combustíveis. Mais recentemente, estão lutando no Supremo Tribunal
Federal contra o piso da enfermagem, que não têm condições de pagar.
Entre os que tiveram de lidar com esses percalços e agora tentam a
reeleição estão o mineiro Zema, o catarinense Carlos Moisés, o gaúcho
Eduardo Leite e o paraense Hélder Barbalho.
Em
todas essas quebras de braço com Brasília, os governadores foram
acusados de levarem os comerciantes à falência, de cobrarem impostos
excessivos ou de serem contra aumentos salariais. No entanto, eles
demonstraram boa capacidade para se comunicar com a população, a ponto
de aparecerem como favoritos nas pesquisas. Dos 19 governadores que
concorrem à reeleição em 2022, apenas o paulista Rodrigo Garcia (PSDB)
não lidera a disputa para reassumir o cargo. Além de pouco conhecido no
estado, ele herdou o governo de João Doria, que se desgastou com os
eleitores e acumulou rejeição durante o seu mandato.
O
mineiro Romeu Zema, de 57 anos, é um dos que melhor conseguiu superar
os obstáculos da pandemia. Empresário conhecido pelas lojas Zema, de sua
família, ele foi eleito em 2018 após fazer duras críticas ao PT na
campanha eleitoral. Aproveitou-se, portanto, da mesma onda antipetista
que colocou Bolsonaro no Planalto. Mas sua alta aprovação atual, em
torno de 54%, não é fruto de um alinhamento com o presidente, e sim de
sua gestão. Zema assumiu após o governo ruinoso do petista Fernando
Pimentel, que deixou o Estado afundado em dívidas, sem condições de
repassar valores para as prefeituras ou de pagar o salário dos
servidores públicos, que sofreram um calote do 13º no final de 2018.
Hoje
a questão financeira está equacionada. Zema renegociou e pagou as
dívidas. Com as contas equilibradas, o governo estadual voltou a enviar
dinheiro para os prefeitos, os quais têm recebido de braços abertos o
governador em suas constantes visitas ao interior. Não à toa, eles são
uma de suas principais bases de apoio. De viés liberal, Zema reduziu a
burocracia, e permitiu a abertura e o fechamento de empresas sem o envio
de documentos físicos, tudo virtual. Seu discurso contra os privilégios
foi amplamente aplaudido. Ele transformou o Palácio das Mangabeiras, a
residência oficial, que virou um centro privado de exposições. Além de
morar numa casa alugada, ele raramente usa carros ou aeronaves oficiais.
“Zema também ganhou a confiança por ter um perfil popular e falar a
linguagem do povo, percorrendo todo o estado”, diz o cientista político
Christopher Mendonça, professor do Ibmec de Belo Horizonte. “Atualmente,
ele está em primeiro lugar em todas as regiões de Minas.”
Na
Bahia, ACM Neto, de 43 anos, tem uma agenda parecida com a de Zema,
liberal, mas também se aproveita do carlismo, o movimento fundado por
seu avô, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, o lendário Toninho
Malvadeza. Seu jingle de campanha imita o mote familiar “ACM, meu amor”.
É reconhecido por ter sido um bom prefeito de Salvador, onde alcançou
uma aprovação de 75% investindo nas áreas mais pobres da cidade. Este
ano, o político evitou nacionalizar a campanha. Ele não deu apoio a
nenhum dos presidenciáveis e prometeu falar com qualquer um que vença a
eleição nacional. Com isso, é capaz de angariar votos tanto de lulistas
quanto de bolsonaristas.
O
gaúcho Eduardo Leite é o mais novo do grupo. Tem 37 anos. No final de
2020, participou das prévias do PSDB, que deveriam escolher o candidato à
presidência do partido. Num embate que deixou sequelas internas, foi
derrotado por João Doria. Esse, por sua vez, não conseguiu manter-se na
disputa, abandonou a política e abriu caminho para que os tucanos
apoiassem a presidenciável do MDB, Simone Tebet. Leite retornou ao seu
estado para buscar a reeleição — agora carregando o recall nacional de
quem tentou se candidatar à Presidência.
Os
jovens candidatos a governador já têm história para contar em cargos
executivos e, portanto, podem advogar uma política mais pé no chão,
baseada em realizações e propostas. Mais do isso, eles trazem ideias
frescas. “O Brasil de hoje tem sido refém de políticos velhos que gostam
de debater temas ultrapassados, como a ditadura militar, o comunismo, o
fascismo, o estatismo e a liberdade religiosa”, diz o cientista
político Magno Karl, diretor do Livres, um movimento político liberal.
“Mas o Brasil tem desafios gigantescos. Chegou a hora de o país fazer
uma virada geracional. As eleições de 2026 podem ser essa oportunidade.”
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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