Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada nos jornais de quarta-feira, 7 de setembro:
Os
velhos como todos, aprendem, e levam a vantagem de ter visto tudo
acontecer. Eu vi, no início da década de 50, o professor Francisco
Antônio Cardoso, com apoio do governador Lucas Nogueira Garcez, seis
partidos, um pedaço do PTB, empresários, financistas, ser para prefeito
de São Paulo por um pouco conhecido vereador Jânio Quadros. Vi Jânio se
eleger governador e eleger como sucessor um ótimo político, ultra sério,
com fama de pão-duro, sempre de paletó e gravata, o professor Carvalho
Pinto – que nas urnas triturou o cacique Adhemar de Barros. Carvalho
Pinto, respeitadíssimo, foi vencido pelo bem menos conhecido Orestes
Quércia, que bateu recorde de votos para virar senador. Vi Jânio, como
candidato de oposição à Presidência da República, derrotar o marechal
Teixeira Lott, que tinha o apoio do popularíssimo presidente Juscelino
Kubitschek e do maior conjunto de partidos do país, mais a turma do
dinheiro. Vi o jovem Sarney, um deputado esquerdista, vencer a então
invencível oligarquia de Vitorino Freire no Maranhão. São histórias que
se repetem por todo o país.
Apesar
disso, vemos Lula usar sua ampla vantagem para jogar parado na
campanha. A vantagem é grande, Bolsonaro não pode ver jornalista mulher
que a insulta, quer brigar com as urnas eletrônicas (que não são
candidatas), mas não tem limites e já o mostrou. A vantagem é grande,
44x31, mas se esvai aos poucos. Ou Lula expande a base ou chega a 2 de
outubro em risco.
A aula chilena
No
Chile, a Constituição foi revogada e a população votou pela criação de
uma nova. Elegeu um governo de esquerda bem radical. E, pouco tempo
depois, rejeitou a nova Constituição esquerdista apoiada pelo Governo há
pouco eleito. Surpresa! Pois é, eleição tem disso. Fernando Henrique
Cardoso estava com a eleição tão ganha para prefeito de São Paulo que
seu partido tinha encomendado a festa da vitória num bufê excelente e
caro. Eu fui ao bufê para sentir o clima. Não havia ninguém: só os
garçons à espera.
Quem pensa que vai ganhar porque já ganhou está sujeito a imprevistos.
Independência
O
Brasil nunca cuidou muito de ensinar sua História nas escolas. Mas há
algumas coisas nos ensinamentos escolares de que todos lembram: D. Pedro
proclamou a Independência às margens do riacho Ypiranga, quando chegava
a São Paulo. Independência ou Morte, dizem meus livros escolares, foi o
que bradou na ocasião. O Brado Retumbante é citado no Hino Nacional
como tendo sido proferido às margens plácidas do Ypiranga.
Pois
bem: numa cerimônia macabra, o presidente Bolsonaro conseguiu trazer de
Portugal ao Brasil o coração de D. Pedro, que é guardado longe do
corpo, na cidade do Porto. E cadê o coração de D. Pedro no local onde
foi proclamada a Independência? Nada! Nem passa por São Paulo, nem perto
do principal museu do país destinado à Independência, recém-reformado. É
pena: a festa programada para São Paulo é uma das melhores que já
houve.
Festejando
O
desfile cívico-militar é o que ocorre todos os anos, com seis mil
homens das três Armas, mais 1.052 policiais, três mil civis e 117
veículos militares. O desfile começa hoje cedo, às oito, e vai até
12h30. Mas a festa continua, com os soldados da Brigada Paraquedista
saltando na avenida. E à tarde o Museu do Ypiranga será reaberto, depois
de mais dez anos fechado. Pelo que a TV mostrou, foi um trabalho muito
bem-feito: até o quadro famoso de Pedro Américo na hora do Brado
Retumbante está novo, todo restaurado.
Sem caça-voto
Haverá
autoridades no local (e ex-autoridades), como o ex-governador João
Doria Jr, que não é candidato a nada). A pauta é a apresentação do Museu
restaurado e de seus arredores, a região onde é provável que tenha
ocorrido o Grito da Independência. O governador Rodrigo Garcia é
candidato à reeleição, mas promete que o assunto não será sequer
lembrado.
Um
detalhe: não havia dinheiro para a reforma do Museu. Doria, então
governador, reuniu doações de empresários (alguns recorreram à Lei
Rouanet, que permite a isenção fiscal das quantias oferecidas, outros
optaram por doações diretas). E está aí o Museu de volta à vida
nacional.
Olha a fogueira!
A
informação é de organismos oficiais: há vários dias que dizem ocorrem 3
mil incêndios simultâneos na Amazônia. Coincidência, talvez: mas em
2007, quando os índices de desmate eram tão altos quanto os atuais, a
sequência de incêndios por dias seguidos era idêntica à atual. E isso
não tem nada a ver com política ou eleições. Em 2007 o presidente era
Lula e as eleições iriam ocorrer três anos depois.
O
problema é outro: visivelmente o sistema federal de controle de fogo
não dá conta da prevenção e combate e será preciso aperfeiçoá-lo e dar
apoio ao pessoal, que é bom, para que possa agir.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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