Mal não faria o candidato do PT ao explicitar suas posições, sem tergiversar. Reconhecer os erros passados seria já um grande avanço! Artigo do professor Denis Rosenfield, publicado pelo Estadão:
Talvez
Lula devesse se perguntar por que o setor agrícola se opõe tão
veementemente à sua candidatura. De nada adiantam inventivas
ideológicas, senão mentirosas, rotulando os produtores rurais de
“fascistas e reacionários”. Se medisse um pouco as suas palavras e
abandonasse essa retórica sem nenhum fundamento, não teria o risco de um
efeito propriamente bumerangue. Durante anos – e até hoje –, justificou
e apoiou a invasão de terras, com armas brancas e de fogo, do MST, que
reinava soberano e impune no campo brasileiro. Isso para não falar de
seu apoio incessante a todas as ditaduras que se dizem de esquerda –
sendo a mais recente a da Nicarágua, com a prisão de vários padres
católicos. Isso para não falarmos, ainda, das ditaduras vizinhas, como
Venezuela e Cuba. Seriam eles “democratas e progressistas”?
No
debate na Band, foi um “artista” ao sair em defesa do MST. Teve a
ousadia de declarar, em deslavada mentira, que o MST nunca tinha
invadido uma propriedade produtiva. Na verdade, não foi uma, mas
centenas, senão milhares, com absoluto desrespeito ao direito de
propriedade e ao Estado Democrático de Direito. Hordas reinavam no
campo. Propriedades invadidas, tratores queimados, sedes de fazendas
destruídas, trabalhadores rurais feitos prisioneiros, gado esquartejado à
espera da morte, incêndios, e assim por diante.
De
nada adianta dizer que se tratava de terras improdutivas, pois tal
qualificação só poderia ser considerada enquanto tal pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) após o devido processo
legal, assegurando o direito de defesa aos proprietários. O que
acontecia? O MST declarava que a terra era improdutiva e exigia que o
Incra seguisse as suas decisões. Ou seja, a violência era a lei. O legal
e o constitucional eram ditados por ele. O que fazia Lula? Em
cerimônias no Palácio do Planalto, colocava o boné do MST! A sua cabeça
estaria no lugar em que verdadeiramente acredita?
Na
verdade, o governo Temer e, em seu prolongamento, o governo Bolsonaro
acertaram em suas políticas fundiárias. Além de cortarem as fontes de
financiamento das invasões do MST, partiram para a titularização dos
assentamentos. Até então, os assentados eram uma massa de manobra do MST
e, indiretamente, do PT, que ali podiam exercer sua tutela política.
Opunham-se a esse processo de titularização pois um assentado que se
torna proprietário torna-se uma pessoa com direitos, um cidadão, capaz
de decidir por si mesmo de forma autônoma. Torna-se, no sentido estrito,
um agricultor familiar, um proprietário, colhendo o fruto de seu
próprio trabalho. Não precisa mais fazer militância no MST nem
participar de suas invasões.
Lula,
como costuma fazer em suas fantasias sobre os governos petistas –
embora evite o quanto pode falar do governo de sua sucessora, como se
lhe suscitasse uma reação alérgica –, procurou enaltecer os
assentamentos do MST. Dilma, com muito mais realismo e perspicácia,
qualificou, com razão, estes mesmos assentamentos de “favelas rurais”.
Onde está a verdade, na versão idílica ou na real, em claro contraste
entre dois discursos petistas?
Se
algo inovador houve nas manifestações de Lula, reside em sua
apresentação dos assentamentos como cooperativas. Ainda segundo ele,
seria essa a nova realidade. Se for verdade, e se ele pensa seguir por
este caminho, estaremos diante de uma grande mudança ideológica. Seria o
abandono do modelo emessista, baseado numa suposta propriedade
coletiva, que na União Soviética já tinha mostrado todo o seu potencial,
não produtivo, mas destrutivo, levando à morte milhões de agricultores.
Isto é, seria o reconhecimento da propriedade privada como forma de
desenvolvimento econômico e agrário do País. Seria, nesse sentido, muito
importante que o PT levasse adiante essa ideia em seu plano de governo,
tendo como fundamento a propriedade privada, cujo pressuposto é a
titularização dos assentamentos. De quebra, haveria o abandono de um
discurso retrógrado socialista/comunista.
Nada,
infelizmente, é tão simples. O líder do MST, João Pedro Stédile, logo
aproveitou a deixa de Lula para a retomada de seu discurso comunista,
baseado na luta de classes. Segundo ele, seria o momento do retorno às
invasões, contando novamente com o beneplácito de um governo petista.
Procura ele, mais uma vez, ditar a lei, senão o horror da violência, no
campo, contando com esta “justificativa”, há muito ultrapassada, da luta
contra o latifúndio e a propriedade improdutiva. Propriedade
improdutiva só existe em sua cabeça, segundo sua ideologia marxista,
tendo a história já mostrado todo o seu poder devastador. O campo
brasileiro é, hoje, moderno e produtivo, e está nas primeiras posições
entre os maiores produtores de alimentos do planeta. O mundo depende do
Brasil. É o seu alvo?
Neste
contexto eleitoral, mal não faria o candidato Lula da Silva ao
explicitar suas posições, sem tergiversar. O reconhecimento dos erros
passados seria já um grande avanço!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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