A
experiência imersiva em realidade virtual "Finally Me (Finalmente Eu)"
(Brasil, 2023) compete no Festival Internacional de Cinema de Veneza.
Apenas duas obras brasileiras disputam o Leão de Ouro esse ano: o filme
co-produzido por Kleber Mendonça Filho “Sem Coração”, que compete na
mostra competitiva Orizzonti, e "Finally Me" na mostra imersiva.
O GLOBO entrevistou o cineasta
nesta quarta-feira e falou sobre as perspectivas do mercado de
realidade virtual e audiovisual: "Para assistir ao trabalho do carioca
Sal, é preciso estar munido de óculos especiais como o Meta Quest 2,
modelo que é um dos líderes do mercado e com o modelo nº 3 a caminho,
disponível em outubro. A partir de janeiro, porém, ele ganhará um
concorrente e tanto, o Apple Vision Pro, da famosa fabricante de
computadores, celulares e gadgets criada por Steve Jobs. A entrada da
companhia na seara da chamada realidade estendida, que engloba a RV, é
um dos fatores que estão levando a uma nova fase neste mundo da imersão:
uma certa corrida entre criadores de audiovisual para ter conteúdo
disponível para quem estiver disposto a mergulhar de corpo e alma nele."
Segundo
o diretor, Marcio Sal, "Finalmente Eu" é uma experiência que estimula o
indivíduo a abraçar sua singularidade e se expressar plenamente: "Nossa
sociedade é muito cruel com as minorias. Comigo, como gay, não foi
diferente e inúmeras vezes me senti constrangido pelos outros. Assim
como o Seu Saul, que tem um chifre de unicórnio oculto sob o chapéu,
cheguei a me esconder a ponto quase deixar de existir. De certa forma, a
jornada do personagem é a transformação pela qual passei e acredito que
outras pessoas poderão se identificar.”
Para
Marcio, usar a pintura à mão na construção da estética da experiência
foi bastante importante: "Queria receber o espectador em um ambiente
aconchegante para viver essa história tratada com tanta delicadeza. Além
disso acredito que essa abordagem artística surpreende, pois contrasta
com o ambiente high tech da Realidade Virtual. É como se o usuário
mergulhasse em uma tela a óleo".
A
experiência foi desenvolvida durante o período de lockdown, quando a
sensação de confinamento estava no auge: "Senti liberdade quando
coloquei um óculos VR e comecei a desenhar em um ateliê virtual. Então
pensei que podia amplificar as emoções por meio dessa arte imersiva e
tocar as pessoas com assuntos profundos. Foi quando o mundo do Seu Saul
me veio à mente."
Ainda
segundo o diretor, o projeto é uma homenagem ao Carnaval: "Busquei
trazer a carnavalização como motor libertador da história. O carnaval
pós-covid de 2022 tem uma semelhança com o que aconteceu após a gripe
espanhola em 1919, uma espécie de demanda que estava reprimida. Por isso
ambos são trazidos na experiência como veículos da libertação de Seu
Saul”
Felipe
Haurelhuk, um dos produtores do filme, reforça a mensagem da obra
através da reação dos usuários: "A experiência imersiva em VR funciona
como uma ferramenta tecnológica ainda mais marcante porque potencializa a
criatividade e a visão de mundo de qualquer artista. É emocionante ver
as possibilidades que esse novo campo abre para o futuro da narrativa
audiovisual".
Eduardo
Calvet, o terceiro sócio da IDEOgraph, acrescenta: “Em nossa produtora,
pretendemos combinar inovação com narrativa poderosa. Nossos projetos
anteriores incluíram um documentário imersivo sobre um palácio de cinema
perdido, mergulhado no declínio dos cinemas de rua. 'Finalmente Eu'
explora temas de abandono e a essência da liberdade em sua forma mais
expansiva".
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