BLOG ORLANDO TAMBOSI
A teoria socialista não tem nada a ver com ciência, escreve Antony Mueller no Instituto Mises:
Introdução
Em 1922, Ludwig von Mises publicou o seu livro “Socialismo: uma análise econômica e sociológica" (“Die Gemeinwirtschaft"). Em
mais de 500 páginas, o mais proeminente representante da Escola
Austríaca oferece uma apresentação abrangente e uma análise aprofundada
do "fenômeno socialista".
Apesar
das muitas catástrofes resultantes das tentativas de realizar o
socialismo, essa ideologia perdeu pouco de seu apelo. A civilização
moderna ainda está ameaçada pelo pensamento socialista e pelas políticas
que dele decorrem. O marxismo primeiro envenena as mentes, depois toma a
política e, finalmente, aparece destrutivamente como um poder de
dominação. É por isso que é tão importante compreender os fundamentos
espirituais do socialismo. Não há melhor base para isso do que estudar
essa obra prima de Ludwig von Mises.
Por que o socialismo triunfou?
“Por volta de meados do século 19, a ideia de socialismo parecia descartada”, escreve Mises[i].
Foram expostos os erros de raciocínio em que o socialismo se baseou. As
tentativas práticas falharam. Mas então veio Karl Marx (1818-1883) e
criou a estrutura do marxismo como uma doutrina da “antilógica,
anticiência e antipensamento”.
A
influência de Karl Marx tem sido destrutiva em muitos aspectos.
Primeiro, ele contradisse a universalidade da lógica. De acordo com os
ensinamentos marxistas, a lógica deveria ser considerada como
"secundária". Em segundo lugar, ele colocou a metodologia da dialética
de Hegel "de cabeça para baixo". Não é o "espírito do mundo" hegeliano
que determina a dinâmica da história, mas a "subestrutura", o
desenvolvimento econômico e técnico. Em terceiro lugar, Marx afirmou que
sua abordagem era "científica" no sentido de que seu método poderia ser
usado para encontrar leis históricas semelhantes às leis da ciência, e
que uma dessas leis diz que a história mundial levaria
deterministicamente ao socialismo.
Marx
reinterpretou o que Hegel havia chamado de "fim da história" e colocou o
socialismo no ápice da perfeição do mundo terreno. Tudo o que se
precisava fazer para alcançar o paraíso socialista era a socialização
dos meios de produção. Essa era a tarefa do proletariado.
Apresentar
a inevitabilidade histórica do socialismo como “cientificamente
comprovada” se encaixa muito bem com o zeitgeist de meados do século 19.
O “materialismo histórico” pretende ser colocado no mesmo nível do
conhecimento das ciências naturais ou da teoria da evolução de Darwin. O
patrocinador e colaborador de Marx, Friedrich Engels (1820-1895),
verifica o feito de Karl Marx no elogio ao companheiro da seguinte
forma:
“Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, Marx descobriu a lei do desenvolvimento da história humana: o simples fato, até então oculto sob o crescimento ideológico, de que os homens devem primeiro comer, beber, habitar e vestir-se antes de poderem se envolver na política, na ciência, na arte, na religião etc.; isto é, a produção dos alimentos materiais imediatos e, portanto, o respectivo estágio de desenvolvimento econômico de um povo ou de um período de tempo constituem a base a partir da qual se desenvolveram as instituições estatais, os pontos de vista jurídicos, a arte e mesmo as ideias religiosas das pessoas em questão, e a partir da qual elas também devem ser explicadas – e não, como aconteceu até agora, o contrário” (Friedrich Engels, 1883).
Segundo
Friedrich Engels, Marx descobriu “a lei especial do movimento do modo
de produção capitalista de hoje e da sociedade burguesa que ele gera”. A
chave para essa constatação foi a “descoberta da mais-valia”. Essa
constatação “de repente lançou luz” sobre a penetração científica das
leis capitalistas do movimento.
O
conceito de mais-valia é um aspecto central da crítica de Marx ao
capitalismo. Ao ignorar o papel do empresário como tomador de riscos e a
função do capitalista de prover o financiamento durante o tempo do
processo de produção, Marx afirmava que a “mais-valia” era exploradora.
É
revelador quando Engels afirma em seu elogio que Marx foi, antes de
tudo, um revolucionário e que a ciência lhe serviu como meio para
perseguir seus objetivos revolucionários. Engels confirma que mesmo os
escritos econômicos de Marx só podem ser adequadamente entendidos como
um meio de ajudar a revolução comunista.
Que
Marx não era um cientista ou estudioso, mas sobretudo um comunista, e
que sua obra deve ser vista desse ponto de vista, foi sucintamente expresso
por Murray Rothbard da seguinte forma: “A chave do complicado e massivo
sistema de pensamento criado por Karl Marx (…) é basicamente simples:
Karl Marx era comunista. Friedrich Engels confirma que Marx foi um
revolucionário comunista que se preocupou acima de tudo “em participar
da derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais
criadas por ela”.
Para
Mises, o “sucesso inigualável do marxismo” baseia-se no “fato de que
ele promete a realização de sonhos e de ressentimentos antigos
profundamente enraizados da humanidade”. Com a pretensão de validade
científica, o marxismo promete um paraíso na terra, “uma terra de leite e
mel cheia de felicidade e prazer e, o que tem um sabor ainda mais doce
para quem largou mal, humilhação de todos aqueles que são mais fortes e
melhores do que a multidão”.
De acordo com Ludwig von Mises:
“O incomparável sucesso do marxismo se deve à perspectiva que ele oferece de realizar as aspirações oníricas e os sonhos de vingança que foram tão profundamente enraizados na alma humana desde tempos imemoriais. O marxismo promete um paraíso na Terra, uma terra de desejo dos nossos corações, cheia de felicidade e prazer, e — de forma até mais doce para os perdedores no jogo da vida — humilhação para todos os que são mais fortes e melhores do que a multidão”.
A transformação do discurso socialista
Desde
o seu surgimento como ideologia, o atrativo do socialismo é que aqueles
que defendem medidas socialistas são considerados "amigos do bem, do
nobre e do moral". O socialista considera-se "um altruísta defensor de
uma reforma necessária, em suma, como alguém que abnegadamente serve o
povo e toda a humanidade, mas sobretudo como um verdadeiro e intrépido
investigador". Por outro lado, quem aborda o socialismo com os padrões
do pensamento científico "é tratado como defensor do princípio do mal,
como um mercenário imundo dos interesses especiais egoístas de uma
classe nociva ao bem comum e como um ignorante".
Pouco
mudou neste teor até hoje. Enquanto, após o fim da União Soviética em
1991, parecia que a ideologia comunista tinha tido seu fim para sempre,
estamos experimentando uma nova onda de simpatia pelo socialismo há
algum tempo. Em nosso tempo, o entusiasmo pela economia planificada
socialista não vem com bandeiras vermelhas nas ruas, mas com um “manto
verde”, como “justiça social” e principalmente em seminários acadêmicos e
em talk shows de televisão.
Quem
não poderia concordar hoje com o que Mises afirma para sua época, de
que se tornou costume falar e escrever sobre assuntos de política
econômica sem ter pensado profundamente no assunto em questão. A
incompetência econômica brilha intensamente na esfera pública. Entre os
economistas profissionais, a mídia prefere aqueles que expressam uma
atitude anticapitalista.
A
discussão pública das questões vitais da sociedade humana tornou-se
“desespiritualizada”, escreve Mises. A tagarelice irracional conduz a
política por caminhos “que levam diretamente à destruição de toda a
cultura”. Assim como há mais de cem anos, parece “um começo sem
esperança para convencer os fervorosos adeptos da ideia socialista da
perversidade e do absurdo de suas visões pelo raciocínio lógico”. Hoje,
como antes, os adeptos do socialismo não são passíveis de qualquer
argumento “que não queiram ouvir, não queiram ver e, sobretudo, não
queiram pensar”.
No
mundo de hoje, o exemplo dado por Marx e Engels continua com seus
seguidores. Em vez de refutar com argumentos, os socialistas insultam,
ridicularizam, zombam e caluniam os seus adversários. Suas polêmicas
nunca são direcionadas contra as declarações, sempre contra a pessoa do
adversário. Não são muitos os que resistem a esses ataques. Sempre foram
poucos os que tiveram a coragem de criticar impiedosamente o
socialismo, como deveria ser o dever do pensador científico.
No
entanto, Mises acalentou a esperança de que, no futuro, as novas
gerações cresçam “de olhos e mente abertas”, que “abordem as coisas com
imparcialidade e sem preconceitos” e que “ousem e testem”, que comecem a
pensar novamente e que ajam com prudência. Mises dedica seu livro a
essas novas gerações. Em retrospectiva, porém, é preciso afirmar que
essa geração iluminada ainda não apareceu. Portanto, na terceira década
do século XXI, continua sendo nosso dever criticar o socialismo.
Como
na época em que Mises escreveu, o mesmo desafio e tarefa surge para o
nosso tempo, porque o socialismo ainda é um profundo equívoco de muitas
pessoas. A teoria socialista preenche o pensamento e o sentimento das
massas e as empurra para o socialismo. Como na época da primeira
publicação de “Socialismo”, também devemos admitir que vivemos na “era
do socialismo”.
Conclusão
Mises
diz, e devemos concordar com isso para hoje, que não há nenhum partido
político influente em torno da ideia de que “devemos ousar defender
franca e livremente a propriedade exclusiva dos meios de produção”.
Naquela época, como agora, a palavra “capitalismo” é ostracizada e usada
como distintivo para denunciar “a soma do mal”. O socialismo é a ideia
dominante: “Mesmo os opositores do socialismo estão totalmente sob o
feitiço de suas ideias”.
Enquanto
o fracasso do comunismo em trazer prosperidade e liberdade para as
pessoas se tornou evidente, o pensamento marxista socialista continua a
florescer como ideologia na academia, na educação e na mídia. Disfarçado
de defensor da justiça social, da igualdade e da “proteção climática”,
os atuais socialistas trabalham em direção a uma economia planificada.
Como antes na história, como drasticamente demonstrado pela revolução
russa em 1917,
os ativistas socialistas de hoje podem ter boas intenções, mas,
trabalhando para o estabelecimento de uma economia planificada,
inevitavelmente causam pobreza para as massas e, finalmente,
totalitarismo.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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