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De última hora, Bolsonaro tentou liderar um boicote ao projeto da Reforma Tributária. Fracassou, e viu encolher sua influencia na oposição. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
Tarcísio
de Freitas bem que tentou alertar Jair Bolsonaro e seus
correligionários do PL. Em um encontro com os bolsonaristas, o
governador de São Paulo disse: "Nós não podemos perder a narrativa. A
direita não pode perder a narrativa de ser favorável na Reforma
Tributária. Senão, ela acaba sendo aprovada, e quem aprovou?". O apelo a
uma reflexão racional e estratégica rendeu a Tarcísio vaias,
interrupções grosseiras e provocações num ambiente ideologicamente
delirante em que a contrariedade aos posicionamentos do ex-presidente é
tomada como heresia e alta traição. De última hora, Bolsonaro tentou
liderar um boicote ao projeto. Fracassou, e viu encolher sua influencia
na oposição.
A
Reforma Tributária em discussão no Congresso Nacional nunca foi a
“reforma do PT”, como disse Bolsonaro. Sua construção nasce do projeto
original de autoria do deputado Baleia Rossi, do MDB. Foi, é verdade,
encampada pelo governo Lula, que tratou de elegê-la como prioridade para
discussão no Legislativo no inicio do mandato, mas daí a dizer que ela
segue as concepções dogmáticas do PT e constitui um texto de esquerda
não passa de vigarice. O próprio Lula, alias, afirmou que ela não era
exatamente a reforma que ele ou Haddad desejavam, mas que “tudo bem”.
No
início da semana, Arthur Lira anunciou que empreenderia “esforço
concentrado” para votar a Reforma Tributária até o final da semana.
Cancelou todo o restante da agenda da Câmara e tratou de iniciar as
articulações para reunir os votos necessários de maneira a aprová-la.
Lira
foi construindo o apoio juntando gente do centrão, da esquerda
lulopetista e da direita. Não era tarefa fácil, até porque, em boa
medida, nunca se tratou de um assunto essencialmente ideológico, mas sim
da busca por conciliar uma série de interesses contraditórios e atenuar
arestas entre partes que poderiam ver suas demandas preteridas. Na
manifestação que fez na tribuna antes da votação do primeiro turno,
tratou de deixar claro que a Reforma Tributária não era “joguete
político”. Foi um recado ao ex-presidente.
A
maior parte da resistência inicial ao esforço em favor do texto, alias,
veio de Tarcísio. Por razões técnicas, diga-se. Ele foi o primeiro a
vocalizar a inconformidade de governadores do Sul e do Sudeste com
aspectos relevantes do projeto, principalmente pelo risco de
desequilíbrio representativo no Conselho que vai administrar o futuro
Imposto sobre Bens e Serviços (que unificará o ISS e ICMS) e pela
eventual perda de autonomia dos entes federados.
Usou
o poder e a influência do estado de São Paulo para pressionar mudanças
que aprimoraram a versão final do texto. Quando entendeu que havia
avançado o suficiente, o governador de São Paulo tratou de se manifestar
favoravelmente pela aprovação. Fez política maiúscula, e saiu vencedor
na discussão.
Gente
séria defendeu e criticou a reforma de forma técnica. É do jogo. É
forçoso reconhecer, entretanto, que seria impossível chegar a um
denominador comum que agradasse a todos. Modificações estruturais
profundas como essa nunca são a materialização do idealismo, mas da
realidade. A política, afinal, é “arte do possível”, para citar Fernando
Henrique Cardoso.
Ainda
que não seja perfeita, a Reforma Tributária pode dar ganho de
produtividade ao país, diminuir demandas judiciais, facilitar
investimentos, aumentar a previsibilidade econômica e facilitar a vida
da sociedade como um todo. Os atores que a apoiaram poderão colher os
frutos políticos de seus resultados benéficos. Lira dirá que o Congresso
foi protagonista em outra matéria relevante, Lula dirá que o empenho do
governo foi fundamental e Tarcísio que ajudou a aprimorar a versão
final do texto. Bolsonaro, que poderia passar ao largo da discussão sem
acumular desgaste, ficará como dono exclusivo da derrota, apenas porque
acha que fazer oposição é desejar o quanto pior melhor.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi
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