Não existia até aqui uma maneira de medir o grau de proteção diretamente no sangue de um indivíduo, ou acompanhar a evolução do seu grau de proteção. Novidade pode trazer informação. Artigo do biólogo Fernando Reinach para o Estadão:
Até agora você podia assumir que estava parcialmente protegido contra as formas sintomáticas da covid-19,
caso você tivesse completado sua imunização com duas doses nas últimas
duas semanas. Suas chances de ter a doença também é mais baixa se você
já foi infectado pelo Sars-CoV-2 e apresentado a doença no passado. Mas
não existia uma maneira de medir o grau de proteção diretamente no
sangue de um indivíduo, ou acompanhar a evolução do seu grau de
proteção. A novidade é que agora foi demonstrado que a quantidade de
alguns anticorpos no sangue está diretamente correlacionada ao nível de proteção da pessoa.
De
maneira simplificada, existem três tipos de exames que medem a
quantidade e o tipo de anticorpo presente no sangue. O primeiro mede a
quantidade de anticorpos contra a proteína N (núcleoproteina). Esses
anticorpos aparecem em todas as pessoas que foram infectadas pelo vírus,
mas não nas que foram vacinadas. E a razão principal é que a proteína N
não faz parte da composição de grande parte das vacinas e, portanto,
somente vacinados não apresentam esses anticorpos no sangue. Na cidade
de São Paulo, usando esse método foi possível determinar que 42% dos adultos já haviam sido infectados no início de maio de 2021 (https://www.monitoramentocovid19.org/)
O
segundo tipo de exame detecta anticorpos contra a espícula do vírus (os
chifrinhos). Esses anticorpos aparecem em pessoas infectadas e nas que
foram vacinadas. Isso ocorre porque todas as vacinas têm em sua
composição a espícula ou parte dela.
O
terceiro tipo de exame detecta os anticorpos neutralizantes – que
aparecem nas pessoas infectadas e nas vacinadas. Eles impedem que o
vírus penetre nas células humanas. Já se imaginava que a quantidade de
anticorpos neutralizantes no sangue de uma pessoa deveria estar
correlacionada ao nível de proteção, mas isso não havia ainda sido
comprovado.
Em
um novo estudo, cientistas ingleses identificaram 4.372 pessoas que
haviam sido vacinadas com as duas doses da AstraZeneca 28 dias antes do
início do estudo e que não haviam sido infectadas pelo coronavírus. Em
cada uma delas a quantidade de anticorpos neutralizantes e de anticorpos
contra a espícula foi medida no dia inicial do estudo. Essa medida
permitiu saber exatamente a quantidade de anticorpos de cada tipo que a
pessoa tinha produzido em função de ter sido vacinada. Seguidas durante
88 dias, 1.404 pessoas contraíram o vírus, mas não apresentaram sintomas
– e 171 contraíram e apresentaram sintomas. Ou seja, só 4% das pessoas
vacinadas apresentaram a forma sintomática da doença nesse período, mas
quase 36% contraíram o vírus.
Como
os cientistas tinham os dados sobre a quantidade de anticorpos
presentes no sangue de cada uma dessas pessoas, foi possível relacionar
essa quantidade de anticorpos com a chance de ser infectado e a
gravidade da doença. Os resultados são absolutamente claros: quanto
maior a quantidade de anticorpos neutralizantes e de anticorpos contra a
espícula, menor a chance de a pessoa apresentar sintomas. Por exemplo:
pessoas que têm 22 unidades de anticorpos neutralizantes têm uma chance
60% menor de contrair infecções sintomáticas quando comparadas com as
que não possuem esses anticorpos. Já as que têm 938 unidades têm uma
chance 90% menor.
Essa
correlação é valida para todos os anticorpos contra a espícula do vírus
ou de parte da espícula e para as infecções sintomáticas. Mas não para
as assintomáticas. Estudo da Moderna deu resultados iguais. Esse
resultado permite saber se nossa proteção, a cada momento, é alta,
baixa, ou está caindo.
Em
São Paulo, o grupo de cientistas do qual participo acabou de medir a
presença de anticorpos neutralizantes na população de adultos. Com essa
medida será possível estimar não somente a fração dos paulistanos já
infectados, mas a quantidade dos parcialmente protegidos e seu nível de
proteção. Os resultados estão sendo analisados e provavelmente serão
divulgados nas próximas semanas. Posso adiantar que são animadores.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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