Eduardo Gonçalves
O Globo
Apesar do nome “União Brasil”, o novo partido formado a partir da fusão entre PSL e DEM já enfrenta disputas locais em torno de quem comandará os diretórios nos estados. A aprovação ocorrida nesta quarta-feira, na convenção de Brasília, foi só a primeira etapa — e já demorou três meses de negociações.
Agora, os dirigentes da legenda terão mais quatro meses (até a abertura da janela partidária) para definir quem dará as cartas em cada unidade da federação. Mas ainda estão longe de chegar a um consenso, principalmente em dois importantes colégios eleitorais do país, São Paulo e Rio de Janeiro.
PROBLEMAS NO RIO – O presidente estadual do DEM do Rio, Sóstenes Cavalcante, anunciou que abandonará “na mesma hora” a sigla caso o presidente do PSL fluminense, prefeito de Belford Roxo, Waguinho, assuma o comando do União Brasil no estado. “Ontem, quando vi que ele seria o presidente do diretório, liguei na mesma hora para o Luciano Bivar (presidente do PSL) e o ACM Neto (presidente do DEM). Eles me garantiram que não está nada resolvido” — disse Sóstenes, que votou a favor da fusão dos dois partidos.
Waguinho se encontrou nesta terça-feira com ACM Neto, agora secretário-geral do União Brasil. No Rio, o novo partido ainda negocia a filiação de políticos da família do ex-governador Anthony Garotinho e do ex-deputado Eduardo Cunha.
“Com esse tipo de gente eu não caminho” — completou Sóstenes, que é muito ligado ao pastor Silas Malafaia, aliado do presidente Jair Bolsonaro.
CRISE EM SÃO PAULO – O conflito se dá entre Júnior Bozzella, dirigente do PSL, e Milton Leite, do DEM. Presidente da Câmara Municipal paulistana, Leite é um dos principais aliados do governador do estado, João Doria (PSDB), e apoia abertamente a campanha ao governo do atual vice, Rodrigo Garcia (PSDB).
Já Bozzella vem trabalhando em prol de uma candidatura própria do União Brasil no estado, encabeçada pelo ex-governador Geraldo Alckmin, de saída do PSDB, ou do deputado estadual Arthur do Val.
“Nós não vamos abrir mão de ser cabeça de chapa nessa disputa” — disse Bozzella.
DEM SAI PERDENDO – Nos cálculos de dirigentes do União Brasil, o PSL deve ficar com 17 diretórios, e o DEM, com 10. Na divisão dos postos mais importantes, o PSL assumirá a presidência nacional, com Luciano Bivar, e a tesouraria, nas mãos de Maria Rueda. Já o DEM ficará somente com a secretaria-geral, sob o comando de ACM Neto, o que gerou a percepção de que o partido estaria saindo perdendo da fusão.
“Para fazer uma mudança dessa magnitude, o DEM teve que abdicar. Tivemos que ser generosos. Mas tudo pode mudar no desenho de 2023” — disse o ex-ministro Mendonça Filho (DEM), que ficou com o comando da Fundação Indigo.
Segundo Mendonça, uma regra que exige pelo menos 60% de aprovação da Executiva para a tomada de qualquer decisão equilibrou as forças dentro do União Brasil. “Se o PSL quiser fazer alguma coisa, ele vai ter que conquistar pelo menos 10% do DEM, e vice-versa” — disse ele.
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