Isabela Camargo e Wellington Hanna
TV Globo — Brasília
O juiz Frederico Botelho de Barros Viana, da 10º Vara Criminal da Justiça Federal, disse haver indícios de que o ex-ministro da Saúde Ricardo Barros (PP-PR), atual líder do governo na Câmara, pressionou servidores da pasta para o pagamento antecipado de quase R$ 20 milhões à empresa Global Saúde para compra de remédios que a empresa não tinha condições de entregar.
A TV Globo teve acesso à decisão da Justiça que autorizou a Polícia Federal a cumprir mandados na operação Pés de Barro, deflagrada em setembro deste ano. Ricardo Barros nega ter cometido irregularidades. Os advogados da Global Saúde argumentam que não há provas de ilegalidade e que a operação violou garantias fundamentais.
ERA MINISTRO – A operação apura fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo pelo Ministério da Saúde, entre maio de 2016 e março de 2018, período em que Barros — atual líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados — comandava a pasta, durante o governo do então presidente Michel Temer.
Um dos servidores da Saúde que depôs à Polícia Federal e relatou pressão de Barros e do diretor de Logística do ministério, Davidson Tolentino, para o repasse da verba à Global foi Luis Ricardo Miranda — irmão do deputado federal Luís Miranda (DEM-DF).
Com base no depoimento de Luis Ricardo Miranda e de outros quatro servidores da Saúde, a Polícia Federal informou à Justiça ter colhido provas de que a cúpula do ministério sabia que a Global Saúde não tinha os medicamentos para entrega e que a empresa não era habilitada para a compra dos produtos. Mesmo assim, os dirigentes da Saúde teriam agido para que a compra prosseguisse.
VACINA COVAXIN – Em depoimento à CPI da Pandemia em junho deste ano, Luis Ricardo Miranda relatou que também sofreu pressões de superiores do Ministério da Saúde para agilizar o processo de autorização para a importação da vacina indiana Covaxin.
Pelo fato de as investigações da CPI da Pandemia e da Polícia Federal se cruzarem, a justiça autorizou os mandados da operação Pés de Barro. O argumento era o receio de que provas pudessem ser destruídas — já que a apuração do Senado Federal é pública.
A contratação envolve a empresa Global Saúde, sócia da Precisa Medicamentos – arrastada para o centro das investigações da CPI da Covid após suspeitas de irregularidades nas tratativas de compra da vacina indiana Covaxin.
INFLUÊNCIA POLÍTICA – Sem citar o nome de Barros, o delegado José Augusto Versiani afirmou que o esquema não seria comandando por Francisco Maximiano, dono da Global e da Precisa Medicamentos, mas por alguém com “influência política”.
“Sabe-se que a subtração de dinheiro público não foi coordenada por Francisco Emerson Maximiano, mas por alguém que tinha influência política para efetuar nomeações no ministério da saúde, os quais operavam pressionando servidores para que empresas fossem favorecidas e procedimentos de compra e pagamento fossem efetuados fora da legalidade”, afirmou.
O depoimento do servidor Victor Lahud cita diretamente a suposta interferência de Barros. Ele afirmou aos investigadores que antes do pagamento houve muita pressão dos superiores para a liberação dos valores e que se recusou por entender que não estavam preenchidos os requisitos para justificar a antecipação do pagamento.
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