Essa é uma daquelas peças que a vida nos prega: nunca imaginei que um dia escreveria um texto sobre absorventes. Via Gazeta, a crônica de Paulo Polzonoff:
O
absorvente higiênico feminino está na moda. Tudo porque uma deputada
ingenuamente acreditou numa pesquisa que dizia que 25% das meninas
faltam às aulas por não terem dinheiro para comprar o produto. A
deputada, ela própria uma consequência da política-de-slogans que faz a
cabeça dos jovenzinhos, passou a ser uma ativista de uma causa
improvavelmente batizada de “pobreza menstrual”.
O
assunto tomou conta das redes sociais. E o presidente Jair Bolsonaro,
antes vilão por causa de um sem-número de declarações infelizes (outro
dia mesmo ele disse “bom dia”. Veja só que absurdo!), agora também é
vilão por vetar uma lei proposta pela deputada (que, curiosamente, não é
filiada ao PCdOB) que previa a distribuição de absorventes a meninas
pobres, para que elas não faltassem às aulas.
(Aliás,
me permita abrir um parêntese aqui para contar que outro dia vi uma
matéria daquelas bem sentimentais, mas bem sentimentais mesmo, com
pianinho deprimente e tudo, e que mostrava a miséria em algum rincão do
país. Por insondáveis motivos, o jornalista decidiu incluir o termo
“pobreza menstrual” na matéria. De tão absurdo, o termo chamou minha
atenção. Ergui os olhos para a TV e encontrei na tela a figura de uma
moça muito pobre, numa favela. Com os braços cheios de tatuagem e o
indefectível celular na mão, ela reclamava da falta de comida e
absorventes).
Nessa
balbúrdia toda envolvendo absorventes, o antibolsonarismo psicótico deu
as caras, provando ser um vírus social que não poupa nem mesmo os mais
liberais. Pois não é que teve libertário defendendo a distribuição de
absorventes – e ainda por cima dizendo que essa distribuição é gratuita?
Na hora de ir contra o presidente, os liberais de ocasião passam por
cima de Mises sem a menor vergonha. Afinal, se julgam livres também para
isso.
Absorventes e líquido azul
O
resultado é que agora todo mundo tem uma opinião sobre menstruação. Até
eu, que nunca tive opinião sobre o assunto e sempre me resignei a
passar o pacote de absorventes alheio pelo caixa do supermercado com
aquele constrangimento típico dos homens nessa situação. De repente, não
menos do que de repente, me vi aqui pensando até no vocábulo que, não
sabem os novinhos e novinhas, é bem recente.
“Absorvente”,
para mim, sempre foi sinônimo de Modess. Ou melhor, modess – a letra
minúscula indicando a transição da marca ao vernáculo popular, como
acontece com a gilete. Modess era palavra dita entre sussurros, pelas
mulheres, e entre o riso e a ignorância constrangida, pelos homens. Era
aquela coisa que eu, criança, sabia que existia, mas não tinha a menor
ideia de para que servia. Até uma fatídica aula de ciências na escola,
quando tudo então ficou mais ou menos esclarecido.
Aliás,
a própria palavra “menstruação” é algo que escrevo constrangido. E não
porque me falte lugar de fala. Não estou nem aí para lugar de fala. Não
acredito em lugar de fala. Enquanto eu tiver coordenação motora para
escrever e o São STF permitir, pretendo poder escrever sobre tudo. Nem
que seja para falar bobagem. E, se for bobagem, ao menos que desperte o
riso em alguém. Mas eu falava sobre o constrangimento de escrever a
palavra “menstruação”. O que mesmo eu pretendia falar sobre isso?
Sei
lá. Só sei que outro dia mesmo estava me lembrando de uma das poucas
aulas que tive na faculdade de Comunicação. Se não me falha a memória
falha, era uma aula de Teoria da Comunicação e o professor falava sobre
as propagandas de absorventes, digo, modess, que naquela época usavam
sempre um líquido azul para demonstrar o poder de absorção do
equipamento. “Eles jamais usariam um líquido vermelho, porque as pessoas
teriam nojo disso”, disse o professor. Que pode muito bem ter sido uma
professora. Realmente não lembro. Qual não foi minha surpresa, então, ao
descobrir que em 2017 uma empresa britânica mandou às favas os
escrúpulos menstruais e passou a veicular um comercial que usava
sangue?!
Deixando
as questões cromáticas de lado, resta-nos rir do comunismo ginecológico
de Tabata Amaral. Rir do fato de ele se basear em estatísticas
suspeitas. Rir da premissa falsa de que o Estado deve prover tudo,
inclusive artigos de higiene pessoal. Rir da ideia de que o Estado é
capaz de fazer isso de uma forma minimamente eficiente. Rir até da
“generosidade” da indústria, sempre disposta a colaborar com causas
sociais, desde que elas envolvam dinheiro público. E, por fim, rir da
sinalização da virtude dos oportunistas de sempre – os mesmos que
correrão para dizer que não tenho lugar de fala para escrever sobre o
assunto.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário