Governo compra parlamentares para o baixo clero corrupto ficar no poder. José Nêumanne, via Estadão:
Desde
21 de abril o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), mandou a Polícia Federal (PF) investigar para descobrir
financiadores e participantes de atos antidemocráticos que pregavam
intervenção militar com Bolsonaro no poder. E o fechamento do Congresso e
do “excelso pretório”. Na semana passada, a delegada encarregada,
Denisse Dias Rosas Ribeiro, declarou-se incapaz de denunciar quem
participou da subversão às portas do Quartel-General do Exército e quem
pagou os fogos de artifício com que os fascistoides fingiram bombardear a
sede do STF.
O
ministro da Justiça do primeiro governo Lula, o criminalista Márcio
Thomaz Bastos, tentou cobrir o sol com a peneira quando foi revelado que
a PF fez escutas telefônicas não autorizadas pela Justiça de ministros
do STF e do filho do ex-presidente. “É uma polícia republicana”, mentiu.
Mas a PF não era guiada pela hierarquia funcional, e, sim, por
petistas, liderados por Paulo Lacerda, que foi seu diretor, bem como da
Agência Brasileira de Inteligência (Abin), tucanos e viúvas do xerife
Romeu Tuma. Há algum tempo, quem manda é Bolsonaro. Na sua facção milita
o federal não identificado que delatou, segundo o empresário Paulo
Marinho, ao então deputado estadual Flávio Bolsonaro que a Operação
Furna da Onça fora adiada para evitar prejuízos à chapa de seu pai no
segundo turno da eleição. E que o factótum do gabinete dele na
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Fabrício
Queiroz, teve pilhadas em sua conta pessoal “movimentações atípicas”
pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
O
Grupo de Atualização Especializada em Combate à Corrupção (Gaecc) do
Ministério Público do Rio (MP-RJ) reuniu provas de quatro crimes
praticados pelo primogênito do presidente: peculato (uso de dinheiro
público em benefício próprio), corrupção, lavagem de dinheiro e
organização criminosa. Dos 22 membros, uma foi nomeada pelo atual
procurador-geral do Rio, Luciano Matos. E as outras 21 nomeações estão
no freezer. Cláudio Castro, governador de plantão no Rio, é íntimo da
famiglia Bolsonaro, em especial do filhote 001. O novo chefe do MP-RJ
foi o mais votado entre os colegas, liderando a lista tríplice que foi
encaminhada a Castro. Não se sabe como será conduzido o inquérito, que
sofre bombardeio pesado de órgãos da Presidência da República. O pai em
pessoa chefiou uma reunião da Abin e o Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), para, no mínimo, apresentar queixumes das advogadas
de defesa do acusado, que nunca apresentou um argumento documentado
contra o libelo dos procuradores, sempre recorreu a órgãos superiores do
Judiciário para paralisar e obstruir seu trabalho.
Esse
não foi o caso do inquérito da delegada federal Ribeiro, que ignorou o
princípio fundamental do Código de Processo Penal (artigo 197), segundo o
qual fatos públicos e notórios dispensam provas. E ignorou atentados à
democracia, tais como o bombardeio com fogos de artifício da sede do STF
e o passeio do helicóptero de Bolsonaro com seu ministro da Defesa,
general Fernando Azevedo (de óculos escuros, tradicional figurino dos
tiranetes latino-americanos), em apoio a golpistas munidos de cartazes,
faixas e gritos de ódio à cidadania. Idêntica foi a atitude do juiz Ney
Bello, do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1), ao encerrar
inquérito sobre Frederick Wassef, ex-advogado de Flávio e lobista
assíduo da intimidade palaciana, dispensado de explicar a presença do
presidiário Queiroz em seu falso escritório de causídico de ocasião em
Atibaia. Na decisão, ele foi acompanhado por Maria do Carmo, amiga de
Flávio Bolsonaro e dada no STJ como madrinha de Kassio Marques, recente
indicação do pai Jair ao STF. Dos bastidores brasilienses consta que
Bello também é o favorito de Gilmar Mendes para o lugar de Napoleão
Maia, recém-aposentado no STJ.
Essa
dança macabra de cadeiras é rotineira em substituições de aposentados
nos tribunais superiores. Da mesma forma, as emendas bilionárias de
parlamentares foram assinadas pelo chefe do Executivo. Elas representam,
contudo, muito mais o poder do Centrão do que a força do capitão
artilheiro. O buraco, no caso, é mais embaixo: a garantia de impunidade
para condenados, denunciados, acusados e suspeitos de corrupção. Isso
confirma o que descreveu o desembargador paulista Fausto De Sanctis na
série Nêumanne Entrevista em meu blog no portal do Estadão. Mais do que
uma derrota das operações do tipo Lava Jato, trata-se de um retrocesso
para as priscas eras a elas anteriores. Bolsonaro assume o aparente
comando da operação “solta todos” porque ele, e não apenas os filhos,
sabe o que fez no verão passado. É o que acusou, explicitamente, o
deputado Kim Kataguiri, em outra entrevista dessa série.
Os
ratos fugiram dos porões e subiram à torre de comando, onde o suposto
capitão da nave a conduz para cruzeiro confortável, o mais distante
possível das tempestades armadas pelas operações de combate à corrupção e
às ações policiais contra o crime nesta república de bananas podres.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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