Imagine,
caro leitor, que você esteja em casa, e de repente um urso abra a porta
e entre na sala. Um urso amigável, fofinho, de seus, digamos, 400 kg.
Onde é que você irá acomodar o urso?
A resposta é simples: onde o urso quiser.
O
presidente Bolsonaro acaba de ganhar um urso. Acha que, pelo preço do
bicho, é o dono dele. Mas talvez o urso, feliz por ter encontrado um lar
tão agradável, se sinta o dono da casa. Pense no preço de alimentá-lo!
Bolsonaro
teve uma grande vitória. Provou que a maioria do Congresso, do PT à
direita não-bolsonarista, é conversável, sensível aos argumentos que um
Governo tem condições de apresentar em grande volume. A folha corrida
dos eleitos parece suficiente para barrar qualquer tentativa de
impeachment; não parece provável que, dada a pródiga gentileza com que o
presidente os recebeu, capaz de converter ferozes inimigos em prósperos
amigos, deixem de lutar para evitar que o bem-estar da família
presidencial seja perturbado.
O
problema é que os ursos têm grande apetite. É preciso alimentá-los
muito bem para que fiquem sossegados. Aquele urso bonzinho, lindo, fofo,
perfumado, amigável, já sabe onde aquela família simpática vai buscar a
boa alimentação a que está acostumado. Um urso faminto, irritado, pode
ficar perigoso, criar problemas ao dono. E se, de repente, o urso achar
que pode ser mais bem tratado pelos inimigos de sua atual família do que
por ela?
Ao vencedor
Parabéns, presidente Bolsonaro, pela vitória na Câmara e no Senado.
Vasto mundo
Uns
300 anos antes de Cristo, o rei do Épiro, Pirro, derrotou os romanos em
duas grandes batalhas, mas perdeu boa parte de seus soldados. E disse:
“Mais uma vitória como esta, e estarei perdido”.
Cenário
Bolsonaro
ganhou, se fortaleceu; Rodrigo Maia foi vencido e abandonado pelo DEM,
seu partido, e se enfraqueceu; ACM Neto, provando que é mais Neto que
ACM, viu seu DEM votar ao lado dos petistas da Bahia, seus maiores
adversários. Se há quem queira se unir para enfrentar Bolsonaro em 2022,
é bom se apresentar: os últimos que diziam pensar nisso cederam fácil.
Como macarrão, só era preciso botá-los na panela para que amolecessem.
Bastidores
A
situação ainda pode embaralhar-se, e não demora muito. Já houve briga
na chapa vitoriosa no Senado, porque prometeram os mesmos cargos para
MDB e PSD. Foi difícil de resolver. O pessoal do Centrão troca de
religião, de partido, de time, mas não mexam nos cargos que a briga é
feia. O Governo andou prometendo mais cargos do que tinha, mas isso tem
conserto: basta aumentar o número de ministérios e secretarias. O maior
problema é que o Centrão é insaciável, e mostra isso em seu passado
político: quando quem depende de seu apoio é ameaçado, o Centrão o
apoia, mas tem de haver novo acordo. E, sempre que consegue emplacar
alguma reivindicação, parte do princípio de que não haverá resistência a
novas exigências. Jogam bem, e pesado.
Pense
numa situação possível: uma greve de caminhoneiros, passeatas em
grandes cidades, campanha pelo impeachment. O Centrão tem parlamentares
suficientes para barrar essas coisas, mas quem trabalha de graça é
relógio.
Demagogia dá nisso
São
Paulo, a cidade da qual é prefeito, sofre com as atividades restritas
por causa da pandemia, e ele vai se aglomerar com torcedores no
Maracanã, só para ver seu time apanhar. É duro ser pé-frio, prefeito
Bruno Covas!
Esforço cívico em Brasília
O
Senado passou ao regime de home-office em março de 2020, por causa da
pandemia. De março para cá, teve três dias de “esforço concentrado”, com
atividade semipresencial. Mas, apesar de tudo, pagou R$ 1,8 milhão a
seus funcionários, por “horas extras”, entre abril e novembro. Deve
haver algum motivo para tanta hora extra, motivos que pessoas pouco
afeitas aos labores legislativos não têm como perceber. A propósito,
“labores legislativos”? É: o Senado abriu licitação para trocar
eletrodomésticos. Deve gastar R$ 630 mil na compra de 511 aparelhos,
entre os quais máquinas de lavar, batedeira, fornos de microondas e
forninhos elétricos. Tudo essencial para que Suas Excelências possam
desempenhar, mesmo à distância, o trabalho legislativo.
Esforço cívico no país
O
Hospital Amaral Carvalho, de Jaú, SP, uma referência nacional no
tratamento de câncer, abriu dez vagas por mês para mulheres com câncer
de mama atendidas por hospitais amazonenses. Com isso, dá às pacientes
um tratamento de primeira linha num hospital de excelência, abre espaço
para o atendimento de outros pacientes em Manaus. E é tudo inteiramente
gratuito. Não há pacientes pagos no Hospital Amaral Carvalho: há verbas e
serviços que o próprio hospital obtém da população de Jaú e o SUS,
ponto final.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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