Não quero dizer que privatizações não possam ocorrer nos próximos dois anos, mas se meu pessimismo lhes soa como “torcer contra”, é porque os fatos estão aí. Só não os vê quem não quer. Gabriel Wilhelms para o Instituto Liberal:
Pergunte
para qualquer liberal que mantenha, ainda hoje, um apoio frenético e
incondicional ao governo Bolsonaro a raiz de seu apoio e, de dez em cada
dez casos, receberás como resposta que se trata de um endosso às pautas
econômicas liberais, em especial às privatizações. Se na réplica você
apontar para o número de estatais já privatizadas nestes dois anos de
governo que se completam – zero -, certamente terás como resposta que o
problema é o Congresso, o qual estaria atravancando as privatizações, a
despeito do “espírito privatista” do governo. Bom, tivemos uma amostra
do quão genuíno é esse espírito com o discurso do presidente Bolsonaro
na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo)
nesta terça (15). Transcrevo a fala do presidente na ocasião: “Para quem
fala em privatização, enquanto eu for o presidente da República, essa é
a casa de vocês. Nenhum rato vai querer privatizar isso aqui para
beneficiar seus amigos”.
Tenho
certeza de que os habituados a “passar pano”, já tendo passado para
coisas muito piores, encontrarão a desculpa perfeita, talvez até
alegando, quem sabe, que o vídeo em que Bolsonaro fala claramente o
transcrito acima foi editado. É aí que se vê o quanto o apoio dessa
turma se dá com base em pautas econômicas e o quanto se dá por pura
paixão cega a um personagem político que sequer se esforça para ocultar
as suas contradições. Que Bolsonaro não é, nem nunca foi um liberal, já
escrevi diversas vezes, mas aqui há uma diferença entre os que aceitam
isso, mas veem como positivo o fato de ele ter nomeado Guedes, e os que,
a despeito da biografia altamente estatista do outrora deputado, juram
de pés juntos que ele é mais liberal do que o próprio Adam Smith. O
primeiro grupo só pode ser coerente se de fato cobrar aquilo por que
anseia – e se for realista ao reconhecer que o que se entregou até agora
é pífio e aquém do que o prometido, a despeito do otimismo delirante de
Guedes. Já o segundo grupo vai assistir ao presidente esbravejando
contra uma pretensa privatização da Ceagesp e fingir que nada aconteceu.
Já
é bastante ruim que uma parcela significativa dos liberais brasileiros
seja tomada por um economicismo exacerbado que os guia em tudo – eis um
dos males que precisamos superar -, mas é pior ainda que apoiem
incondicionalmente um governo, guiados por este mesmo economicismo, para
depois descobrirem que até isso era ficção. Claro, não quero com isso
dizer que privatizações não possam ocorrer nos próximos dois anos, mas
se meu pessimismo lhes soa como “torcer contra”, é porque os fatos estão
aí. Só não os vê quem não quer.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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