MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 5 de janeiro de 2020

PONTO DE VISTA: Lições de “Bob Esponja”

Por: Inaldo da Paixão Santos Araújo

Tribuna da Bahia, Salvador
04/01/2020 14:50
   


Tenho saudades dos desenhos animados dos meus tempos de menino. Como era bom ver Speed Racer, Jonny Quest, Manda-Chuva, Os Flintstones, Os Jetsons, entre tantos.
Mesmo sendo saudosista, não deixo de reconhecer a qualidade gráfica dos cartoons atuais. Dos novos personagens que encantam nossas crianças de hoje, tenho um carinho especial por Bob Esponja Calça Quadrada.
Bob Esponja, segundo a revista Times, está entre os 100 melhores programas de TV de todos os tempos. Ele foi criado, em 1999, pelo biólogo marinho e animador Stephen Hillenburg e retrata as aventuras de uma esponja e seus amigos marinhos – e até não marinhos – na cidade submarina Fenda do Biquíni.
No desenho, as espécies do mar falam, trabalham, têm sentimentos, dirigem, brigam e caminham como humanos. Os principais personagens dessa animação são o próprio Bob Esponja (uma esponja-do-mar otimista, simpático, ingênuo); Patrick (uma estrela-do-mar pouco inteligente); Lula Molusco (um polvo arrogante que reclama de tudo, egoísta) e Seu Siriguejo (um caranguejo avarento e obcecado por dinheiro, dono do restaurante “O Siri Cascudo”).
Passei a gostar do Calça Quadrada, confesso, quando assistia suas aventuras com meu caçula (Impressiona-me como o tempo passa e nem percebemos). Naqueles tempos idos, eu também acompanhava meu pequeno até a escola “A Chave do Tamanho”. Lembro-me de que brincava com os coleguinhas dele, com a música da abertura do desenho:
– “Vocês estão prontas, crianças?” – eu questionava.
– “Estamos, capitão!” – eles respondiam em coro.
– “Eu não ouvi direito!” – eu redarguia.
– “Estamos, capitão! – nova resposta era dada com mais intensidade.
– “Vive num abacaxi e mora no mar?” – eu indagava.
– “Bob Esponja Calça Quadrada” – o coro se repetia.
Confesso que meu menino morria de vergonha, mas qual pai não paga seu mico com prazer?
Justificando ao meu leitor o porquê dos meus devaneios "cartoonescos", informo que revi, recentemente, o episódio do Calça Quadrada “O dia de folga do Lula Molusco”.
Nesse 21º episódio da segunda temporada da série, Bob Esponja está feliz. Ele demonstra que a melhor coisa é poder trabalhar, mesmo em um domingo, e fazer o melhor hambúrguer de siri do mundo para alegrar os clientes do "Siri Cascudo".
Por outro lado, Lula Molusco pergunta aborrecido o porquê de ele ter que trabalhar em um dia de domingo. Assim, depois de um acidente com o Seu Siriguejo, o Lula se dá um dia de folga e passa toda a tarefa para Bob Esponja. Não se preocupe, meu leitor, eu não vou contar todo o episódio.
Nesse despretensioso desenho os personagens mostram como existem sempre duas maneiras de encarar a vida e os seus obstáculos. Em resumo, de forma otimista, como o Esponja, ou com pessimismo, como o Molusco.
Transportando para a realidade, a mensagem do indigitado cartoon representa o comportamento de várias pessoas que nos cercam. Quantos seres conhecemos que se comportam como o Molusco? Há seres que, embora tenham saúde, família, um emprego estável, estão sempre insatisfeitos e revoltados com o mundo e não sabem valorizar as coisas boas da vida.
Se a realidade fosse um cartoon, esses pobres tristes seres estariam sempre com uma nuvem negra pairando sobre suas cabeças, e a expressão que eles sempre pronunciariam seria: “Oh dia! Oh vida! Oh azar!” Lembram da série Lippy the Lion & Hardy Har Har (no Brasil, Lippy e Hardy), produzida em 1962 por Hanna-Barbera? Não se esqueça de que “o negativismo faz mal para você, para a sua carreira e para os que o cercam.”
Portanto, se você chegar em segundo lugar, seja feliz pela prata conquistada e não se entristeça pelo ouro perdido, pois somente perde quem luta e, felizmente, nem sempre o vencedor leva
tudo, como cantado na canção “Sweet Victory”, de David Glen Eisley, magistralmente interpretada pelo Bob Esponja ao final do episódio “Doidos pela banda”, também da segunda temporada.
Desse modo, devemos refletir se o nosso comportamento diário é proativo ou se estamos sempre esperando que o pior aconteça. Afinal, como disse Bob Esponja em um dos episódios de que agora não me lembro o nome, “ninguém pode ser perfeito, mas todos podem ser seres melhores”.
Por outro lado, se assumimos diante da vida uma posição otimista, mesmo os maiores entraves poderão ser enfrentados, pois para tudo há solução.
Os pessimistas logo dirão: “menos para a morte”. Mas mesmo essa, a depender da crença de cada um, pode representar apenas uma passagem ou, como filosofou Emília, a boneca de pano de Lobato, “é apenas o deixar de piscar”.
Aproveito para dizer, também, que, se soubermos olhar, estaremos sempre encontrando boas lições, que, no mínimo, provocarão reflexões, mesmo em um desenho animado infantil.
Os desenhos divertem, mas também educam e inspiram, se forem olhados e problematizados por quem a eles assiste.
E, somente à guisa de arremate, quando olhar, procure também enxergar com os olhos das crianças, pois elas, donas do reino dos céus, com simplicidade, conseguem dar à realidade uma aparência mais doce e cheia de fantasia. E, nossa, como é bom fazer de conta!
Nesse espírito, e como cada um pode fazer um pouco melhor e contribuir para a mudança do mundo, “faz de conta que todos nós somos baixinhos, heróis e amiguinhos, o futuro dessa terra linda.” Estão vendo como tudo tem o seu lado bom?
Inaldo da Paixão Santos Araújo é Mestre em Contabilidade. Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia. Professor. Escritor.

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