Bolsonaro não acreditou na palavra de Santos Cruz. Acreditou nas fitas e
demitiu um ministro que é general do Exército. J. R. Guzzo, em sua
coluna publicada pelo Metrópoles:
O general Santos Cruz
foi demitido do seu cargo de ministro da Secretaria de Governo, em
meados de 2019, por ter dito uma série de coisas horríveis a respeito do
presidente Jair Bolsonaro
– ou era isso, pelo menos, que aparecia em fitas gravadas de suas
conversas. Na ocasião, o general negou que tivesse dito quaisquer dessas
coisas. Nem poderia, explicou ele, porque no momento em que foram
feitas as tais gravações, estava dentro de um avião, voando sobre a
Amazônia, sem contato com o mundo exterior.
Bolsonaro não acreditou na palavra de Santos Cruz. Acreditou nas
fitas e demitiu o ministro, pouco depois de ter tomado conhecimento
delas. Agora, uma perícia da Polícia Federal prova que as fitas foram
forjadas – Santos Cruz nunca disse o que disseram ao presidente que ele
havia dito. Como é que vai ficar isso, então?
É perturbador que um ministro de Estado seja demitido de seu cargo
com base na violação criminosa de suas comunicações. É mais perturbador
ainda que falsificadores de conversas trafeguem nos mais altos círculos
da República, a ponto de fornecerem ao presidente Bolsonaro o conteúdo
de suas fraudes. É perturbador, enfim, que o presidente prefira
acreditar em falsários e não na palavra que lhe foi dada por um
oficial-general do Exército brasileiro – e o pior de tudo será que tudo
fique por isso mesmo, com a admissão de que há um lado escuro dentro do
governo e que este lado pode agir com impunidade, mesmo depois da
comprovação de suas ações.
Quem são os falsificadores? Da próxima vez que vierem com um golpe
parecido, o presidente da República vai acreditar neles outra vez? Não
se trata de pequenas intrigas de palácio – e sim da atividade de uma
gangue que forja conversas para obter objetivos claramente definidos.
Quem está seguro, se essa gente continuar em ação?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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