O Bloco de
Esquerda, que governa Portugal, é mais ou menos o que PT e asseclas
representam para o Brasil. Mutatis mutandi, o BE quer lá o que os
petistas querem aqui. Vão querendo. Acompanhem o artigo de Helena Matos,
via Observador:
O Bloco quer. A 12 de Agosto tivemos o Bloco quer criar tribunais exclusivos para julgar violência doméstica. A 15 o BE saúda retirada de convite a Le Pen mas aponta falta posição do Governo e CML e a 17 BE quer penalizar empresas com maior desigualdade salarial.
Digamos
que é muito querer para quem conta com tão poucos votos! Contudo basta o
BE querer para que logo todos nos sintamos obrigados a querer o mesmo.
Caso incorramos na heresia da discordância rapidamente percebemos que a
vontade do Bloco será realidade. Quer queiramos quer não.
A outra
característica do dogma “Bloco quer” é que nunca se pergunta: o que
pretende o Bloco com tanto querer? Apresentadas invariavelmente como
virtuosas – quem é capaz de se dizer contra o combate à desigualdade ou à
violência doméstica? – as propostas do Bloco não resolvem problema
algum mas, e para isso é que elas servem, acrescentam esse conglomerado
ideológico de regulamentos e multas aplicados por comissões e
comissariados que ninguém escrutina e cujos poderes não cessam de
crescer. Por exemplo, a quem serve a criação de tribunais exclusivos
para julgar violência doméstica? E para quê tribunais especiais para a
violência doméstica e não para a violência nos assaltos?…
Quanto à
penalização das empresas com maior desigualdade salarial que sucedeu à
penalização das empresas que recorrem a contratos a prazo que por sua
vez sucedeu à luta contra a segregação ocupacional
que como sabemos substituiu a luta contra a disparidade salarial entre
géneros … digamos que é um clássico da chamada doutrina Robles: a casta
faz o que quer, vive como lhe apetece e retira todas as vantagens
proporcionadas pelo regime que diz abominar. Esse seu estatuto
privilegiado é mantido através da manutenção de um estado de luta
constante contra inimigos públicos periodicamente revistos e
actualizados: fascistas, capitalistas, machistas, racistas, patrões
exploradores, senhorios…
Reservado
o direito de admissão. Varoufakis em Lisboa? Claro que sim e com
direito a lugar de honra no desfile do 25 de Abril de 2018. Entrevistas
de fundo e fotografias com glamour. Sim, estamos a falar do mesmo Varoufakis que enquanto ministro das Finanças pirateou os dados dos contribuintes gregos e do seu próprio ministério.
Também podíamos falar de Jeremy Corbyn cujos parceiros de conferências
em Portugal não se mostraram até agora inquietos com o anti-semitismo de
Corbyn, um anti-semitismo que o levou a participar em actos tão
questionáveis quanto uma homenagem aos terroristas que durante os Jogos
Olímpicos de Munique de 1972 assassinaram os atletas da delegação de
Israel depois de os terem torturado sadicamente (note-se que a
participação nesta homenagem não foi um disparate da juventude do senhor
Corbyn mas sim um acto político de um político mais que maduro).
Corbyn e
Varoufakis são apenas dois nomes na imensa lista de pessoas de
pensamento e actos muito questionáveis que vieram a Portugal defender os
seus pontos de vista sem que alguém pusesse em causa esse seu direito.
Quem não pode vir a Lisboa é a Marine le Pen pois caso o seu nome se
mantivesse entre os oradores da Web Summit era mais que certo a
ocorrência de problemas.
Não sei
se os organizadores da Web Summit sabiam qual o tema que Marine le Pen
iria abordar. Creio contudo que é da maior actualidade ouvir a líder da
extrema-direita francesa falar sobre a participação dos extremistas nos
governos a reboque dos partidos do centro. Entendamo-nos, Marine le Pen
só não chegou ao Eliseu porque em 2012 e 2017 os gaullistas não
aceitaram fazer uma geringonça de direita. Ou seja se em 2012 Sarkozy ou
em 2017 Fillon tivessem feito um pacto com Marine le Pen nem Hollande
nem Macron teriam sido eleitos. Mas a direita francesa não quis aliar-se
à extrema-direita. Percebido? Interessante será também ouvir o que tem
Marine le Pen a dizer sobre a emigração portuguesa em França. Aos mais
inebriados com o rótulo de anti-imigração que é colado a Marine le Pen
convirá recordar que nas eleições regionais que tiveram lugar em França
no ano de 2015 um quarto dos candidatos luso-descendentes concorreu pelo
partido chefiado pela mulher que agora foi desconvidada a vir a Lisboa.
(Note-se
que o conceito de anti-imigração é o sucedâneo do Natal que era quando
um homem quisesse. Por exemplo, declarar que há que investigar a
actividade dos navios que como o “Aquarius” se dedicam a recolher os
migrantes largados pelas mafias do tráfico na Líbia é ser-se
anti-imigração, já o governo da Nova Zelândia proibir a venda de casas a
estrangeiros é uma medida de protecção dos cidadãos nacionais face à
especulação imobiliária).
Fascismo
obrigatório. Neste Outono não saia à rua sem ter à mão o seu fascista.
Não sabe o que dizer numa conversa? Diga “aquele fascista horroroso do…”
Se não se lembrar de ninguém o Trump serve sempre e vai ver que feita
essa imprecação ao fascista de turno torna-se logo numa pessoa
informada. Mais a mais ninguém contraria os malucos nem as pessoas que
falam de fascismos e de fascistas pois de imediato se passa a ser
fascista e isso é que não pode acontecer de modo algum.
Na
prática o “fascismo nunca mais” tornou-se um “fascismo todos os dias”.
Mesmo que ao contrário do que acontece com os comunistas ninguém se diga
fascista, ninguém se passeie com camisolas com a cara do líder fascista
da sua afeição e nenhuma organização fascista tenha a capacidade de
organizar algo equivalente à comunista Festa do Avante ou ao acampamento
de Verão do Bloco de Esquerda o perigo fascista está ao virar da
esquina. E tal como a revista “Vogue” antecipou na sua capa de Agosto o retorno das sobrancelhas finíssimas
eu antecipo que a cada dia que passa mais fascistas andarão por aí
pedindo o reforço da nossa vigilância, medidas censórias, acusações,
ódios fulanizados… Na verdade o fascismo enquanto fantasma tende a
tornar-se obrigatório e omnipresente pois só assim os marxistas nas suas
diversas faces – comunistas, trosquistas, estalinistas e maoistas –
poderão continuar a não dizer que sociedade defendem mas tão só a que
combatem.
(Sobre as sobrancelhas em linha espero sinceramente que tudo não passe de um falso alarme!)
PS. Na
linha do “Bloco quer” também eu quero. O quê? Quero que à partida todos
os crimes sejam apresentados como tendo sido cometidos por padres
católicos. Cansada que estou de ler notícias sobre alegados ataques
levados a cabo por alegados não identificados que sofrem invariavelmente
de transtornos psiquiátricos verifico com surpresa que em matéria de
crimes os únicos que não são alegados e estão seu perfeito juízo são os
padres. Acresce que se os padres forem os autores também não se coloca o
problema do discurso de ódio. Logo se fizermos de conta que os padres
católicos andam por essas ruas da Europa esfaqueando, incendiando carros
e agredindo já podemos falar do que está a acontecer na Suécia e se não for muito pedir dos abusos sexuais de menores em Rotherham e Telford?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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