Joaci Góes
Ao fraternal amigo de sempre, Lêucio Flavo Moreira de Borges Sampaio, modelo de honradez.
Com título semelhante ao que figura acima, publicamos, ao ensejo das eleições de 1998, artigo analisando a propriedade dos critérios utilizados, para avaliar o desempenho dos nossos parlamentares. Segundo o ranking hoje circulante, os integrantes da autodenominada esquerda nacional figuram nos últimos lugares, em matéria de desempenho.
Não obstante a boa intenção de contribuir para a melhoria de nossa atividade parlamentar, os critérios adotados, ontem, como hoje, pecam pela excessiva subjetividade e subserviência ao politicamente correto, poderoso instrumento de patrulhamento das condutas, ora as inibindo, ora as condicionando. Naquela oportunidade, deixamos claro que “qualquer parâmetro utilizado para medir a eficiência de deputados e senadores pode conduzir a resultados díspares e até mesmo opostos”. Dissemos ainda que “o critério do número de propostas legislativas, por exemplo, pode induzir à ilusão de eficiência mesmo quando as proposições sejam inúteis ou retrógradas, como as que abundam no corpo labiríntico e pletórico do sistema legal brasileiro, aumentando a sua confusão e desobediência”, acrescentando que “é perfeitamente possível que um parlamentar que jamais tenha apresentado uma proposta de lei seja altamente produtivo, na medida em que apoie e vote favoravelmente à aprovação de boas leis.”
Naquele texto, advertimos que “o critério de assiduidade pode ser igualmente ilusório, seja porque o parlamentar assíduo apóia sistematicamente as piores proposições e veta as melhores, seja porque, não obstante pouco assíduo, quando presente, vota bem”, havendo “casos em que, mesmo ausente, sua contribuição é mais significativa do que a de um parlamentar presente à votação, em razão do número de votos que carrear para a aprovação da medida.” Recorde-se que Cyro Gomes e Lula, entre os aspirantes à Presidência, nunca tiveram uma proposta transformada em Lei.
Ao criticarmos o nepotismo, presente na esfera dos Três Poderes, observamos que “em favor do legislativo, milita a circunstância de ser sua atividade muito mais genérica e menos típica do que a dos demais poderes, por isso mesmo mais complexa. A atipicidade do trabalho parlamentar é tal que, pode-se dizer sem medo de errar, a estrutura do assessoramento ideal seria aquela montada sob medida para cada um dos 513 deputados e 81 senadores.”
Dissemos, também, que como “despachante de luxo, o parlamentar necessita, para assessorá-lo, de algumas pessoas que partilhem de sua faina que não obedece a horários rotineiros, a domingos ou feriados, sendo ideal que alguns assessores residam na casa do parlamentar.” É claro que, ontem como hoje, referimo-nos a parlamentares que só como exceção possuem atributos morais e intelectuais à altura de suas elevadas missões. Desgraçadamente, importa reconhecer o crescente declínio desses atributos nos membros de nosso achincalhado Congresso Nacional, desse caldo de cultura resultando o impedimento para que familiares integrem a assessoria dos parlamentares.
Destacamos, também, naquela reflexão de vinte anos atrás, que “pouca ou quase nenhuma atenção dá o noticiário ao trabalho que o parlamentar realiza no atendimento de suas bases, seja pressionando o executivo na satisfação de demandas, seja viabilizando interesses de segmentos populacionais, seja, ainda, fazendo o papel psicologicamente catártico de se colocar ao alcance físico do seu eleitorado.”
Ontem como hoje, “não pretendemos aqui desmerecer a iniciativa de assoalhamento da atividade parlamentar, antes nos move o propósito de aperfeiçoá-la, advertindo contra o risco de injustiças embutido em abordagens parciais, não raro preconceituosas e ideologicamente comprometidas”. Recorde-se que “externamos esta linha de pensamento com a isenção de quem, quando parlamentar, jamais se valeu dos serviços remunerados de parentes em qualquer grau.”
Concluímos, dizendo que “de todos os poderes, o legislativo é o de mais difícil avaliação objetiva. Até porque só um eleitorado instruído terá competência e legitimidade para fazê-lo. A adoção do voto distrital misto facilitaria as coisas.”
“Até lá, e até que tenhamos vencido a batalha contra a ignorância campeante, continuaremos a pagar o preço de vermos o acesso ao parlamento pavimentado com muito dinheiro e poucas ideias.”
Em matéria de avanço político-moral, parece que o tempo não passa no Brasil.
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