O DEFENSOR
Não existe almoço
grátis. Melhor dizendo, não existe desconto em combustível de graça.
Para compensar os R$ 0,46 que vão sair do preço do óleo diesel, o
governo tomou medidas que, na prática, elevarão a arrecadação de
impostos de exportadores, indústria de refrigerantes e indústria
química. Para chegar aos R$ 9,6 bilhões, que é o quanto a União vai
deixar de arrecadar, ainda foram reduzidos recursos, por exemplo, para
programas ligados às áreas de saúde e educação.
Ao lado da aprovação da
reoneração da folha de pagamento, que já foi votada na Câmara, as
medidas permitirão um ganho de R$ 4 bilhões, o que compensará a redução
na tributação do diesel: a isenção da Cide e a redução de R$ 0,11 do
PIS/Cofins.
O governo ainda
cancelou R$ 3,4 bilhões em despesas do Orçamento deste ano. O conjunto
de medidas, bastante criticado pelo setor produtivo, foi publicado ontem
numa edição extra do Diário Oficial da União.
As medidas
O Reintegra devolvia 2% do valor exportado em produtos manufaturados através de créditos de PIS/Cofins. Esse percentual foi reduzido para 0,1%, o que gerará R$ 2,27 bilhões aos cofres do governo até o final do ano.
O Reintegra devolvia 2% do valor exportado em produtos manufaturados através de créditos de PIS/Cofins. Esse percentual foi reduzido para 0,1%, o que gerará R$ 2,27 bilhões aos cofres do governo até o final do ano.
A redução da alíquota
de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre concentrados de
refrigerantes de 20% para 4% permitirá o ganho de R$ 740 milhões até
dezembro, porque os fabricantes gerarão menos créditos para abaterem
impostos.
A alteração da
tributação de um programa para a indústria química, o Regime Especial da
Indústria Química, aumentará receitas em R$ 170 milhões. Quando a
empresa importava, pagava 5,6% de PIS/Cofins e recebia um crédito de
9,25%. Essa “sobra” de 3,65%, que era usada para abatimento de outros
impostos, foi extinta.
No caso da reoneração
da folha de pagamento, que segundo o secretário da Receita Federal,
Jorge Rachid, isentará um número menor de setores do que o aprovado na
Câmara, o ganho até o final do ano será de R$ 830 milhões.
O projeto de lei
aprovado na Câmara previa que 28 setores estariam isentos da reoneração
da folha. Mas o presidente Michel Temer vetou 11 desses setores, o que
deixou 17 com isenção. Entre os que mantiveram o benefício estão
calçados, construção civil, fabricação de veículos, transporte
rodoviário e indústria têxtil.
Corte de programas
O governo ainda anunciou um corte de despesas que chega aos R$ 3,4 bilhões para compensar o programa de subsídios ao diesel.
O governo ainda anunciou um corte de despesas que chega aos R$ 3,4 bilhões para compensar o programa de subsídios ao diesel.
Esse valor foi
alcançado com o cancelamento de uma reserva para capitalização de
estatais, de R$ 2,1 bilhões, e o corte de recursos previstos para uma
série de programas (R$ 1,2 bilhão).
Ironia do destino, para
atender os caminhoneiros, os programas de transporte terrestre do
Ministério dos Transportes, que envolvem adequação e construção de 40
obras, perderam R$ 368,9 milhões em recursos.
Ainda foram reduzidos
recursos, por exemplo, para programas como prevenção e repressão ao
tráfico de drogas (R$ 4,1 milhões), concessão de bolsas de um programa
de estímulo ao fortalecimento de instituições de ensino superior (R$
55,1 milhões), policiamento ostensivo e rodovias e estradas federais (R$
1,5 milhão) e fortalecimento do sistema único de saúde, com R$ 135
milhões.
Por outro lado, foram
criados recursos para o programa “operações de garantia da lei e da
ordem”, com o objetivo de desobstruir estradas, no valor de R$ 80
milhões.
Queixas
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, avaliou que a indústria é o setor que vai pagar a conta das medidas tributárias anunciadas para bancar o diesel mais barato para os caminhoneiros.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, avaliou que a indústria é o setor que vai pagar a conta das medidas tributárias anunciadas para bancar o diesel mais barato para os caminhoneiros.
“O problema é que o
governo está querendo pagar a conta do subsídio ao diesel tirando
incentivos muito importantes para a indústria. E sempre ela que está
sendo penalizada”, afirmou, de Genebra (Suiça), onde participará de uma
reunião da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Robson Andrade
ressaltou que a indústria paga 32% dos impostos federais e chegou a
sugerir que as medidas atingissem outros setores que pagam menos
tributos, como a agricultura. “Temos alertado o governo. A CNI teve uma
reunião hoje com o governo mostrando os prejuízos que a indústria teve.
Isso (as medidas) vai piorar muito a situação das empresas que
exportam”, criticou.
Os exportadores avaliam
recorrer à Justiça contra a decisão do governo. Para a Associação
Brasileira da Indústria Química (Abiquim), as medidas são um retrocesso e
podem comprometer a intenção de fortalecer a indústria nacional.
Correio
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