O ódio ao
heteropatriarcado substituiu o ódio ao capitalismo. O sexo virou gênero.
Eis o bioprogressismo, segundo artigo publicado por Helena Matos no Observador, edição de domingo: é nisso que deu o progressismo politicamente correto:
Depois do direito à maternidade através das barrigas de aluguer temos a eutanásia como expressão do direito à morte: “Despenalizar a eutanásia não chega. Morrer é um direito, uma liberdade” – declara Paula Teixeira da Cruz. Mariana Mortágua a propósito da eutanásia fala d’A derradeira liberdade.
Por outras palavras, a
biologia tornou-se o campo da ideologia. E o progressismo passou a
bioprogressismo. Como não se actualizou o habitual argumentário da
libertação o resultado é no mínimo grotesco: fala-se em direito à morte e
em última liberdade como se a morte fosse algo que podemos conquistar
ou a que podemos renunciar.
Inevitavelmente o
mundo bioprogressista concebe a sua intervenção como crucial para
corrigir o erro (o delírio é tal que num primeiro momento quase somos
levados a crer que em Portugal ou não se morre ou se morre de forma
indigna). Desenham-se cenários redentores para a maravilhosa legislação
que o legislador-bioprogressista se apressa a fazer, faltando apenas
dizer que desse dia em diante morreremos felizes para sempre.
A pressa para regular a morte é tanta que alguns dos projectos apresentados na Assembleia da República parecem inacabados:
o PEV nem se deu ao trabalho de especificar os procedimentos a adoptar
se o pedido for negado ou quando o paciente fica inconsciente. Já o BE
não definiu quem fica automaticamente de fora.
Na verdade nada disto
conta porque, como a prática da eutanásia noutros países tem mostrado,
rapidamente se alarga o âmbito das pessoas a quem se pratica eutanásia
dos doentes lúcidos em sofrimento insuportável para crianças, pessoas
que até tinham mudado de vontade, jovens deprimidos, velhos senis ou nem
tanto…
Provavelmente a
eutanásia não será aprovada. Por agora, claro. Porque uma das coisas que
caracteriza o bioprogressismo é que ele nunca se dá por derrotado. A
sociedade é que não estava preparada para as suas propostas! Assim
enquanto outro assunto não lhes captar as energias lá os teremos a
quererem libertar-nos da morte! E nós, claro, a reboque das suas agendas
libertadoras que mais não são que decálogos tirânicos. Porque o
objectivo esse mantém-se inalterado: controlar a sociedade. Apenas muda o
objecto: onde antes estava o burguês está agora o homem branco. O
heteropatriarcado substituiu o capitalismo. A família já não é para
destruir mas sim para instrumentalizar: o sexo passou a género, os pais a
progenitores, a maternidade a procriação, a morte a direito. Tudo de
preferência medicamente assistido que é o mesmo que dizer que
estatizado. (Ah, já me esquecia, deixou de se falar de família quando se
referem os cuidados aos mais velhos: agora a expressão correcta é
cuidador. Mais uns tempos e teremos a carreira de cuidador, o
regulamento do cuidador, os procedimentos do cuidador, a certificação do
cuidador, o certificado de cuidador…)
Na verdade ou nos
libertamos do fatalismo quase biológico com que temos dado como
adquirida esta superioridade do progressismo ou acabaremos todos a
discutir dentro de alguns anos (não muitos) como foi possível termos
pactuado com um crime como são as barrigas de aluguer. Ou não termos
percebido que a eutanásia enquanto direito à morte reivindicado por uma
minoria mediatica e socialmente poderosa se podia transformar no dever
de morrer em momento considerado oportuno para uma multidão de pessoas
mediaticamente invisíveis e socialmente frágeis.
PS. Dois anos e dois
meses depois de deixar a Presidência da República, Cavaco Silva voltou à
política. Não me estou a referir à sua mais que esperada posição contra
a eutanásia mas sim àquele aviso: “Como cidadão, sem responsabilidades
políticas, o que posso fazer para manifestar a minha discordância é
fazer uso do meu direito ao voto contra aquelas que votarem a favor da
eutanásia. Nas eleições legislativas de 2019 não votar nos partidos que
apoiarem a legalização da eutanásia e procurar explicar àqueles que me
são próximos para fazer a mesma coisa”. Cavaco está a gozar a maior
liberdade que um político pode ter: já ocupou todos os cargos que
ambicionou logo pode dizer o que pensa e fazer o que quer. Até apelar ao
voto no CDS. Em conclusão: quanto vale hoje Cavaco no PSD?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário