Coluna de Carlos Brickmann, publicada hoje em diversos jornais do país:
O caro leitor se
preocupa com as negociações entre Governo e líderes dos caminhoneiros
grevistas? Preocupe-se mais: é tudo pior do que parece.
Greve de
caminhoneiros não houve: o que houve é locaute, paralisação promovida
por patrões. Greve é regulada em lei. Locaute é proibido por lei.
Governo não há: o
sistema oficial de informações (apelidado, veja só, de “inteligência”)
não sabia da paralisação. O festejado ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, candidato à Presidência, não tinha percebido que a alta dos
preços do diesel, por mais correta que fosse, estava prejudicando o
setor dos transportes, e não havia pensado em nenhuma compensação para
salvá-lo. Quando a paralisação foi deflagrada, o Governo não sabia o que
fazer. Presidido por um doutor em Direito Constitucional, em vez de
recorrer à lei deixou-se conduzir pelo Congresso. Tudo bem, nosso
Congresso é o melhor que o dinheiro pode comprar, mas parece insaciável.
Cobrou mais e reduziu a receita do Governo, já atolado num imenso
déficit.
Na hora de negociar
com os líderes da paralisação, o Governo já deveria ter notado que se
tratava de um locaute: praticamente só havia empresários do outro lado
da mesa. Michel Temer poderia (e deveria) exigir ao menos o fim dos
bloqueios nas estradas. Preferiu deixar a lei pra lá, ceder tudo, pedir
desculpas por existir, para a qualquer custo evitar o confronto.
Esqueceu a dignidade do cargo, humilhou-se. E teve o confronto.
Voracidade
A redução de impostos
aprovada às pressas pela Câmara derruba em mais R$ 12 bilhões a receita
do Governo (que já é insuficiente para cobrir as despesas). O
substituto de Meirelles no Ministério da Fazenda, Eduardo Guardia, diz
que não há onde buscar dinheiro para cobrir o rombo. Mas a voracidade
dos nobres parlamentares era tão grande que o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, filho de conhecido economista, errou na conta: garantiu
que o custo seria de R$ 3,5 bilhões. Quem liga para R$ 8,5 bilhões de
diferença? Afinal, não é ele que paga a conta. E por que tanta vontade
de baixar impostos? Ora, alguns parlamentares para dizer aos eleitores
que lutam contra tanto imposto. Outros, para lembrar aos setores
beneficiados que um voto nessa questão que tanto lhes interessa é
precioso, vale ouro.
O confronto
Sejamos sinceros: a
Presidência da República é exercida, hoje, pelo general Sérgio
Etchegoyen, de excelente reputação. Tem problemas: suas decisões, como
presidente de fato, têm de passar pelo presidente de direito, Michel
Temer. Ele participou (ao lado do ministro da Segurança Pública, Raul
Jungman, e do ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e
Luna), da reunião em que Temer anunciou que as Forças Armadas iriam
participar do confronto com os caminhoneiros. Na véspera da reunião,
quando Temer ainda acreditava que os líderes da paralisação cumpririam o
acordo de trégua com o Governo, o comandante do Exército, general
Eduardo Villas Boas, já determinava a mobilização da tropa. Não tomou
essa decisão sozinho, nem por ordem de Temer. Se, como prometeu um dos
líderes da paralisação, os militares não forem obedecidos, pode haver
incidentes sérios. Militar manda ou obedece. E a ordem é desbloquear as
estradas, com apoio das PMs. É um confronto complicado: boa parte dos
líderes da paralisação quer ver as Forças Armadas dirigindo o Brasil.
Lembrando
Há alguns anos, este
colunista visitou Guaxupé, simpática cidade mineira que hospeda a maior
cooperativa de café do mundo. Na época, com preços mais baixos do que
hoje, a Cooxupé movimentava US$ 300 milhões por ano. O maior shopping
center da cidade chama a atenção: é igualzinho a uma estação de estrada
de ferro. O motivo é que lá, antes, era a estação ferroviária. Um dia,
houve um problema na linha da Fepasa, no Estado de S.Paulo, que exigia a
troca de uns dois quilômetros de trilhos, reforço da base de concreto e
brita e novos dormentes. O Governo paulista preferiu desativar a linha,
isolando Guaxupé. E os US$ 300 milhões anuais de café passaram a seguir
para Santos de caminhão. Quem dá força à paralisação?
Pá de cal 1
A ideia de Lula, de
registrar sua candidatura à Presidência e esperar que alguém a impugne,
para ganhar tempo até, quem sabe, as eleições, pode morrer nos próximos
dias: o Tribunal Superior Eleitoral deve votar a norma que impede o
registro de candidatos que não atendam aos requisitos da Lei da Ficha
Limpa. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a tendência do TSE é aprová-la
por unanimidade. Em seguida, o Ministério Público pediria uma decisão
que torne automática a proibição de pedir registro ao TSE.
Pá de cal 2
Se Alckmin tem hoje
dificuldade para decolar, imagine se Josué Alencar sair mesmo candidato
pelo mesmo setor político e pagando sua campanha.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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