MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 27 de maio de 2018

A galinha comemora a canja e a morte do liberalismo


Valentina de Botas, com a coragem de sempre, acerta a jugular de alguns gargantões que procuram tirar partido do caos instalado no país:

Não há desculpa para quem bloqueia estradas e impede o direito de ir e vir. Isso serve para MST, MTST e caminhoneiros. Quem apoia o locaute em que o patronato do setor usa de modo canalha os caminhoneiros como massa de manobra pode ver nele um protesto contra o governo e pode achar que o movimento criminoso é patriótico ou algo assim. Mas o caráter patriótico não se sustenta quando prestamos atenção à exigência principal – o barateamento do diesel –, que só beneficiará uma classe e custará para toda a sociedade, pois tal subsídio sai da nossa grana. Essa é uma informação que qualquer pessoa com o ensino médio completo deveria considerar. Não é da grana do Temer ou do governo, é da nossa; o presidente não tem nada a perder com a continuação do locaute. Renunciar? Melhor para ele, pior para o país não só porque é Rodrigo Maia é muito pior do que Temer em tudo, mas porque as incertezas se aprofundam.

Jair Bolsonaro acordou invocado e anunciou que anistiará caminhoneiros se for eleito presidente. Tenho nojo disso; o deputado que se diz antipetista segue o modelo do que Lula foi para os metalúrgicos; Bolsonaro combatia Lula por inveja e quer implantar a própria república sindicalista sendo para os caminhoneiros o que Lula foi para os metalúrgicos. Há maneiras honestas de se fazer oposição sem submeter a população sofrimentos além dos já existentes. Bolsonaro sempre me pareceu medíocre, fanfarrão e antiliberal sempre votando no Congresso a favor da pauta econômica do PT e sempre favorecendo corporações/sindicatos, agora vejo também que é um oportunista miserável.

O movimento é patriótico? Então deveria exigir alguma coisa que ultrapassasse a categoria, por exemplo, proteção e assistência à infância já que os caminhoneiros sabem que muitos meninos e meninas se prostituem por essas estradas nossas; e alguns desses “patriotas” se servem dessa infância desvalida (não tenham chilique, não estou generalizando e essa é isso é fato conhecido). O movimento é patriótico? O roubo de carga no país bate recordes, já é um problema no Rio de Janeiro tão preocupante quanto o tráfico de drogas, mas não há, na lista de exigência dessas almas puras e sem segundas intenções, nenhuma alusão clara e consistente quanto à segurança. Em vez disso, algumas das reivindicações dos caminhoneiros só beneficiam os patrões, nenhum empresário do setor reclamou da “greve”: voto impresso e intervenção militar no governo não são reivindicações de classe, e sim políticas do bolsonarismo de para-choque

O que dizer da adesão a esse “movimento de direita” do MST, MTST e da Marcha da Maconha? A “união entre esquerda e direita” só reafirma que cafajestagem não tem ideologia. Nas minhas contas, só faltam aderir o Grupo Gay da Bahia, as Lésbicas com Cristo, a Mônica Iozzi e o Papa. Os petroleiros, outras almas puras sem segundas intenções que se calaram enquanto a Petrobras era devastada sob o petismo, prometem parar. Se a vida dos caminhoneiros é dura – como a de tantos brasileiros que nem por isso sequestram a sociedade abusando criminosamente do poder de paralisar desde a rede de produção do país até o atendimento hospitalar – dá para dizer o mesmo dos funcionários da Petrobras, profissionais com salários superiores a R$20 mil? É que virou festa e o patriotismo é biombo para esses cafajestes de coração puro.

Sabe, amigos? O pior não é constatar que no país há mais canalhices do que sensatez e decência – um governo fraco por si mesmo nas hesitações de Temer e enfraquecido ainda mais pela sabotagem incessante; urubus à esquerda e à direita querendo apenas votos; empresários petroleiros chantageando uma nação inteira e grande parte dela aplaudindo como uma galinha que comemora a canja; políticos covardes que se calam ou ficam em cima do muro –, o pior é ver a morte ainda no ovo de um pensamentosinho liberal no país: o país é inóspito ao campo ideológico mais próximo do ideário do liberalismo político-econômico. Ana Amélia, Ronaldo Caiado e Flávio Rocha estão entre os cúmplices dessa morte prematura. Todos, do cidadão que quer gasolina barata, mas não a reforma do Estado que pode barateá-la porque diminuiria a carga tributária sobre ela, diminuiria o nível de corrupção e aumentaria a eficiência dos serviços públicos; a empresários que fazem qualquer cafajestice para arrancar um subsídio. Todos querem o Estado-pai, o Estado-mãe, o Estado-irmão, o Estado-companheiro, o Estado-caminhoneiro. O mesmo Estado que, sobrecarregado pelo funcionalismo e desvios de toda sorte, não comparece onde é essencial.

O breve sonho de uma noite de verão, entre o impeachment de Dilma e o triunfo do nosso voluntariado para a cretinice, marcou a derrota do encaminhamento institucional das demandas da sociedade por via política como deve ser numa democracia para o quem-grita-mais-chora-menos. Isso é ditadura de massa, e a massa não sabe fazer conta com o próprio dinheiro, ela só consegue ser a galinha que comemora a canja.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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