Valentina de Botas, com a coragem de sempre, acerta a jugular de alguns gargantões que procuram tirar partido do caos instalado no país:
Não há desculpa para
quem bloqueia estradas e impede o direito de ir e vir. Isso serve para
MST, MTST e caminhoneiros. Quem apoia o locaute em que o patronato do
setor usa de modo canalha os caminhoneiros como massa de manobra pode
ver nele um protesto contra o governo e pode achar que o movimento
criminoso é patriótico ou algo assim. Mas o caráter patriótico não se
sustenta quando prestamos atenção à exigência principal – o barateamento
do diesel –, que só beneficiará uma classe e custará para toda a
sociedade, pois tal subsídio sai da nossa grana. Essa é uma informação
que qualquer pessoa com o ensino médio completo deveria considerar. Não é
da grana do Temer ou do governo, é da nossa; o presidente não tem nada a
perder com a continuação do locaute. Renunciar? Melhor para ele, pior
para o país não só porque é Rodrigo Maia é muito pior do que Temer em
tudo, mas porque as incertezas se aprofundam.
Jair Bolsonaro
acordou invocado e anunciou que anistiará caminhoneiros se for eleito
presidente. Tenho nojo disso; o deputado que se diz antipetista segue o
modelo do que Lula foi para os metalúrgicos; Bolsonaro combatia Lula por
inveja e quer implantar a própria república sindicalista sendo para os
caminhoneiros o que Lula foi para os metalúrgicos. Há maneiras honestas
de se fazer oposição sem submeter a população sofrimentos além dos já
existentes. Bolsonaro sempre me pareceu medíocre, fanfarrão e
antiliberal sempre votando no Congresso a favor da pauta econômica do PT
e sempre favorecendo corporações/sindicatos, agora vejo também que é um
oportunista miserável.
O movimento é
patriótico? Então deveria exigir alguma coisa que ultrapassasse a
categoria, por exemplo, proteção e assistência à infância já que os
caminhoneiros sabem que muitos meninos e meninas se prostituem por essas
estradas nossas; e alguns desses “patriotas” se servem dessa infância
desvalida (não tenham chilique, não estou generalizando e essa é isso é
fato conhecido). O movimento é patriótico? O roubo de carga no país bate
recordes, já é um problema no Rio de Janeiro tão preocupante quanto o
tráfico de drogas, mas não há, na lista de exigência dessas almas puras e
sem segundas intenções, nenhuma alusão clara e consistente quanto à
segurança. Em vez disso, algumas das reivindicações dos caminhoneiros só
beneficiam os patrões, nenhum empresário do setor reclamou da “greve”:
voto impresso e intervenção militar no governo não são reivindicações de
classe, e sim políticas do bolsonarismo de para-choque
O que dizer da adesão
a esse “movimento de direita” do MST, MTST e da Marcha da Maconha? A
“união entre esquerda e direita” só reafirma que cafajestagem não tem
ideologia. Nas minhas contas, só faltam aderir o Grupo Gay da Bahia, as
Lésbicas com Cristo, a Mônica Iozzi e o Papa. Os petroleiros, outras
almas puras sem segundas intenções que se calaram enquanto a Petrobras
era devastada sob o petismo, prometem parar. Se a vida dos caminhoneiros
é dura – como a de tantos brasileiros que nem por isso sequestram a
sociedade abusando criminosamente do poder de paralisar desde a rede de
produção do país até o atendimento hospitalar – dá para dizer o mesmo
dos funcionários da Petrobras, profissionais com salários superiores a
R$20 mil? É que virou festa e o patriotismo é biombo para esses
cafajestes de coração puro.
Sabe, amigos? O pior
não é constatar que no país há mais canalhices do que sensatez e
decência – um governo fraco por si mesmo nas hesitações de Temer e
enfraquecido ainda mais pela sabotagem incessante; urubus à esquerda e à
direita querendo apenas votos; empresários petroleiros chantageando uma
nação inteira e grande parte dela aplaudindo como uma galinha que
comemora a canja; políticos covardes que se calam ou ficam em cima do
muro –, o pior é ver a morte ainda no ovo de um pensamentosinho liberal
no país: o país é inóspito ao campo ideológico mais próximo do ideário
do liberalismo político-econômico. Ana Amélia, Ronaldo Caiado e Flávio
Rocha estão entre os cúmplices dessa morte prematura. Todos, do cidadão
que quer gasolina barata, mas não a reforma do Estado que pode
barateá-la porque diminuiria a carga tributária sobre ela, diminuiria o
nível de corrupção e aumentaria a eficiência dos serviços públicos; a
empresários que fazem qualquer cafajestice para arrancar um subsídio.
Todos querem o Estado-pai, o Estado-mãe, o Estado-irmão, o
Estado-companheiro, o Estado-caminhoneiro. O mesmo Estado que,
sobrecarregado pelo funcionalismo e desvios de toda sorte, não comparece
onde é essencial.
O breve sonho de uma
noite de verão, entre o impeachment de Dilma e o triunfo do nosso
voluntariado para a cretinice, marcou a derrota do encaminhamento
institucional das demandas da sociedade por via política como deve ser
numa democracia para o quem-grita-mais-chora-menos. Isso é ditadura de
massa, e a massa não sabe fazer conta com o próprio dinheiro, ela só
consegue ser a galinha que comemora a canja.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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