Editorial do jornal O Globo
ressalta que a delação de Renato Duque revelará parte importante do
saque promovido por petistas e aliados na Petrobras - com Lula e Dilma
na linha de frente:
Não é boa notícia
para o ex-presidente Lula e o PT a de que o ex-diretor da Petrobras
Renato Duque poderá assinar acordo de delação premiada com a Lava-Jato.
Afinal, o engenheiro foi colocado pelo PT no cargo-chave de diretor de
Serviços da Petrobras, para operar o grande butim na estatal, por meio
da assinatura de contratos bilionários com grandes empreiteiras, que
gerariam propinas para financiar o projeto de poder do partido e irrigar
o bolso da cúpula petista. Lula à frente de todos, segundo as
denúncias.
Duque exerceu esta
função durante os oito anos da gestão Lula e os dois primeiros da
presidência de Dilma Rousseff. Preso em Curitiba desde fins de 2014,
Duque, com sua colaboração premiada, pode ajudar bastante na montagem do
quebra-cabeça do petrolão.
O ex-ministro Antonio
Palocci, por exemplo, deve ter relatado à Polícia Federal, e já contou
num testemunho não formal ao juiz Sergio Moro, da Lava-Jato, que, no fim
de seu segundo mandato, Lula, reunido com Dilma, sua candidata, e o
então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, estabeleceu que o
programa megalomaníaco de construção no Brasil de sondas para explorar o
pré-sal geraria propinas para financiar a campanha da pupila.
Há diversos relatos
sobre o esquema. Marcelo Odebrecht, por sua vez, disse que não via com
bons olhos aquele delírio bilionário. Sérgio Duque tem muito a contar
sobre isso, em especial acerca da Sete Brasil, empresa de capital misto
criada pela Petrobras, com bancos privados (Bradesco, Itaú, Santander,
BTG Pactual), estatais (Banco do Brasil, Caixa), fundos de servidores
desses bancos (Previ, Funcef) e dinheiro do FI-FGTS, ou seja, dos
assalariados do setor privado. Virou gigantesco mico na contabilidade
dessas instituições. Mas, por certo, foi grande sucesso do ponto de
vista da corrupção lulopetista.
Na delação, Duque
poderá explicar com detalhes por que concluiu que Lula era o “chefe” da
organização criminosa que saqueou a Petrobras, com ramificações no setor
elétrico. Dilma Rousseff, por sua vez, sofrerá novos arranhões, estes
mais profundos, na imagem que tenta cultivar de ilibada reputação. A
presidente teria chamado Duque a Brasília para reforçar a posição dele
de arrecadador de dinheiro sujo para campanhas do PT.
Por extrema ironia,
se a defesa de Lula comemorou a decisão da Segunda Turma do Supremo
(pelos votos de Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes) de,
no mínimo, dificultar o acesso de Moro a depoimentos de Marcelo
Odebrecht referentes a Lula, o que vem por aí pela boca de Renato Duque
deve preencher lacunas que porventura sejam criadas pela Segunda Turma
nos processos da Lava-Jato e ainda abrir outros grandes rombos na
couraça jurídica com que se tenta proteger o ex-presidente.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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