O que esses empresários
fizeram foi "suborno". Todos os envolvidos no suborno cometeram crime.
Coluna de Carlos Brickmann, publicada neste domingo em diversos jornais
do país e surrupiada aqui via Chumbo Gordo:
Vamos falar claro:
nenhum empresário deu propina a políticos, nenhum político recebeu
propina. A palavra propina é sinônimo de “gratificação”, ou “gorjeta”,
agradecimento livre e espontâneo pela prestação de bons serviços. Não é
crime. “Gorjeta” deriva de “gorja”, garganta – algo como “tome uma
dose”. Equivale ao francês “pour boire” – para beber. O que esses
empresários fizeram foi “suborno”; Suas Excelências foram “subornados”.
Todos os envolvidos no suborno cometeram crime.
Os “malfeitos” de que
falava Dilma chamam-se crimes. A delação premiada foi essencial para
desmascarar esse tipo de práticas. Mas deixemos de lado os eufemismos:
aproveitemos as revelações da delação e desprezemos os delatores. São
“caguetas”, “dedos-duros”, “alcaguetes”, “X9” – seres desprezíveis, que
jogam cúmplices no fogo para salvar os próprios rabos sujos. Seres que
não se envergonham de ostentar, perante filhos e família, a pena
reduzida, o símbolo da traição. Visitar o cúmplice para gravá-lo? São
traidores. Que tenham tido tantos privilégios para fazer coisas tão
feias mostra o nível de bandalheira a que chegou a moral do país.
Na zona não há
santos. Os ingleses diziam que um cavalheiro não ouve a conversa dos
outros (diziam, mas ouvem; dizer era a homenagem que o vício presta à
virtude). No Brasil do vale-tudo, em que milícias de policiais disputam
com bandidos o controle da bandidagem, nem se faz, nem se diz.
A novilíngua
Todo esse esforço
para amenizar o nome tradicional dos crimes lembra um romance clássico
de George Orwell, 1984. Num Estado totalitário, em que os habitantes são
permanentemente monitorados por câmeras, em que até o sexo tem de ser
autorizado, tenta-se mudar o idioma para uma tal Novilíngua, em que
certos conceitos desapareceriam, na falta de palavras para designá-los.
“Liberdade”, por
exemplo, era uma palavra politicamente incorreta. Aqui, em vez de cuidar
da urbanização, saneamento, transporte, passa-se a chamar favela de
“comunidade”, como se isso mudasse alguma coisa. A máfia de larápios que
se entupiu de dinheiro para trair eleitores vira um grupo que “recebeu
propina”. Queremos clareza: ladrão é ladrão.
E, veja, é médico!
Muita gente aqui tem
amigos que de vez em quando viram inimigos mas logo voltam a ser amigos.
Lula sempre tratou Antônio Palocci, coordenador de sua campanha
vitoriosa à Presidência, seu ministro da Fazenda, indicado por ele para
coordenar a campanha de Dilma, imposto por ele para a Casa Civil da nova
presidente, como amigo de fé e irmão camarada, daqueles de se guardar
do lado esquerdo do peito (lado do coração e da carteira).
Agora, caguetado, eis
o que disse do amigo Palocci, que pelo jeito agora é inimigo, para
Sérgio Moro: “É médico, frio, calculista, simulador”. Que é que
significa, na frase, “médico?” Um dia Lula diz “Conheço o Palocci bem.
Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que
a verdade”. “Ele espertamente diz ‘não é que sou santo’, e pau no
Lula”.
Amigos, amigos…
Do lado do
procurador-geral Rodrigo Janot, a surpresa veio de onde ele menos
esperava: de seu colega mais próximo, o procurador Marcelo Miller.
Miller, um dos coordenadores da caguetagem dos dois Batista, demitiu-se
da Procuradoria e começou a trabalhar no escritório de advocacia que
defende os irmãos que dedaram Michel Temer. Não é comum, mas a lei
permite – só que surgiram suspeitas de que Miller já orientava a defesa
dos dois alcaguetes enquanto estava na Procuradoria. A Polícia Federal
tem certeza de que as suspeitas são verdadeiras. Janot obteve a prisão
de Miller.
…negócios à parte
Enquanto cuida da
frente interna, Janot aproveitou seus últimos dias como procurador-geral
(a partir desta semana, o cargo é de Raquel Dodge) para apresentar nova
denúncia ao Supremo contra o presidente Michel Temer e o Quadrilhão do
PMDB; Segundo a denúncia, o grupo, chefiado por Temer, incluía os
ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, mais Eduardo Cunha, Rodrigo
Rocha Loures, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves – estes quatro
já presos. As fraudes em contratos da Caixa, Furnas, Petrobras,
ministérios da Agricultura e da Integração, Secretaria da Aviação Civil e
Câmara dos Deputados atingiriam R$ 587 milhões.
Calma no Brasil
A denúncia será agora
examinada no Supremo. Se aceita, vai à Câmara, que terá de autorizar a
abertura de inquérito. Não é fácil: se 172 deputados votarem contra, ou
simplesmente não aparecerem, o pedido é rejeitado.
A festa do caqui
Joesley foi preso com
um terço nas mãos (os outros dois terços não apareceram). Geddel chorou
(e explicou: teme ser estuprado). Wesley, irmão de Joesley, diz que seu
crime foi virar delator. Foi mesmo. Feio, né?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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