MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

A nova bomba de Kim: chegou a hora agá para ele. Xi vai chiar.


Primeira bomba H testada nas Ilhas Marshall.
Da coluna Mundialista, de Vilma Gryzinski, sobre o novo experimento do tirano Kim Jong-un, que implicará uma resposta inevitável dos Estados Unidos, via ataque militar ou confronto comercial com a China:


Não é bom, de forma geral, acuar a maior potência da história na base da tática do bêbado: comportar-se de maneira tão amalucada que os outros envolvidos preferem contemporizar.
O teste com uma bomba de hidrogênio, comemorado com as habituais risadas maníacas de Kim Jong-un, apressou o o já muito anunciado fim da contemporização.
Restam duas vias. Os Estados Unidos podem apertar a China, o único salva-vidas da Coreia do Norte, via sanções comerciais, com consequências sísmicas para a economia mundial.

Ou desfechar um ataque preventivo com métodos acachapantes, talvez ainda sequer conhecidos, de forma a minimizar o terrível número de vítimas dos dois lados da fronteira que divide as Coreias.
Em caso de via bélica, a grande dúvida é: com ou sem a autorização tácita de Xi Jinpin e da liderança coletiva que ele representa e a quem responde, mesmo tendo acumulado todas as posições de poder.
A resposta depende de outro enigma: depois de décadas manipulando a Coreia do Norte como um elemento radiativo, mas sob controle e a serviço de seus interesses geoestratégicos, a cúpula chinesa agora entende que a ditadura hereditária ficou contaminada demais ou ainda vê utilidade nela?
E mais um: como a China interpreta as múltiplas frentes de fragilidade política de Donald Trump diante de uma oposição que se denomina resistência e de investigações que podem provocar grave paralisia? Como Trump, hoje, enfrentaria o “fator body bag”, os corpos ensacados de militares americanos baseados na Coreia do Sul que seriam alvo prioritário num conflito?

Ameaças de papel

Já foi dito um milhão de vezes que todas as opções são ruins para conter o furor nuclear da Coreia do Norte. Mas a pior de todas, agora, é não fazer nada.
Ou esperar que a diplomacia obtenha resultados a longo prazo. Ao ritmo acelerado do programa nuclear norte-coreano, a longo prazo estaremos todos mortos.
O pior cenário: o jovem Kim acha que vai ser evaporado e desfecha um ataque, as armas convencionais abrem caminho às nucleares, os Estados Unidos incineram o país do mapa, a China se sente existencialmente ameaçada e por aí está formado o holocausto planetário.
Os dois grandes avanços norte-coreanos aconteceram em menos de dois meses. O teste com um míssil de longo alcance, capaz portanto de se aproximar do território americano, foi em 4 de julho. Ontem, foi o teste com uma bomba de hidrogênio, a mais devastadora arma nuclear.
Hoje, o Conselho de Segurança da ONU fez uma reunião de emergência.
Como só é possível esperar mais resoluções condenatórias e advertências de papel, é possível também presumir que o governo americano esteja fazendo uma encenação diplomática: recorrer às instâncias internacionais para deixar claro que vão continuar a tomar medidas retóricas ou aprovar sanções que não resolvem nada.
Sanções efetivas só contra a China, que detém controle praticamente total sobre a sobrevivência econômica da Coreia do Norte.
Mas como sancionar uma economia à qual os Estados Unidos exportaram 115 bilhões de dólares no ano passado e da qual compraram produtos e serviços no valor de 462 bilhões? Que tem 1,4 trilhão em títulos do Tesouro americano?

Ponto zero

A bomba que piora uma situação já em estado de agravamento terminal tem origem em personagens diametralmente opostos e igualmente gigantescos.
A trajetória dos dois homens que criaram as primeira bombas de hidrogênio, Edward Teller nos Estados Unidos e Andrei Sakharov na União Soviética, é quase uma ilustração das ironias da história
“As ideias e as emoções desencadeadas naquele momento não diminuíram até hoje e mudaram totalmente meu modo de pensar”, escreveu Andrei Sakharov, o físico russo que era oficialmente venerado na União Soviética como “pai da bomba H” antes de virar um dissidente, perseguido e humilhado, o que só aumentou sua estatura moral incomparável.

O teste da primeira bomba de hidrogênio em escala de megatons, em novembro de 1955, foi o gatilho que iniciou a transformação de Sakharov.

Num lugar perdido no meio da “espantosa e majestática beleza” da Sibéria, um avião pintado de branco, para refletir a radiação térmica que poderia destruí-lo, soltou a bomba de três megatons. De paraquedas, para proteger o Tu-16 no qual Sakharov queria voar, tão seguro estava de seus cálculos. Não foi autorizado.
A ideia de fazer testes nucleares de superfície em lugares remotos, hoje chocante, ainda era aceitável. Sakharov conta que ficou de costas para o ponto zero da explosão, no laboratório secreto construído perto de um vilarejo. Virou-se quando viu o grande clarão iluminando o prédio e o horizonte.
Os vídeos com as imagens assustadoramente belas e poderosas dos testes nucleares podem ser vistos nas redes. Mas vale acompanhar a descrição do criador da bomba sovieteica.
“Vi uma cegante esfera branco-amarelada se expandir rapidamente, tornar-se alaranjada numa fração de segundo e depois ficar de um vermelho resplandescente e tocar no horizonte”, descreveu Sakharov. “De repente, tudo com obscurecido pela poeira que formava uma enorme e cambiante nuvem cinza-azulada entrecortada por explosões púrpura. Entre a nuvem e a poeira formou-se a haste do cogumelo, maior ainda do que a da primeira explosão termonuclear (em 1953)”.
“Todo aquele espetáculo mágico desdobrou-se em total silêncio.”
Passaram-se vários minutos até Sakharov mandar todos saltarem da plataforma montada para acompanhar o teste à distância. Só o guarda-costas da KGB, que à época ainda não tinha uma relação de brutal hostilidade com o físico, manteve a pose mesmo com a chegada da onda de choque e sofreu alguns ferimentos. No vilarejo próximo, um abrigo improvisado desabou e matou uma bebezinha.

“Passei por toda uma gama de sentimentos contraditórios, talvez o mais forte deles o medo de que esta força recém-desencadeada pudesse escapar ao controle e provocar desastres inimagináveis.”

Doutor Strangelove

Edward Teller não ficou com medo de nada quando viu o cogumelo de Ivy Mike se erguer sobre o atol de Bikini em 1 de novembro de 1952. Ao contrário, sentiu-se compensado pela obsessão com que buscava soluções para um artefato termonuclear, uma espécie de bomba dentro de outra bomba (a fissão ou fratura dos átomos, princípio da bomba clássica, desencadeia a fusão atômica, a mesma força fenomenal que existe no sol) .
O físico húngaro, judeu laico que emigrou por causa das leis anti-semitas, já era praticamente um pária, rejeitado pelos colegas por não reconhecer a contribuição de outros cientistas e pelo temperamento irascível.
Desde a época do Projeto Manhattan, a congregação de 77 dos maiores cientistas do planeta reunidos num laboratório secreto em Los Alamos para fazer uma arma que terminasse a guerra, Teller propunha a “Super”.
Brigou com praticamente todo mundo e foi contra a proposta – rejeitada – de alguns dos colegas, incluindo o chefe do projeto, J. Robert Oppenheimer, de primeiro fazer uma espécie de explosão demonstrativa para o Japão.
Em 1954, prestou depoimento contra Oppenheimer nas audiências que ficaram conhecidas como os processos macarthistas. O curioso é que Opppenheimer realmente tinha pertencido ao Partido Comunista americano e colaborado com os soviéticos.
Todo o Projeto Manhattan estava infiltrado pela espionagem stalinista, do físico alemão Klaus Fuchs ao técnico David Greenglass, que copiava e passava os segredos para a irmã e o cunhado, Ethel e Julius Rosenberg. Como confessou a espionagem em detalhes, escapou da sentença de morte aplicada ao casal.
Teller tornou-se um ardoroso defensor da superioridade nuclear, por seu fator dissuasivo, e do uso, nunca concretizado, de bombas termonucleares em projetos megalomaníacos como a construção de um porto de águas profundas no Alasca.
Foi também um dos inspiradores do cientista maluco chamado Doutor Strangelove no filme de Stanley Kubrick. (“Se me chamar disso mais três vezes, vou te chutar para fora daqui”, disse a um jornalista que insistia na comparação.)

Mil sóis

Curiosamente, propôs o projeto Guerra nas Estrelas, um sistema orbital de interceptação e destruição com raios laser de mísseis no caso de um ataque soviético, ridicularizado por muitos cientistas, mas endossado pelo presidente Ronald Reagan.

O projeto de alguma maneira contribuiu para desencadear uma reação atômica que acabou levando ao fim do comunismo na União Soviética e seus satélites e à própria dissolução do império vermelho.

Andrei Sakharov morreu em dezembro de 1989, dois anos antes de ver o fim do sistema que havia fortalecido com seus excepcionais conhecimentos científicos e enfraquecido com a força do exemplo da resistência pacífica.

De alguma maneira, Sakharov e Teller, os desencadeares da força dos mil sóis, tão parecidos e tão diferentes, se entrelaçaram na vida e na morte.

Todos os cientistas nucleares norte-coreanos foram treinados originalmente na União Soviética. São os conhecimentos lá adquiridos, com a provável cooperação de outro “pai da bomba”, o paquistanês Abdul Khan, e talvez outros colaboradores secretos, que hoje movem a corrida de Kim rumo a um futuro curto.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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