Depois de encerrar uma caravana pelo Nordeste e prestes a iniciar uma nova viagem por Minas Gerais em
pré-campanha eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
ainda vai ter que encarar uma “caravana penal” entre Curitiba e Brasília
para se defender dos processos na Lava Jato e na Zelotes. Além da ação
do tríplex do Guarujá em que já foi condenado, Lula é réu em seis
processos em primeira instância e ainda vai ser interrogado em quatro
deles.
O petista esteve em Curitiba na semana passada para
prestar depoimento pela segunda vez ao juiz federal Sergio Moro no
processo referente ao terreno do Instituto Lula. Dessa vez, a
mobilização de apoiadores foi bem menor em comparação com a primeira, em
maio, quando foi interrogado no processo do tríplex.
Em maio, os
manifestantes pró Lula se reuniram na Praça Santos Andrade, no Centro de
Curitiba, e aguardaram mais de quatro horas e meia para a chegada de
Lula ao palanque montado no local. Dessa vez, a manifestação ocorreu no
Paço da Liberdade – espaço consideravelmente menor – e contou apenas com
um trio elétrico, e não com um palco, para receber Lula.
A mobilização menor
da semana passada foi calculada pelo próprio ex-presidente, segundo a
avaliação do especialista em marketing político e professor de opinião
pública da PUC-PR, Marcos Zablonsky. “O que importa nesse momento é a
visibilidade do discurso, da fala. As narrativas e essas filmagens são
todas guardadas para futura campanha eleitoral”, explica.
“Tem a fala dele, que
estava mobilizado com os senadores, era uma outra configuração. Até
para não desgastar demais e nem criar um ambiente dentro da própria
cidade de polícia. O efetivo da polícia foi bem menor, teve menos
ônibus. Eles configuraram de outra forma esse segundo momento”, analisa.
A tendência, segundo
Zablonsky, é que a mobilização para um futuro interrogatório em
Curitiba, relacionado ao caso do sítio em Atibaia, seja ainda menor e
mais pulverizada. Isso porque os próprios movimentos de apoio ao
ex-presidente podem perder a força. “Eu acho que ela [manifestação]
tende a mudar de configuração. Os movimentos também têm o seu
esgotamento natural, em termos de dinheiro para mobilização, têm outras
estratégias de comunicação”, explica.
Para o especialista, a
estratégia de Lula no âmbito judicial será focada nos advogados de
defesa e em formadores de opinião. “Dependendo da posição, o Lula
resolva fazer [o próximo interrogatório] por videoconferência. Porque
ele desmobiliza também a relevância do juiz, se ele achar que isso é
mais interessante”, explica Zablonsky. Lula teve a opção de ser
interrogado por Moro via videoconferência na semana passada, mas a
defesa do petista negou e preferiu que ele viesse até a capital.
Interrogatórios em Brasília
Dois meses antes de ser interrogado por Moro na Lava Jato, Lula foi ouvido em Brasília em um processo da Lava Jato.
O processo é referente à compra de silêncio do ex-diretor da Petrobras
Nestor Cerveró e o Ministério Público Federal (MPF) pediu recentemente a
absolvição de Lula no caso. Na ocasião, em março, praticamente não
houve mobilização em favor do petista. Apenas cerca de 30 manifestantes
se concentraram em frente à Justiça Federal de Brasília no momento do
interrogatório.
Para Zablonsky, o
fato tende a se repetir nos próximos três interrogatórios de Lula no
Distrito Federal. O motivo: o juiz não é Moro. Não há no imaginário
popular um embate entre Lula e o magistrado de Brasília.
“É um outro
posicionamento. Talvez lá não tenha essa pressão política, esse cenário
que estamos vivendo”, diz. “A mobilização em Brasília vai ser
completamente diferente, até porque está longe do grande centro da
discussão judicial. O centro da discussão judicial está em Curitiba”,
completa Zablonsky.
Os três processos em
Brasília em que Lula ainda não foi ouvido são referentes à Operação
Zelotes. Um deles acusa o ex-presidente de tráfico de influência – ele
teria atuado para liberar verba do BNDES em obra da Odebrecht em Angola.
No outro, Lula é acusado de receber R$ 6 milhões para favorecer
montadoras na edição de medidas provisórias. O terceiro processo é sobre
as negociações que levaram a compra, pelo governo brasileiro, de caças
Gripen da sueca Saab. Lula também é acusado de corrupção e tráfico de
influência.
Os interrogatórios de
Lula em Brasília e o próximo em Curitiba ainda não foram agendados
pelos juízes que conduzem os casos e não têm prazo para acontecer.
O número de “paradas”
na “caravana penal” de Lula ainda pode crescer. Isso porque há duas
denúncias contra o petista que podem ser aceitas pela Justiça a qualquer
momento. Uma delas, no Supremo Tribunal Federal (STF), acusa o
ex-presidente de ser o chefe do “quadrilhão do PT”. Outra, em primeira
instância, acusa Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) de obstrução
de Justiça no caso da tentativa de nomeá-lo ministro da Casa Civil.
Segunda instância
Lula já foi condenado por Moro em primeira instância no caso do tríplex no Guarujá.
Cabe agora ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4) analisar a
sentença do juiz paranaense e selar o futuro político de Lula. Se for
condenado em segunda instância, Lula cai na Lei Ficha Limpa e fica
inelegível em 2018.
Para Zablonsky, a
pressão dos movimentos sociais não vai mudar a decisão dos
desembargadores, mas quanto mais perto das eleições a decisão do TRF4
sair, mais politizada vai ficar a questão. “Se deixar muito para perto
da eleição, cria uma condição de ruptura de um candidato que não poderá
se candidatar. Talvez a pressão política no mês de junho, julho do ano
que vem seja mais complexa e mais difícil de ser resolvida pelo
Judiciário”, diz.
Acompanhe os processos na Gazeta do Povo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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