Além dos ataques terroristas, que não visam ao lucro e são cometidos por fanáticos ideológicos, tornando-se praticamente inevitáveis, o maior problema da segurança pública no mundo é o crime organizado, que consegue dominar o sistema prisional, se infiltra na justiça e até mesmo na política, como se constata na ação das diversas máfias existentes pelo mundo.
EXEMPLO DO JAPÃO – Até agora, o país que obteve maior sucesso no combate ao crime organizado foi o Japão, sem a menor dúvida, e vale a pena conferir como esse fenômeno ocorreu..
No Japão Imperial, havia muitas quadrilhas, mas somente se tornaram poderosas após a Segunda Guerra Mundial, quando o país foi derrotado e a sociedade se desestruturou por completo. O mesmo fenômeno ocorreu em outro aliado do Eixo, a Itália, onde após a Guerra se expandiu a atuação das quadrilhas, que passaram a agir também nos Estados Unidos, onde havia mais riquezas a explorar.
SURGE A YAKUZA – Como ocorre em todas as máfias, o crime organizado no Japão era formado por diversas famílias rivais. Depois da Segunda Grande Guerra, porém, o sanguinário líder Yoshio Kodama conseguiu unir todas as facções japonesas e surgiu assim a poderosa Yakuza. Detalhe: o chefão Kodama era de extrema direita e começou a patrocinar o Partido Democrático Liberal japonês, para se infiltrar na política.
A organização criminosa japonesa tinha rígidas normas internas e punia os dissidentes com a morte ou com mutilações. Desde o final da década de 50, o governo de Tóquio tentou dificultar o crime organizado, restringindo a venda de armas, mas não adiantou nada e a Yakuza foi ganhando projeção na política japonesa, com uma atuação que culminou no escândalo envolvendo a indústria aeronáutica Lockheed em 1976, quando se descobriu que, com intermédio da Yakuza, a empresa norte-americana pagou mais de US$ 3 milhões para subornar o primeiro-ministro Kakuei Tanaka.
LEIS MAIS RÍGIDAS – Para conter a Yakuza, foram aprovadas leis penais cada vez mais rígidas e o sistema carcerário no Japão se tornou tão implacável que a organização criminosa teve de ceder. Suas práticas foram se modificando, passou a atuar de forma menos acintosa no Japão, explorando prostituição, filmes pornográficos, inclusive de pedofilia, agiotagem, corrupção e outras atividades ilícitas.
A Yakuza não morreu, mas ficou sob controle. Ainda é tão poderosa que chega a surpreender. No grande tsunami de 2011, por exemplo, a organização criminosa respondeu à crise com mais eficiência do que o governo japonês, ao fornecer comida, água potável, cobertores e outros suprimentos aos moradores de algumas das regiões devastadas.
CRIME EXPORTADO – Hoje, a Yakuza atua mais agressivamente em vários países europeus e nos Estados Unidos, porque no Japão não tem como prosperar. A segurança pública no país está totalmente sob controle, apesar de a força policial ter menos de 300 mil homens, para uma população de 127 milhões de habitantes.
Enquanto a maior parte dos países do mundo militariza suas polícias, como os Estados Unidos, o Japão segue caminho inverso, desarma os policiais e consegue uma das menores taxas de crimes. Em 2014, por exemplo, houve no país apenas seis homicídios, enquanto nos Estados Unidos ocorreram quase 12 mil mortes com armas de fogo.
Mas qual é a diferença? Nos Estados Unidos, a venda de armas de fogo é liberada; no Japão, é a maior dificuldade, porque armas portáteis são proibidas. Apenas espingardas de caça e os rifles de ar comprimido podem ser vendidos, sob rigorosas normas.
TUDO SOB CONTROLE – O fato concreto, sem contestação, é que a segurança pública está sob controle e os policiais japoneses dificilmente andam armados. No entanto, todos são exímios praticantes de artes marciais e devem obter faixa preta do judô.
A comparação com o Brasil chega a ser patética. Em 2015, a polícia japonesa disparou apenas seis tiros em todo o país. Os policiais jamais andam armados nas folgas e deixam as armas na delegacia quando terminam o dia de trabalho.
Diante dessa realidade, a máfia Yakuza hoje opera muito mais no exterior do que no Japão, onde seus crimes caíram expressivamente nos últimos 15 anos. Enquanto isso, no Brasil…
Nenhum comentário:
Postar um comentário